Jorge Rocha,
in Blog Ventos Semeados,
25/03/2021
Em pelo menos dois dos jornais hoje lidos e publicados encontrei a expressão «truculento» para designar o ministro Pedro Nuno Santos a propósito da ida a uma comissão parlamentar para testemunhar a respeito dos problemas por que passa a Groundforce.
Na escolha da expressão há o intento de depreciar, de desvalorizar. Algo do género: não o levem muito a sério, porque ele é como é.
E por isso o «jornalista», que se responsabilizou pelo «Expresso Curto» pedia que lhe explicassem muito devagarinho onde estava o problema. Aparentemente não sendo loiro, Filipe Garcia comportava-se enquanto tal se nos ativermos aos estereótipos das anedotas sobre a referida cor do cabelo. E, no entanto, o que Pedro Nuno Santos informou no parlamento foi de liminar clareza: o governo PSD/CDS decidiu entregar a Groundforce a Alfredo Casimiro naquela dinâmica de privatizações, que tanto entusiasmava Passos Coelho, Vítor Gaspar, Paulo Portas, Carlos Moedas ou Maria Luís Albuquerque e arranjou-lhe forma de lhe dar um autêntico negócio da China: primeiro financiaram-no em 7,6 milhões de euros para, depois, e quando o «esplendoroso» governo da troika já via o anunciado fim no horizonte, ele adquiriu a empresa por 3,6 milhões de euros. Razão porque Pedro Nuno Santos deixou sem resposta o desalentado deputado centrista, que se julgava capaz de o pôr em xeque, ao perguntar-lhe: “Quem não gostaria de fazer um negócio destes?”
No Observador a «insuspeita» Helena Garrido constatava que aqui estava um eloquente exemplo de favorecimento a um “capitalista sem capital” (ver aqui) , ao mesmo tempo que o não menos «inquestionável» Manuel Carvalho, no Público, (ver aqui), considerava o caso como demonstrativo de “no esplendoroso mundo do capitalismo pátrio, o mérito, o esforço, a frugalidade ou a transparência sempre valeram menos do que a esperteza que mantém portas sempre abertas no Terreiro do Paço.“ Só se esqueceu de dizer que isso foi obviamente verdadeiro enquanto o governo apadrinhado pelo «amordaçado» de Boliqueime estava a desnortear o rumo do país.
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