Sinto que a população está completamente desarmada. E como se não bastasse a situação política, ainda ontem na Igreja à qual pertenço e sigo a Palavra, oiço o Senhor D. António Carrilho, Bispo do Funchal, pedir à população para ligar-se "às coisas do alto e não da terra" (...) "O homem e a mulher que têm fé no Senhor ressuscitado alargam o seu horizonte de esperança, não podem preocupar-se apenas com os bens materiais, que, embora sendo importantes, devem abrir-se à dimensão sobrenatural". O Senhor D. António voltou a perder uma grande oportunidade para falar de coisas muito sérias, de chamar à atenção para o que se está a passar, dizendo não dizendo, porque o problema está aqui, na Terra, na Região, e só depois no Alto! As empresas não resolvem os seus problemas apenas com "fé no Senhor", o desemprego não se resolve, apenas, com "esperança" e não se pode falar de "bens materiais" quando a esmagadora maioria não os tem!
Pergunta e com razão o líder parlamentar do PS na Assembleia da República: "o que lhes está a ser escondido(?), referindo-se ao governo de coligação PSD/CDS. É a questão que qualquer cidadão hoje coloca. O sentimento que tenho é que estamos a viver no meio da aldrabice, de uma exploração que não conhece limites, de uma desenfreada política ultraliberal que não respeita nada e ninguém. Sinto-me governado por homens e mulheres despidos de sentimentos humanistas, muito mal preparados para as funções que desempenham, para os quais o desemprego e a pobreza constituem fatalidades dos nossos tempos e que a Economia subordina-se, apenas, ao deus mercado. Gente que mente, como diz o povo, com quantos dentes tem na boca, gente que não tem leituras transversais para além da cartilha que lhes impingiram enquanto única verdade. Começa a ser muito dramática esta aldrabice dita de forma séria e com ar convincente. Aquilo que há um ano constituía crítica e motivo de mudança política, hoje é amarfanhado e deitado no balde do lixo das coisas ditas. E isto passa-se lá, porque aqui nem é de estranhar. Aqui, passaram-se 36 anos de loucuras, de uma política sustentada na frase "prà frente, sempre", de acumulação de dívidas, de obras e mais obras públicas sem prever a necessidade e sustentabilidade das mesmas, anos e anos de mentira e de aldrabice política através do controlo total da sociedade, dos meios humanos e dos recursos colocados à disposição. Tempos de aldrabice extrema, de negação das evidências, de crescimento das riquezas mal explicadas, que conduziu, hoje, ao dramatismo de mais de 22.000 desempregados e fome em crescendo. Agora, lá, na República, no governo Nacional, no espaço onde se encontra o Presidente da República, na Assembleia da República, em princípio no espaço político onde se encontra a "nata política" do País, assistirmos à aldrabice diária, ao discurso que muda ao ritmo da mudança de fato dos governantes, convenhamos que é demais. Apenas em uma semana todos nós registámos um governo a falar a várias vozes: os subsídios de Natal e de férias interrompidos em 2012 e 2013, afinal, progressivamente(!) serão pagos em 2015. Isto depois do Ministro das Finanças ter falado no valor da "palavra escrita" e mais tarde em "lapso"; a questão da suspensão das aposentações antecipadas, deliberada à socapa, imposta sem audição, debate e justificação, "à queima roupa (...) como um vulgar salteador de estrada" na palavra de José Eduardo Moniz; a promessa desfeita do Primeiro Ministro sobre o regresso aos mercados, depois de tantas declarações ditas com um ar de grande convicção e certeza, inclusive pelo Ministro das Finanças que marcou a data de Setembro de 2013; o deplorável aumento do preço dos combustíveis, sacudindo a água do capote com a justificação que o preço não é determinado pelo governo, mas pelas flutuações dos mercados, como se a excessiva carga fiscal sobre os combustíveis não fosse da sua competência, enfim, as palavras e atitudes chegam a um ponto de causar asco aos que acompanham o exercício da política. Mas estes factos são apenas alguns de um extenso leque de situações denunciadoras de gente que não sabe o que anda a fazer deste nosso País. Curioso, ou talvez não, é o Ministro Miguel Relvas vir dizer que não há nada de novo nas palavras do Primeiro Ministro, nem nas do Ministro das Finanças e que tudo está absolutamente normal. Espantoso!
Sinto que a população está completamente desarmada. E como se não bastasse a situação política, ainda ontem na Igreja à qual pertenço e sigo a Palavra, oiço o Senhor D. António Carrilho, Bispo do Funchal, pedir à população para ligar-se "às coisas do alto e não da terra" (...) "O homem e a mulher que têm fé no Senhor ressuscitado alargam o seu horizonte de esperança, não podem preocupar-se apenas com os bens materiais, que, embora sendo importantes, devem abrir-se à dimensão sobrenatural". O Senhor D. António voltou a perder uma grande oportunidade para falar de coisas muito sérias, de chamar à atenção para o que se está a passar, dizendo não dizendo, porque o problema está aqui, na Terra, na Região, e só depois no Alto! As empresas não resolvem os seus problemas apenas com "fé no Senhor", o desemprego não se resolve, apenas, com "esperança" e não se pode falar de "bens materiais" quando a esmagadora maioria não os tem!
É preciso uma linguagem diferente, mais incomodativa, mais assertiva, de alerta, ou melhor, de contextualização da Palavra no mundo real que constitui o sofrimento das pessoas.
Ilustração: Google Imagens.
4 comentários:
"às coisas do alto e não da terra"
Será que o senhor Bispo se refere ao Pico Ruivo? Está no alto e não tem terra, só pedregulhos...
Passe esta minha tentativa de humor negro, o que às vezes faz bem, esta exortação do senhor Bispo destina-se a manter os pobres calados e quietos, não vão eles incomodar os ricos e poderosos. Mas não é de estranhar. As religiões sempre foram engrenagens das máquinas do poder. Funcionam como água nas fervuras.
Obrigado pelo seu comentário. Eu lamento e não é que o Senhor Bispo tenha de fazer política, mas tem o dever de estar atento e de tocar onde sangra. As "Chagas" também andam por aí e a Ressurreição significa, também, LIBERTAÇÃO da escravidão a que muito povo está sujeito. É isso que lamento, que a Homilía não constitua um momento para falar de coisas muito sérias.
Um abraço.
Ohhh Senhor Professor,
O que nos ensinam os livros de História sobre estas venerandas figurinhas mansas?
Não percamos tempo!
Obrigado pelo seu comentário.
É verdade, mas não deixa de ser triste!
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