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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ENTRE FIGURAS ÍNTEGRAS E POLÍTICOS TRAVESTIDOS


A 11 de Agosto de 2012 escrevi um texto sobre os 50 anos de sacerdócio do Padre Martins Junior. Entretanto, passaram-se mais três anos e o Bispo António Carrilho, nomeado para a Diocese do Funchal a 8 de Março de 2007, há oito anos, continua em um ensurdecedor silêncio sobre a vergonhosa suspensão "ad Divinis" do Padre Martins, história muito bem desenvolvida e documentada no livro "Olhares múltiplos sobre um Homem de Causas". Uma suspensão que conta já com quase 40 longos anos. Nem o julgam em Tribunal Eclesiástico nem lhe pedem públicas desculpas pela situação criada que não abona, rigorosamente nada, a favor da Igreja de Cristo. 


Foi o Bispo Francisco Santana que o suspendeu. Por vingança política, sabe-se hoje. Um Bispo mais político e de perfil ideológico que o próprio PPD-Madeira da altura. Em um texto do Dr. Gregório Gouveia, no qual faz a resenha dos acontecimentos, li: "(...) As homilias de D. Francisco Santana promoveram mais polémica política separatista do que, propriamente, a divulgação dos ensinamenros de fé da Igreja Católica Apostólica Romana. Na mensagem de Ano Novo de 1975 foi peremptório ao questionar: “o povo madeirense, agitado durante este último ano por aventureiros manipulados contra a vontade do Povo, estará condenado a ser uma província do novo «ultramar português», para ficar reduzido a uma colónia que pouco ou nada conta para a Mãe Pátria, a não ser para lhe fornecer muito do seu sangue e trabalho?" Neste contexto, o Padre Martins Junior era um homem a abater, pela postura que evidenciava. Francisco Santana perseguiu-o, salienta Gregório Gouveia: "(...) A acção política do padre Martins levou o Bispo, em 5 de Novembro de 1974, a intimá-lo a entregar a chave da Igreja da Ribeira Seca, onde era pároco. Mandou polícias cercarem a igreja durante 18 dias. Os paroquianos não cederam, nem concordaram com a ordem do Bispo. Uma manifestação junto do Paço Episcopal foi a forma mais visível de apoio ao pároco. Francisco Santana não hesita em suspender o padre Martins "ad Divinis" (...)".
E assim a Diocese mantém a situação. O Povo da Ribeira Seca continua de mãos dadas com o Padre Martins, porque intuiu que "o sangue do padre é o povo". Do lado da hierarquia, Francisco Santana há muito faleceu, sucedeu-lhe o Bispo Teodoro Faria e o Bispo António Cavaco Carrilho. E vergonhosa suspensão continua. Repito, nem o julgam nem lhe pedem perdão. Será que o Papa Francisco conhece esta pouca-vergonha?
Em Agosto de 2011, (aqui) o Padre Martins concedeu uma entrevista ao DIÁRIO onde foi muito claro: "(...) Que amarras estão a segurar essa revogação da suspensão? Tenho estado calado durante cinco anos. Prometi-lhe que nunca levaria a comunicação social lá [ao Paço Episcopal] como ele me pediu. Pediu-me que não fizesse declarações públicas. Cumpri escrupulosamente. Terminou o interregno. Acabou-se. Agora vou falar. Esta Igreja que me fez sentar no banco dos réus, num processo que é só do foro eclesiástico. Esta Igreja que pede ao poder político para me sentar no banco dos réus. Ninguém pode servir a dois Senhores. Ou se serve a Cristo ou se serve o Poder. A Igreja é sempre aliada do Poder vigente, mormente na Madeira. Há alguma dúvida? Disse-o ao Sr. Bispo numa das muitas conversas que tenho tido no Paço Episcopal. Disse-lhe uma vez 'Já estou cansado de conhecer estas pedrinhas' [alusão ao empedrado do Paço Episcopal]. Mas, não ata nem desata, não se chega a nada. A população já me disse 'não vá lá mais, não é preciso, não precisamos nada disso para nos salvarmos. Qual é a solução? É a revogação do despacho de D. Francisco Santana ou um julgamento através do Tribunal Eclesiástico? A solução é que me julguem. O Tribunal Eclesiástico é a sede própria. Digam qual foi o meu crime. Fui retirado da Ribeira Seca pelo Sr Bispo Dom Francisco Santana. Digo Dom em tom de ultraje, mesmo para enxovalhar. Um Bispo chamar-se Dom, francamente. São representantes de Cristo mas arrogam-se. Querem ser reis. (...)"
Sinto uma profunda tristeza pelo comportamento de algumas figuras que deveriam ser ÍNTEGRAS. E não são. São políticos travestidos. Lamento.
Ilustração: Google Imagens.

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