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terça-feira, 5 de julho de 2011

RIGOR, RESPONSABILIDADE E CONFIANÇA

 
 
Este governo regional está prisioneiro de si mesmo. O PSD está prisioneiro de uma complexa teia que está a arrastar os madeirenses e porto-santenses para uma situação de eminente conflito social. E pergunta-se, o que faz um homem, 35 anos depois, candidatar-se à presidência do governo? Só encontro uma justificação: é refém dos interesses e é refém da teia que teceu. Não há outra explicação. 

Esta manhã, na Assembleia Legislativa da Madeira, produzi uma Declaração Política. Aqui deixo o texto:
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,
Já não é possível disfarçar a situação de catástrofe económica, financeira, social e cultural da Região Autónoma da Madeira. O governo do PSD, nestes 35 anos ininterruptos, fazendo alarde de tantas vitórias eleitorais, governando só e assumindo todas as responsabilidades, chumbando todas as propostas, impondo regimentos e silenciando o debate, negando comissões de inquérito e impedindo a audição dos governantes, impossibilitando que o presidente do governo responda perante os deputados, controlando câmaras, juntas de freguesia, casas do povo, praticamente todo o associativismo desportivo e cultural, subjugando todos à política do subsídio, e às declarações discursivas geradoras de medo, apesar de tudo isto, 35 anos depois, este velho e insensato governo apresenta um saldo de catástrofe económica, financeira, social e cultural.
E tanto assim é que, ainda há poucos dias, em gesto de súplica, pediu que viessem endireitar as contas da Madeira.
Uma coisa é o discurso, por vezes enfeitado, outras, agressivo, outra coisa ainda é a realidade. E a realidade, esse julgamento que a História já está a fazer é que as vitórias nas urnas estão a dar e vão dar lugar à derrota de todo o povo.
Amanhã, mas num amanhã de poucos anos, a factura terá de ser paga, paga com juros, não apenas a factura remetida pela banca, pelos fornecedores, mas com os juros da pobreza, os juros da exclusão social, os juros da ignorância, os juros das várias toxicodependências, os juros do desemprego, os juros de uma sociedade que foi pensada para dar resposta aos calendários eleitorais e não à sustentabilidade futura da Região.
É natural que alguns da vossa bancada da maioria digam: que exagero! Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, não há qualquer exagero nestas palavras. Tenham presente os compromissos assumidos e não pagos, essa dívida que tende já para os sete mil milhões de euros. Tenham presente o impensável número de 6000 alunos que perdem o ano escolar, os porquês e o que isso significa para o futuro. Tenham presente as taxas de pobreza real. Tenham presente o estado das famílias. Tenham presente os impensáveis números do desemprego real muito próximos dos 20.000. Tenham presente os que estão a abandonar a terra que os viu nascer. Tenham presente a mentalidade e a cultura. Tenham presente o estado calamitoso do tecido empresarial. Tenham presente a situação do turismo e as declarações dos empresários deste sector. Tenham presente as notórias insuficiências no que diz respeito às competências dos trabalhadores desajustadas que estão da oferta de emprego.
Senhoras e senhores deputados, numa análise fria e distante das posições partidárias, certamente que concluirão sobre o desastre desta governação. Nada foi sustentado em função da riqueza produzida e da capacidade financeira disponível. Tudo foi construído numa lógica que alguém há-de pagar a factura. E agora pedem que alguém as venha pagar para sair da bancarrota.
E recordo-lhes, que num determinado momento houve um primeiro-ministro que pagou uma significativa parte da loucura. Hoje, os tempos são outros, à crise internacional que atingiu também o país, junta-se uma crise regional muito anterior à crise internacional. E a Madeira está, por isso, num momento de ter de virar a página e de encontrar uma alternativa que consiga resolver esta pesadíssima herança que V. Exas. vão deixar.
Isto não se resolve com o fait-divers da revisão constitucional. Isto resolve-se com verdade e com novos políticos e novas políticas.
Este governo regional está prisioneiro de si mesmo. O PSD está prisioneiro de uma complexa teia que está a arrastar os madeirenses e porto-santenses para uma situação de eminente conflito social. E pergunta-se, o que faz um homem, 35 anos depois, candidatar-se à presidência do governo? Só encontro uma justificação: é refém dos interesses e é refém da teia que teceu. Não há outra explicação.
E junta-se a tudo isto um governo da República que começa mal, começa com mais austeridade em cima da austeridade, não sendo para tal necessário falar de um PEC 4 ou 5, mas apenas de uma ida ao bolso dos portugueses, retirando-lhes, sem aviso prévio, 50% do subsídio de Natal. E queixavam-se os senhores do PEC 4. Agora e a procissão ainda vai no adro, tratou-se de um pequeno reajustamento em sede de IRS. Mas, mal sabem os madeirenses o que vem a caminho com este programa de governo ultraliberal, claramente ao serviço de uma direita cada vez mais retrógrada, cada vez mais gulosa, cada vez mais desprovida dos valores sociais, cada vez mais próxima da caridadezinha do que resolver os grandes problemas que hoje se colocam ao Homem.
Uma direita que conta com uma Europa sem rumo, em auto-destruição, incapaz de impor uma nova ordem, à qual se junta e alinha o governo do Dr. Passos Coelho. Um Primeiro-Ministro que demonstra estar, claramente de costas voltadas para a Madeira. E tem um seguidor aqui, o presidente do governo que aplica de forma cega a austeridade, para encher o cofre do governo ao mesmo tempo que volta as costas aos madeirenses. É tempo dos madeirenses se indignarem. É tempo de rigor, responsabilidade e de confiança no futuro.
Ilustração: Google Imagens.

5 comentários:

José Luís disse...

Srº Professor.
Ainda não será desta que o PS vai lá.Esta candidatura do Maximiano,não passa de um arranjinho entre camaradas,pelo que à primeira já está condenada ao fracasso.É uma candidatura que enferma de legitimadade democrática dado que foi incapaz de se submeter ao sufrágio dos militantes e consequentemente sufragada em congresso.Aos olhos dos madeirenses o que o PS_Madeira está a fazer é prorrogar o tachinho de alguns instalados,começando por Jacinto Serrão que deveria ter-se demitido logo a seguir às eleições, dando lugar ao rejuvenescimento do PS e de uma nova política alternativa credivel e consistente ao actual regime que nos governa à muitos anos.Lamento que, pelo seu trabalho de mérito,esteja metido nesse saco-de-gatos.Assim o PS continuará na sua autodestruição.A ver vamos! Cumprimentos.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Permita-me, não estou de acordo consigo. Constituiu um acto de lucidez do Dr. Jacinto Serrão que soube interpretar a actual conjuntura política. Aliás, nada obriga que o presidente de um partido seja, automaticamente, candidato.
Certamente que será sufragado em Comissão Regional. O que julgo é que a Madeira e, particularmente, o PS não pode esquecer que este é um momento para levar junto dos madeirenses uma alternativa. Eu acredito que tal seja possível.
Muito obrigado pela sua reflexão e pelas suas simpáticas palavras a meu respeito.

Anónimo disse...

Já Jean-Jacques Rousseau(1712/1778),filósofo e escritor francês dizia"A fingida caridade do rico não passa de mais um luxo.Ele alimenta os pobres como cães e cavalos".Esta reflexão do séc.18 encaixa na realidade actual!

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Com razão ou sem ela, eu nunca votarei num partido no qual o líder do governo esteja, de alguma forma, subordinado ao líder partidário.
Mutatis mutandis, a efectivar-se tal solução, continuaríamos a viver uma política dúbia como a actual onde, ao que parece, está um tal Jaime Ramos por detrás de Jardim.
Disso estamos nós fartos.
Parece-me que Serrão terá de escolher claramente: ou continua à frente do partido e candidata-se a presidente do Governo, ou sai de cena (algo que me parece que muito prestigisria o PS-M). Em política não deverá haver lugar para meias tintas.

André Escórcio disse...

Obrigado pelos vossos comentários.
Relativamente ao "Anónimo", apenas para dizer que se trata de uma excelente reflexão.
Quanto ao Caríssimo Cor. Fernando Vouga, ora bem, o presidente do PS ao designar um candidato, a minha leitura é que continuará o seu percurso político na Assembleia da República. Não fazia sentido marcar um Congresso de clarificação interna (se esse fosse o entendimento interno) pois isso obrigaria a cumprir prazos estatutários e, como é óbvio, numa altura que o partido precisa de apresentar soluções para fora, estaria a discutir assuntos internos. Não fazia sentido, como compreenderá. Esta, pelo menos, é a minha leitura.