À Igreja libertadora e de justiça não basta, como ainda ontem sublinhou D. António Carrilho, ser "solidário com os problemas, necessidades e desejos" das famílias; não basta identificar que "quando está em causa a impossibilidade de assegurar o sustento e o bem-estar da família, de assumir os encargos da educação dos filhos e outros de ordem financeira e familiar, nomeadamente quanto aos idosos e doentes, em muitas situações, a família corre o risco de se fragilizar, pelo abatimento ou quebra da auto-estima, pelo espectro das incertezas e apreensões quanto ao futuro, pela tentação da ruptura do amor e da fidelidade". Não basta repetir aquilo que todos sabem, tem de saber colocar o dedo na ferida que sangra e ser implacável relativamente aos vendilhões. Pois, mas isso é complicado. Eu sei que é, mas é o caminho aconselhado por esse Homem que pela Terra passou. Ah, mas isso é política pura e dura. Pois, e Cristo não terá sido um Homem político puro e duro? A Palavra não é partidária mas é, seguramente, política. Ou será melhor, em função das circunstâncias regionais, assumir o silêncio, esse sim, partidário?
Nota prévia: sou baptizado e crismado na Igreja Católica. Então vamos a isto!
Desde sempre e com o avançar dos anos, pouco ligo aos homens da Igreja, mas ao essencial da Mensagem de paz, amor e tolerância. Não aceito, à luz da Palavra, a existência de comportamentos desconformes, de alguns assistirem a processos errados e silenciarem-se, apostarem na caridadezinha e não assumirem o ataque frontal às causas da pobreza, enredarem-se em trololós fáceis de cantar e encantar e passarem ao lado, por conveniência, daquilo que merece incisiva actuação através de uma erecta coluna que permita olhar de frente os problemas. Irrita-me este sentido de Igreja que, quanto muito, aflora, contorna, esquiva-se, tem um olho no burro e outro no cigano, incapaz de pôr em causa, mesmo que subtilmente, os dramas sociais. Fica-se pela meritória acção sócio-caritativa, rotineira e de círculo vicioso. Uma Igreja incapaz de pôr em sentido quem tanto mal faz ao Povo dessa mesma Igreja. Porque estão em causa subsídios, porque as comissões fabriqueiras de novos templos precisam do orçamento público e porque não conseguem expulsar "os vendilhões do templo", toda essa corja de salteadores do nosso tempo, esse covil de traficantes políticos, simplesmente porque têm medo que possam gerar planos contra os próprios. Esquecem-se que esta Cruz que o Povo carrega está muito pesada, dura há muitos anos, exclusivamente por culpa de quem governa, repito, sem o sentido da paz, do amor e da tolerância. Contrariando o princípio, fazem aos outros aquilo que não desejam que os outros lhes façam. Há um silêncio cúmplice e enervante, incapaz de confrontar o medo que o poder político instalou nas pessoas, antes agrava-o com todos os outros medos.
À Igreja libertadora e de justiça não basta, como ainda ontem sublinhou D. António Carrilho, ser "solidário com os problemas, necessidades e desejos" das famílias; não basta identificar que "quando está em causa a impossibilidade de assegurar o sustento e o bem-estar da família, de assumir os encargos da educação dos filhos e outros de ordem financeira e familiar, nomeadamente quanto aos idosos e doentes, em muitas situações, a família corre o risco de se fragilizar, pelo abatimento ou quebra da auto-estima, pelo espectro das incertezas e apreensões quanto ao futuro, pela tentação da ruptura do amor e da fidelidade". Não basta repetir aquilo que todos sabem, tem de saber colocar o dedo na ferida que sangra e ser implacável relativamente aos vendilhões. Pois, mas isso é complicado. Eu sei que é, mas é o caminho aconselhado por esse Homem que pela Terra passou. Ah, mas isso é política pura e dura. Pois, e Cristo não terá sido um Homem político puro e duro? A Palavra não é partidária mas é, seguramente, política. Ou será melhor, em função das circunstâncias regionais, assumir o silêncio, esse sim, partidário?
Os meus conhecimentos são, reconheço, muito frágeis em matéria de argumentação. Eu apenas guio-me por princípios e por valores e, por isso mesmo, politicamente ajo. E fico a pensar, sendo a História da Palavra de Cristo, com todas as alegadas adulterações que os escritores desenvolvem, uma Palavra de uma grande consistência nas condutas, por que razão, a Igreja Católica terá perdido, em Portugal, cerca de dois milhões de fiéis? D. António Carrilho assumiu ontem que "neste quadro, complexo e difícil, mais urgente se torna fortalecer a consciência do ideal da família", mas que ideal de família, pergunto, quando os vendilhões espezinham o ser humano, trituram-no, encostam-no à parede e a Igreja, amarrada, permite, não levanta a voz, antes curva-se aos interesses dessa corja?
Este texto vem a propósito do que ainda ontem li no Jornal da Madeira, num asqueroso artigo contra o Padre José Luís Rodrigues, um dos poucos que, politicamente e não partidariamente, toca nas feridas, assume a Palavra em toda a sua extensão e significado, combate a injustiça e aponta caminhos. O Bispo e os que giram em seu redor, certamente que não gostam da sua frontalidade e do seu posicionamento, mas é desta Igreja que gosto, que contextualiza, que rompe com os silêncios, que gera rupturas, que aposta na dignidade do ser humano, que ajuda a resolver os problemas da pobreza, mas que não fica por aí, não se enclausura servindo o "senhor governo", que chama os bois pelo nome e que nos ajuda a sermos melhores. Parabéns Padre José Luís. O Senhor é um Homem feliz, os outros, uns infelizes porque transportam uma pesada consciência.
Ilustração: Google Imagens.
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