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terça-feira, 5 de junho de 2012

A PROMOÇÃO DO DESTINO MADEIRA ATRAVÉS DO DESPORTO


Ora bem, se estamos a falar, por exemplo, de um parque infraestrutural (a Madeira não está a aproveitar essa oportunidade) que permita uma oferta de qualidade para estágios de equipas, obviamente, que o destino é beneficiado; se estamos a falar de um ou outro evento que pela sua consistência organizacional e regularidade constitua uma marca, logicamente que pode constituir uma oportunidade de ganhos e de promoção. Porque o nicho de mercado existe. Agora, se, em abstracto, falamos genericamente de uma prática desportiva, o caso do futebol profissional ou das sociedades anónimas desportivas, de várias modalidades com representação nacional e internacional, aí, essa prática deixa de acrescentar valor à imagem e apetência do destino. Achei muito interessante e oportuno, o jornalista ter colocado a um dos intervenientes no painel, se se deslocaria à Argentina motivado pelo Messi! Uma pergunta bem colocada e determinante na animada conversa. Evidentemente, que um turista escolhe a Argentina pelo seu património mundial, pela importância paleontológica, pelas ruínas pré-hispânicas, pelos glaciares de vertente atlântica, pelas missões jesuíticas Guaranis, pelas reservas naturais, pelas cataratas de Iguazú, pela cidade de Buenos Aires, enfim, o turista tendencialmente escolhe a Argentina ou um qualquer outro destino em função dos seus interesses que estão muito para além do Messi. Pode escolher apenas pela praia, pelo tudo incluído e por ali fica, como pode ser pela oferta que lhe é proporcionada do ponto de vista cultural e dos elementos genuínos e diferenciadores. Ora, assim é a Madeira. A sua oferta e apetência está, indiscutivelmente, associada à paisagem, à descoberta da natureza, qualidade ambiental, tranquilidade, sociabilidade, temperatura média e segurança. 

Seguia a caminho de casa escutando as notícias das 19:00 horas da RDP. Logo depois entrou no ar o programa "Pressão Alta". O tema pareceu-me interessante, no essencial, o jornalista colocava a questão do desporto ser ou não promocional do destino Madeira. Deixei-me ficar nas ondas da rádio e, quando estacionei, permaneci no carro até ao final do programa. Três figuras faziam parte do painel: o Dr. António Trindade (hoteleiro), o Dr. Bruno Pereira (vereador da Câmara Municipal do Funchal) e o Dr. Hélder Lopes (Universidade da Madeira). 
É evidente que o tema tem tanto que se lhe diga que, em cerca de 45' que durou o debate, se torna difícil equacionar as variáveis do mesmo. Mas, interessou-me ouvir, para juntar às minhas reflexões e estudos, outras opiniões, sobretudo as de pessoas que vivem ou viveram o turismo por dentro, no seu dia-a-dia. Vou ser sincero, concordando aqui e ali com uma ou outra posição, genericamente, decepcionou-me, não apenas por algumas posições assumidas, mas sobretudo pelas contradições evidenciadas. Se o objecto do programa centrava-se em perceber se o desporto era promocional do destino Madeira, tal ficou apenas pela intenção. E quando saliento as contradições estou a referir-me, concretamente, à linha de incoerências e à quase nula concretização, devidamente fundamentada, da tal importância ou não do desporto veículo promocional de um destino. E tanto foi assim que o debate resvalou para outras áreas que não aquelas que, directamente, tinham a ver com o objecto do programa.
Ora bem, se estamos a falar, por exemplo, de um parque infraestrutural (a Madeira não está a aproveitar essa oportunidade) que permita uma oferta de qualidade para estágios de equipas, obviamente, que o destino é beneficiado; se estamos a falar de um ou outro evento que pela sua consistência organizacional e regularidade constitua uma marca, logicamente que pode constituir uma oportunidade de ganhos e de promoção. Porque o nicho de mercado existe. Agora, se, em abstracto, falamos genericamente de uma prática desportiva, o caso do futebol profissional ou das sociedades anónimas desportivas, de várias modalidades com representação nacional e internacional, aí, essa prática deixa de acrescentar valor à imagem e apetência do destino. Achei muito interessante e oportuno, o jornalista ter colocado a um dos intervenientes no painel, se se deslocaria à Argentina motivado pelo Messi! Uma pergunta bem colocada e determinante na animada conversa. Evidentemente, que um turista escolhe a Argentina pelo seu património mundial, pela importância paleontológica, pelas ruínas pré-hispânicas, pelos glaciares de vertente atlântica, pelas missões jesuíticas Guaranis, pelas reservas naturais, pelas cataratas de Iguazú, pela cidade de Buenos Aires, enfim, o turista tendencialmente escolhe a Argentina ou um qualquer outro destino em função dos seus interesses que estão muito para além do Messi. Pode escolher apenas pela praia, pelo tudo incluído e por ali fica, como pode ser pela oferta que lhe é proporcionada do ponto de vista cultural e dos elementos genuínos e diferenciadores. Ora, assim é a Madeira. A sua oferta e apetência está, indiscutivelmente, associada à paisagem, à descoberta da natureza, qualidade ambiental, tranquilidade, sociabilidade, temperatura média e segurança. 
Eu fui membro de um júri de uma monografia de Licenciatura em Informação Turística na Escola Superior de Turismo do Estoril. Esse trabalho, subordinado ao tema "Turismo Desportivo", contou com uma extensa e profunda revisão bibliográfica, de cem páginas, onde a autora vasculhou centenas de documentos e livros sobre esta matéria. Entre muitos autores e pensadores universitários nacionais e estrangeiros, deixo aqui estas reflexões: "segundo Carlos Neto (1995, p.85) “O desporto do futuro terá essa vocação fantástica voltado para a ocupação dos tempos livres. Esta recente concepção do desporto retomará a visão voluntária, ecológica e centrada no prazer”. O referido autor, afirma ainda que “o futuro do desporto será necessariamente a exploração do meio natural” através das “novas práticas desportivas também chamadas radicais ou de natureza”. Partilhando esta noção encontra-se Gustavo Pires (1996, p.163) quando afirma que “O desporto associado à natureza, pode ser um instrumento de construção do futuro”. 
O inquérito aplicado (e respectiva metodologia), depois de cientificamente validado, apurou exactamente aquilo que constituem os motivos de escolha do destino Madeira filiando-se, por outro lado, na construção teórica dos investigadores. Um dado curioso, quando questionados se conheciam algum clube da Madeira, quase todos disseram que não e os que afirmaram que sim, referiram o Clube de Golfe do Santo da Serra e o Palheiro Golfe. É a cultura desportiva individual no país de origem que pode motivar uma prática local, isto é, ao mesmo tempo que escolhem a Madeira poderão dedicar um ou outro dia para essa prática. Outra coisa é a Madeira, pelo número de campos, ser um destino que responda aos interesses dos praticantes por esse mundo fora. Muito do interesse pelo golfe é o de, numa só deslocação, experimentar vários campos, simplesmente porque não existem dois iguais! Ora, essa história do desporto regional ser promocional da Madeira constitui um mito. Não tem fundamento na realidade. O que a Madeira precisa, porque o turismo contribui com cerca de 30% para o PIB é de investir mais na sua promoção. Desconheço os valores actuais, mas não tem muitos anos, a promoção, por cama, na Madeira, rondava os € 220,00, enquanto que o desporto federado custava cerca de € 2.200,00 por atleta. E se o sector federado, sobretudo a representação externa é considerado de importância em termos de retorno, pergunta-se, afinal, por que razão, depois de tantos anos (nos últimos 12 anos, o orçamento regional destinou quase 400 milhões de euros) uma grande parte da hotelaria anda com o credo na boca? Há, certamente, outras questões de permeio, eu sei, mas a da débil promoção, em função de uma oferta estruturada, penso ser determinante. E uma oferta baseada em aspectos diferenciadores e no quadro da natureza. Aliás, o Dr. António Trindade, a páginas tantas, falou de uma prática local, isto é, promotora de cultura desportiva para as gentes da Madeira e o Dr. Bruno Pereira de uma aposta para os turistas em actividades de "ar livre", de natureza. Certo. E foram mais longe, que deixavam cair alguns eventos, como o rali e o golfe. António Trindade chegou a falar do rali Vinho da Madeira como inibidor para os turistas. Estou de acordo. 
É evidente que os turistas não escolhem um destino por uma única e exclusiva razão, mas certamente, não vêm à Madeira porque o Ronaldo nasceu em Santo António! O turista é, hoje, um personagem dinâmico, não se arrasta pelos sofás das unidades hoteleiras, sabe ao que vem e explora ao máximo a sua curta estada. Apesar da minha formação académica eu nunca procurei um destino motivado pela existência de um clube ou de um icon. Nem fui motivado por uma questão de localização. Fui e vou a grandes, pequenas cidades ou localidades por outros interesses, pela história, pela cultura, pelo património, pelos museus, pela motivação que surge através da informação disponível nos livros (American Express, é um exemplo) e nos sítios da Internet. Nunca assisti a um espectáculo desportivo, a não ser na minha passagem pelos Jogos Olímpicos de Seul. Tenho interesse em visitar a Polónia, Varsóvia, Cracóvia e mesmo Poznan (cidade-berço, uma das mais preservadas do III Reich), mas por outros motivos que não o facto do Europeu de Futebol por lá passar. Da mesma forma que gostaria de ir à Argentina (se gostaria!), mas não pelo Messi.
Uma nota final. Não gostei da posição do Dr. Hélder Lopes quando, perante um estudo apresentado pelo jornalista, disse que há trabalhos académicos "para todos os gostos". Ora, sendo ele doutorado, alguém poderá dizer-lhe que há doutoramentos para todos os gostos. E não é assim. As instituições universitárias devem ser respeitadas bem como os professores-orientadores. As universidades, a não ser as de "vão de escada" e obscuras, é que vendem títulos. Não é, seguramente, o caso da Universidade da Madeira e da esmagadora maioria das instituições em Portugal. As convicções pessoais não podem sobrepor-se às teses dos investigadores.
Ilustração: Google Imagens.

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