Adsense

domingo, 11 de outubro de 2009

A FAMÍLIA EM PRIMEIRO LUGAR (I)

Rigorosamente nada de novo, apenas a confirmação do que há muito se sabe. O que não deixa de ser relevante o facto da jornalista Ana Luísa Correia (DN) ter trazido à colação um problema de extrema complexidade e que a todos deveria preocupar. Salienta a peça jornalística que a maioria dos 3500 adolescentes seguidos pelo Serviço de Atendimento ao Jovem apresentam disfunções familiares. E adianta: "(...) ao contrário do que se possa pensar sobre as pretensas preocupções dos adolescentes (a sexualidade, as saídas à noite, os namoros e a aceitação do grupo), a verdade é que "muitas vezes, o problema dos jovens passa pelo facto dos pais não terem tempo para eles". Não há refeições em família, não há tempo passado em conjunto nem actividades partilhadas por todos os membros do agregado. "As pessoas dispersam-se e isso é um erro", acrescenta. O erro, aliás, não passa despercebido a muitos jovens que acabam por se sentir perdidos, ao 'Deus dará' e que se queixam mesmo" do pouco tempo que passam com os pais, da falta de amor e de diálogo" ao mesmo tempo em que têm de aprender a viver numa sociedade onde imperam as pressões sociais e a competitividade".
Ora bem, num dos últimos dias aqui escrevi sobre a sociedade que estamos a criar. Uma sociedade desumanizada, angustiada, de muito pouca estabilidade no emprego, em que todos correrm não se sabe bem para onde, uma sociedade desorganizada no seu funcionamento, desrespitadora do equilíbrio entre os tempos de trabalho, os lazer e os de estudo, muito pobre na defesa de princípios e de valores, distorcida na mentalidade, uma sociedade do ter antes do ser, uma sociedade de pendor consumista, uma sociedade que não pensa nas gerações seguintes apenas quer safar-se antes que se faça tarde. Uma sociedade que obriga a trabalhar mais e mais, a consumir horas em claro prejuízo de outras importantes funções que a organização familiar carece. Enchem-se uns à custa de uma tal pressuposta competitividade, em prejuízo de muitos e do País em geral. No centro de tudo isto, a Escola, enquanto sistema, permanece redutora, maximizada (não é por mero acaso que sou contra as escolas a tempo inteiro), num autêntico desastre organizacional, curricular e programático, sem interesse, muito pouco apelativa e sem horizontes definidos. Complementarmente, oiço os políticos que por aí andam a liderar estes processos: temos o melhor rácio disto e daquilo, temos o melhor número de computadores por aluno, temos a melhor média de alunos por sala de aula, temos a melhor média de alunos por professor e, afinal, só não assumem as razões que levam a que tenhamos os piores resultados nacionais. Não dizem porque não lhes serve. É assim no sistema educativo, é assim também, no sistema social e de valores.
Há gente com responsabilidades políticas que não sabe o que anda a fazer. O trabalho da citada jornalista, para quem pensa a sociedade, coloca em destaque a "falta de valores, de afecto e de diálogo". Isto é terrível porque apenas conduz ao desajustamento dos mais frágeis e é, por isso, "um retrato que resume numa única frase os mais de 3.500 jovens da Região, com idades compreendidas entre os 12 e os 21 anos, que estão inscritos no Serviço de Atendimento ao Jovem (SAJ) do Centro de Saúde do Bom Jesus". E a tendência será para piorar, com o aumento da pobreza, o crescente desemprego, as angústias vividas no seio das famílias, ao mesmo tempo que parece crescer, entre os mais abastados, a ausência de valores e de redobrados cuidados na formação dos filhos. Voltarei a este inesgotável assunto.
Fotos: Google imagens.

Sem comentários: