O ciclo da violência doméstica caracteriza-se pela sua continuidade no tempo, isto é, pela sua repetição sucessiva ao longo de meses ou anos, podendo ser cada vez menores as fases da tensão e de apaziguamento e cada vez maior e mais intensa a fase do ataque violento.
A violência doméstica é um dos sinais de uma sociedade profundamente doente. Uma média de 40 homicídios por ano, mais de três por mês, constitui um quadro horrível, arrepiante e dramático. Se olharmos para os dados dos Tribunais, das sentenças transitadas em julgado, verifica-se que, nos últimos três anos, verificaram-se 42 homicídios, em 2007, 36 em 2008, 43 em 2009. Em 2010, outras 43, segundo a comunicação social, perderam a vida às mãos de assassinos. O que dizer desta situação?
É evidente que se trata de um problema universal. Li, há dias que, só no Brasil, A UNICEF estima que, diariamente, 18.000 crianças e adolescentes sejam espancados. Muitos morrem. Nos adultos, a situação, um pouco por todo o lado, constrange, desde a violência verbal, a violência física à violência psicológica.
"A violência doméstica funciona como um sistema circular – o chamado ciclo da violência doméstica – que apresenta, regra geral, três fases:
1. Fase de aumento da tensão: as tensões quotidianas acumuladas pelo/a agressor/a que este/a não sabe/consegue resolver, criam um ambiente de perigo iminente para a vítima que é, muitas vezes, culpabilizada por tais tensões. Sob qualquer pretexto o/a agressor/a direcciona todas as suas tensões sobre a vítima. E os pretextos, que podem ser muito simples, são usualmente situações do quotidiano, como exemplo, acusar a vítima de não ter cozinhado ou cozinhado com sal a mais, de ter chegado tarde a casa ou a um encontro, de ter amantes, etc.
2. Fase do ataque violento: o/a agressor/a maltrata, física e psicologicamente a vítima (homem ou mulher), que procura defender-se, esperando que o/a agressor/a pare e não avance com mais violência. Este ataque pode ser de grande intensidade, podendo a vítima por vezes ficar em estando bastante grave, necessitando de tratamento médico, ao qual o/a agressor/a nem sempre lhe dá acesso imediato.
3. Fase do apaziguamento ou da lua-de-mel: o/a agressor/a, depois da tensão ter sido direccionada sobre a vítima, sob a forma de violência, manifesta-lhe arrependimento e promete que não vai voltar a ser violento/a.
Pode invocar motivos para que a vítima desculpabilize o comportamento violento, como por exemplo, ter corrido mal o dia, ter-se embriagado ou consumido drogas; pode ainda invocar o comportamento da vítima como motivo para o seu descontrolo. Para reforçar o seu pedido de desculpas pode tratá-la(o) com delicadeza e tentar seduzi-la(o), fazendo-a(o) acreditar que, de facto, foi essa a última vez que ele/a se descontrolou.
Este ciclo é vivido pela vítima numa constante de medo, esperança e amor. Medo, em virtude da violência de que é alvo; esperança, porque acredita no arrependimento e nos pedidos de desculpa que têm lugar depois da violência; amor, porque apesar da violência, podem existir momentos positivos no relacionamento.
O ciclo da violência doméstica caracteriza-se pela sua continuidade no tempo, isto é, pela sua repetição sucessiva ao longo de meses ou anos, podendo ser cada vez menores as fases da tensão e de apaziguamento e cada vez maior e mais intensa a fase do ataque violento. Em situações limite, o culminar destes episódios poderá ser o homicídio".
Gostava de saber e que fossem públicos os números específicos na Região da Madeira no quadro da violência doméstica. E que a estes números juntassem os suicídios e outros homicídios. Estou certo que, especificamente aqui, temos uma sociedade muito doente. Mas muito pouco se fala disso. Não compreendo, ou, se calhar, compreendo!
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Caro André
Posso lhe garantir que a violência doméstica na Madeira é uma realidade assustadora. Mas há outra violência que me preocupa mais de perto, até porque sou membro da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo do Funchal, é a negligência a que é condenada tanta criança e adolescente nesta nossa cidade. Esses números eu tenho e não são "secretos". Como sabe, os maiores parceiros da Comossão de Proteção são os professores. No entanto, também nesta área, muitos destes seus colegas deixam as crianças ficarem mal. Na semana passada veio um professor falar comigo porque numa escola do Funchal suspeitavam que uma aluna tinha sido violada. Para espanto deste professor sério e responsável, os comentários dos seus colegas na reunião qem que debateram o que fazer andaram à volta de "ela também não é boa da cabeça..."; "Elas provocam...." e "não temos nada a ver com o que se passa fora da escola...", a conclusão é que não deveriam comunicar às entidades competentes para que o caso fosse averiguado. Arrepiante. A montante temos familias irresponsáveis e professores que não se querem "chatear" e que impedem que os (muitos) bons professores possam trabalhar e ajudar os jovens e a jusante temos a CMF que não tem dinheiro para apoiar a Comissão. Vamos trabalhando voluntariamente para tentar salvar uma ou outra criança, quando temos a certeza que não nos chega às mãos nem um infima parte das que precisam de ajuda e mesmo que chegassem não haveria forma de ajudá-los. É isto que estamos a contruir: uma nova geração castigada pelo alcoolismo dos pais, pela violência doméstica e pela desreponsabilização das instituições. Que futuro podesmos esperar?
Abraço
Paulo
Obrigado pelo seu oportuno comentário.
Permita-me que coloque este comentário em destaque neste meu blogue. Trata-se de matéria muito importante.
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