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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

CRESCE A INTOLERÂNCIA E NINGUÉM APRENDE COM O PASSADO

Não aprenderam nada com o que aconteceu na Assembleia Legislativa da Madeira na sequência da história da bandeira nazi, isto é, com o impedimento, por seguranças contratualizados, de acesso de um Deputado às respectivas instalações. Ninguém está a aprender com o crescendo de situações de violência no decorrer das inaugurações de obras públicas. Ninguém quer ver o problema que está a ser criado. Há uma cegueira quase total. São os discursos provocadores, é a desvalorização e aviltamento das forças de segurança, é o reforço através de empresas de segurança privada, é a ordem dada para a mostragem de cartazes ("abram os cartazes que eu estou mandando. Sou eu que estou a mandar. Senhor guarda, não chateie ninguém"), é o impedimento de acesso de alguns cidadãos e políticos aos locais públicos, foi a agressão a soco a um Deputado, enfim, estou muito apreensivo com os próximos desenvolvimentos.
É que se repararmos, as novas situações criadas são mais graves que as anteriores. Não tarda e teremos dois blocos formados: os a favor e os contra. Parece-me absolutamente natural que isso venha a acontecer, quando se sabe, por um lado, que há muita gente desesperada e que nada tem a perder e, do outro, há muita gente defensora do sistema que lidera a Região. Mal comparadamente, ao escrever estas linhas, ocorre-me o que aprendi nas matas da Guiné-Bissau, que meia-dúzia de descontentes mas interpretando o sentimento de muitos, colocavam um batalhão aos tiros. E não levou muito tempo toda a Guiné era teatro operacional. Repito, mal comparadamente, mas quem me lê percebe que o que quero transmitir é o sentimento de insegurança, de madeirenses contra madeirenses, de violência gratuita, de instabilidade e de medo. Ao ver as imagens de ontem, confesso, fez-se silêncio e tive medo. Não é por aqui que se ganha a batalha do nosso futuro colectivo. Não é governando como se quer e entende, discursando com palavras azedas e de permanente ofensa, espezinhando, atiçando, controlando tudo e todos que se coloca a Região na estrada do progresso. Estas causas, aliás, como aqui já escrevi, só podem gerar uma oposição de contraponto violento. Não aceito nem uma nem outra, porque a tolerância, o bom senso, o respeito pelos outros, a vida, vivência e convivência democráticas têm de estar acima desta forma reles de fazer política.
É evidente que o Povo tem a solução nas mãos. O Povo, através de uma pequena cruz no boletim de voto, em teoria, tem o todo o poder para resolver a situação. Mas este Povo, por enquanto, prefere carregar a Cruz, prefere ficar curvado ao jeito do baile pesado a dizer basta, chega, é tempo de mudar. Mas como chegar a esse Povo, a essa Madeira real, fazê-lo entender que não há insubstituíveis, que esses estão todos em S. Martinho e em outros espaços, que a Região já existe há mais de 500 anos e nunca parou nem vai parar, quando se conhece os vários indicadores estatísticos que provam a fragilidade desse mesmo Povo, as suas carências culturais e políticas, as suas dependências e o estado de pobreza em que se encontra. Como é possível o exercício da mudança de refrescamento político quando os dinheiros públicos (veja-se, entre outros, os suplementos de jornal publicados em louvor de um só partido, as dádivas em blocos, cimento, ferro, areia e tintas, os favores) são muitas vezes empregues em obras que nada têm a ver com a construção do Homem feliz agente da construção do seu próprio futuro!
Ninguém deveria ficar de braços cruzados, ninguém deveria ficar calado perante a gravidade das situações que estão a acontecer, ninguém deveria acomodar-se baseando-se no princípio que o problema não é seu. A própria Igreja Católica que conhece melhor que ninguém este Povo que anda a passar muito mal, deveria constituir-se como a principal voz dos que não têm voz. Lamento, profundamente, quando olho para a Palavra e contextualizo-a com a realidade.
Impõe-se uma séria reflexão, porque o problema é de cada um de nós, porque fazemos parte desta terra que amamos.
Nota:
Acabo de ouvir o Delegado, na Madeira, da CNE, Juiz Paulo Barreto. Disse: "não há asfixia democrática (...) mas excesso de liberdade na Madeira". Estou indignado. Esta declaração só pode ser considerada como um momento menos feliz. Há situações que o melhor é o silêncio. Porque tudo o que por aqui se passa deve ser contextualizado à luz da História. Só o estudo das causas mais profundas pode proporcionar uma análise mais fina das consequências. O Juíz Paulo Barreto não fez essa análise. Nem tinha que a fazer, enquanto Delegado e figura independente. Num aspecto estou de acordo com o Delegado da CNE: situações daquelas envergonham qualquer pessoa.

4 comentários:

Anónimo disse...

O poder absoluto, despótico e ditatorial do presidente dos madeirenses foi ontem mais uma vez comprovado. De facto, aquilo que o presidente pretendia, a justiça pelas próprias mãos foi ontem concretizado, usando de forma ridícula, a ignorância de populares que a troco de míseros euros fazem a democracia estar de luto.

Anónimo disse...

O que é estranho é a atitude do Delegado da CNE, dr. barreto.

Andesman disse...

Como na Trova do Vento Que Passa, de Manuel Alegre: ..."E a quem gosta de ter amos/vi sempre os ombros curvados". Há demasiada gente que se curva perante tanta prepotência.

André Escórcio disse...

Obrigado pelos comentários.
Concordo e pergunto, por onde andam o Ministro da Administração Interna e o próprio Presidente da República?