"(...) O povo, o nosso povo, é simples e corre pelo bem. É um povo festeiro, alegre e aproveita o mais que pode todos os momentos onde a festa, a borla e a música são ingredientes seguros para seduzir. O pão e o circo sempre foram um meio muito utilizado para cativar o povo ou dominá-lo pela embriaguez da alegria e do enfartamento de que tudo é fácil. Estas frivolidades sempre foram utilizadas pelos poderes que desejam perpetuar-se no tempo".
Se não for desta não sei quando será. Com um poder regional degradado, politicamente estrábico e com as cataratas próprias da idade, que não consegue ver com nitidez a realidade que o cerca, com um povo humilde a Valium 10 há muitos anos, com efeitos colaterais de óbvia sonolência, mas também de tonteiras, prejuízo na memória, fadiga, etc. etc., repito, apesar disso, se não for agora, pergunto, quando despertará desta letargia, desta preguiça e indiferença mórbida? Há aqui um certo masoquismo, uma tendência para o sofrimento, neste caso político, um certo prazer com a humilhação verbal protagonizada por aqueles que há 35 anos impõem as regras de um jogo de cabra-cega, onde uns, de olhos bem abertos, vendaram os olhos dos demais que, nem aos apalpões lá chegam. E se assim não é, questiono, como justificar uma primeira sondagem que lhe atribui uma nova maioria absoluta?
Olha-se em redor e observa-se um quadro de caos económico-financeiro, de desemprego e de pobreza e o povo, carregando a "cruz" como lhe ensinaram, não consegue libertar-se. Bem sublinha o Padre José Luis no seu artigo de opinião publicado na edição de hoje do DN: "(...) O povo, o nosso povo, é simples e corre pelo bem. É um povo festeiro, alegre e aproveita o mais que pode todos os momentos onde a festa, a borla e a música são ingredientes seguros para seduzir. O pão e o circo sempre foram um meio muito utilizado para cativar o povo ou dominá-lo pela embriaguez da alegria e do enfartamento de que tudo é fácil. Estas frivolidades sempre foram utilizadas pelos poderes que desejam perpetuar-se no tempo". É isso, o Valium 10 e a sedução que os leva a não perceber que não devem ir por aí.
E a questão agora que se coloca é a de saber como romper com este círculo vicioso, de festa lá no alto, de "discursos esganiçados" e de "uma hilariante escolha de deputados" de que fala e bem o sub-director do DN Agostinho Silva. O problema parece-me residir aí. Do meu ponto de vista só com muita determinação, com mérito, com competência, com qualidade e não, nunca, copiando atitudes que se assemelhem a essa raiz hilariante. A situação da Madeira exige rigor e competência. E neste pressuposto, o caminho difícil que a oposição tem pela frente nos 70 dias que faltam para as eleições legislativas regionais, implicam inteligência, humildade política, um grande sentido propositivo, uma grande capacidade técnica e política, um grande estabelecimento de uma empatia que só se consegue se cada um souber ocupar o seu lugar, não querendo dar um passo superior à própria perna.
A Madeira atravessa um momento muito complexo que não se compagina com interesses menores. O poder saberá utilizar esses interesses menores e muitas vezes mesquinhos para aniquilar qualquer sentido de mudança. Portanto, todos os cuidados serão poucos, todos os passos devem ser bem medidos, todas as actuações bem ponderadas, todas as escolhas de eventuais caminhos bem reflectidos, todas as propostas devidamente equacionadas. Se assim não fizerem estarão a entregar o poder de bandeja àqueles que muitos desejam combater. E por aqui fico.
Ilustração: Google Imagens.
1 comentário:
Caro amigo
Mas há mais. É preciso ter em mente que o governo madeirense é o maior empregador da Região. Na prática, todas as famílias têm alguém que vive do salário pago pela máquina governativa. Por outro lado, há a política dos subsídios dados a cão e a gato e não há organização, por mais comezinha e inútil que seja, que não tenha de se submeter.
Depois, com a esperada redução do número de assalariados do Estado, estão todos com medo. Situação agravada porque sabem que o aparelho partidário está vigilante (pululam os bufos) e é vingativo. Os próprios chefes não se envergonham de soltar umas piadinhas a insinuar que quem não se portar bem, vai acabar mal. Nestes termos, todos sabem que os primeiros a marchar para o olho da rua vão ser os que, no exercício das suas funções, não se mostram fervorosos apoiantes do jardinismo, não denunciaram os colegas e por aí fora.
Assim sendo, há que simular militância, ter tento na língua, tecer loas à governação, ser visto no Chão da Lagoa, urinar num carro da polícia, e outros actos heróicos que seria fastidioso enumerar...
É que, com a democracia totalmente subvertida, não há hipóteses para mais ninguém. Não tenhamos ilusões.
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