Estou em crer que o PSD não quer resolver esse problema de "dignidade" do Parlamento que consta do Artigo 9º A. E não quer porque aquela é uma "casa de loucos" (disse-o o presidente do governo), o Parlamento existe apenas para legitimar a existência da própria Autonomia (órgãos de governo próprio) e perante o que não existe enquanto instituição fiscalizadora dos actos do governo, ele fica só para ditar as suas regras. Depois, se sempre foi assim e o povo lhe deu a vitória, perguntará o PSD, existirão razões para qualquer mudança?

O que julgo importante salientar não são as consequências (o facto de ontem), mas as causas que justificam(?) tais actos. Essa análise é que se me afigura mais importante. É porque só erradicando as causas é que, obviamente, casos congéneres, tendencialmente, deixarão de existir. E a pergunta, parece-me ser esta: afinal, quais são as causas? Eu diria que são múltiplas. Desde logo, o baixo nível a que o Parlamento chegou, decorre de todos os constrangimentos criados pelo PSD-M, pelo governo e pelo mentor de toda a engrenagem montada, ao longo de trinta e tal anos. Temos hoje uma sociedade capturada, espezinhada, subtilmente controlada, vergada pelo peso de um poder absoluto que não permite, sequer, a existência de "válvulas de escape". No Parlamento, matam-se os debates de política geral e sectorial, o presidente do governo não comparece e não apresenta contas da sua actividade, as audições dos governantes são reduzidas ao mínimo dos mínimos, mascaram-se as Comissões de Inquérito, todas as propostas da oposição são chumbadas e o Regimento é alterado sempre que dá jeito. Perante um quadro destes, ao qual se junta a forma deselegante, por vezes indigna, como o presidente do governo se dirige a todos, parece-me óbvio que, eliminando estas causas centrais, o Parlamento, certamente, será outro. Nos Açores o respeito pela Assembleia existe, na República, nem pensar a existência de situações como aquelas que temos por aqui vivido.
Está, portanto, em causa a REFORMA DO PARLAMENTO e a REFORMA DOS COMPORTAMENTOS POLÍTICOS de quem anda a governar há três décadas. Se isso não acontecer é claro que as cenas, algumas desprestigiantes, não deixarão de acontecer. Não faz qualquer sentido colocar no Regimento as "regras de conduta dos deputados", quando a situação criada conduz, inevitavelmente, ao desrespeito dos Artigos 9º A e 9ª B do Regimento em vigor. Não tem cabimento invocar as regras quando o próprio PSD as infringe. A "dignidade" do Parlamento, o "respeito mútuo", os "valores definidos na Constituição da República" visando o tal "bom andamento dos trabalhos" só terá eco quando o que se encontra para trás for resolvido.
Estou em crer que o PSD não quer resolver esse problema de "dignidade" do Parlamento que consta do Artigo 9º A. E não quer porque aquela é uma "casa de loucos" (disse-o o presidente do governo), o Parlamento existe apenas para legitimar a existência da própria Autonomia (órgãos de governo próprio) e perante o que não existe enquanto instituição fiscalizadora dos actos do governo, ele fica só para ditar as suas regras. Depois, se sempre foi assim e o povo lhe deu a vitória, perguntará o PSD, existirão razões para qualquer mudança?
Nem o Presidente da República alguma vez dirigiu uma mensagem. Nem o Presidente da República, perante tantos casos, tomou uma posição e lembro que, até na sua visita oficial à Madeira, em vez de receber os grupos parlamentares na Assembleia Legislativa da Madeira, recebeu-os em um quarto de hotel. Portanto, só com uma mudança em Outubro poderemos aspirar a uma mudança nos comportamentos.
Ilustração: Google Imagens.
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