"Madeira, levanta-te e anda. Ergue-te sem o chapéu na mão e encima-o, de peito cheio na tua cabeça. Liberta os olhos do chão e avança perante aqueles que sobre ti se arrogam. Não te vergues aos ingratos filhos que sangram o teu ventre. Esses apenas se alimentam do egoísmo e da fome dos seus irmãos (...)"
Um jardim no Amparo e uma praça central em Santana eis as grandes decisões de ontem do Conselho de Governo. Obras que não deveriam ter outra dimensão que não a autárquica, acabam por ser assumidas pelo governo. Politicamente, este facto diz bem a que ponto o governo chegou. Fica a ideia de andar por aí a "rapar o tacho", isto é, quando já são escassas as possibilidades de investimentos de alguma visibilidade e interesse, o governo, naquela ânsia de procurar "obra", ultrapassa o princípio da subsidiariedade e assume trabalhos que a outros deveria pertencer.
Mas estas decisões do Conselho de Governo arrastam consigo outras leituras muito mais preocupantes, desde logo um claro afastamento relativamente às medidas que todos aguardam, salvadoras da economia, potenciadoras de postos de trabalho e de combate à pobreza. Para o governo estes aspectos passam ao largo, como se fossem de somenos importância ou como se não existissem. Quando se assiste à falência do processo político, quando há fortes indícios de deslocamento de volumosos capitais para fora da Região, quando o empobrecimento do tecido empresarial cresce a olhos vistos, quando a desertificação e a paralisação da economia está a atingir toda a Região, o governo anuncia um jardim e uma praça em Santana.
Se há muito sinto que a Região resvala dia-a-dia, estas duas últimas semanas tornaram-se muito preocupantes quando os sinais que são dados à população demonstram total incapacidade administrativa, gestionária e de pensamento acerca do futuro. A Madeira afunda-se e o mentor desta tragédia continua a colocar o drama, o seu próprio drama, no exterior. Salvo a diferença de contextos políticos, quando oiço Kadafi a sacudir as suas responsabilidades para cima da Al-Qaeda encontro semelhanças no que concerne à longevidade no poder. Quando por lá se anda muito tempo, tendencialmente, as personagens políticas perdem o sentido da realidade e o amor ao poder torna-se muito mais forte do que a racionalidade.
Por isso mesmo apreciei, hoje, o artigo de opinião do Doutor Hélder Spínola, publicado na edição do DN: "Madeira, levanta-te e anda. Ergue-te sem o chapéu na mão e encima-o, de peito cheio na tua cabeça. Liberta os olhos do chão e avança perante aqueles que sobre ti se arrogam. Não te vergues aos ingratos filhos que sangram o teu ventre. Esses apenas se alimentam do egoísmo e da fome dos seus irmãos (...)". Um texto que vale a pena seguir com o sentimento da triste realidade que estão a construir.
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Acha mesmo que é obra?
Já não se chega aí. Não há dinheiro para isso.
Neste momento, os "ratos", prevendo o afundamento do barco querem mesmo é ... projectos.
Aterro? Qual aterro? Quase dois milhões num "projecto".
Hospital? Que hospital. Mais uns milhões num... novo projecto.
Jardins e praças, idem...
E quem são os projectistas?
Filhos, antigos poderosos e PRIMAS...
Disfarçadas - por associação - com uma ou outra empresa de vão-de-escada do contnente.
Ou seja, o rapar do tacho por familiares dos que sairam há tempos e dos que lá estão, mas já a prever saida para breve.
Obrigado pelo seu comentário.
Sem palavras...
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