Será? Não sei. Mas há qualquer coisa que, há muito, não faz sentido. Nós somos como somos, insulanos, com uma história de centenas de anos, duros por múltiplos factores, é verdade, mas isso não obriga que hoje, alguns, sobretudo políticos, sintam a necessidade de colocar-se em bicos de pés para que sejamos notados no contexto do país. Primeiro, foi aquela treta do "povo superior" com um estendal de interpretações possíveis e, volta-e-meia, é que a Madeira foi "pioneira" nisto ou naquilo. Agora na "causa animal" e até com o raio da vacina da AstraZeneca li que os madeirenses foram "pioneiros" a de novo inocular com a marca do laboratório de Oxford. Curiosamente, o governo dos Açores também enaltece que a sua Região foi a primeira! Em qualquer dos casos deve ter sido pela diferença horária! Só pode.
Não fazem sentido preocupações desta natureza. Percebo a intenção política, mas é desastroso, quando, por ninharias saltam para cima de um estrado, de dedo no ar, para gritar ao pequeno mundo que nós somos um porta-estandarte de qualquer coisa!
Outrossim, enquanto Região Autónoma, ficaria satisfeito se batêssemos, pela positiva, os arrepiantes números da pobreza, batêssemos pela positiva as preocupantes taxas de abandono e de insucesso escolar, o sistema de saúde não tivesse mácula, fosse de excelência a resposta na capacidade profissional na generalidade dos sectores de actividade, todo o desempenho económico fosse caso de estudo, os níveis de remuneração fossem melhores, os níveis de empregabilidade (em situação não pandémica) causassem espanto, as contas públicas estivessem equilibradas e não em permanente derrapagem, os níveis culturais, onde se inclui a prática física, fossem distintivos, a aposta singular na ciência e nas artes fosse surpreendente, enfim, se, relativamente aos outros, batêssemos, mesmo por pouco, os índices de bem-estar e o "índice de felicidade", embora subjectivo, porque é multidimensional, de qualquer forma fossem melhores que o restante país, aí, sim, ficaria feliz. Por ninharias, não.
Ora, grosso modo, estamos longe de demonstrar qualquer superioridade. Infelizmente, somos, em análise genérica, pobres, assimétricos e muito dependentes. Ademais, tal como, ainda hoje, o secretário de Estado da Saúde enalteceu: "isto não é (não pode ser) um ranking de regiões, nem uma disputa, é uma luta da humanidade". Falava da pandemia, é certo, mas esta frase, digo eu, pelo menos em parte, pode aplicar-se a tudo o resto. E se assim me situo é porque, até no plano individual, julgo que é mais sério, sensato e humilde que os outros, as instituições, olhem e assumam, livremente, a qualidade do trabalho realizado. Subir para cima da carroça e pregar parece-me imodesto pela presunção que transporta. Já bastam as campanhas eleitorais. Li, algures, que "todo o acto de superioridade revela a inferioridade de quem o pratica". Concordo.
Ilustração: Google Imagens.
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