É uma angústia escutar o caso deste e daquele. Um certo vexame pessoal ter de regressar à casa dos pais pela entrega da habitação ao banco. Gente que, estou certo, não viveu acima das suas possibilidades, antes viveu no meio das dificuldades de um sistema empresarial cuja oferta, desde há muito, é superior à procura. Quem a esta situação os conduziu, quem levou meia população à pobreza, alguma degradante, deveria estar a contas com a Justiça. Deveriam todos ser investigados pela irresponsabilidade política e por tudo o que a política esconde. Não basta os juízes do Tribunal de Contas meterem-se num avião e aqui virem cumprir um momento formal de entrega do documento que analisa as contas da região. Não basta assumir que a omissão da dívida "foi consciente". Não basta isso, estes resultados devem ser esmiuçados política e criminalmente, sobretudo porque há uma população que sofre pelo sistemático desvario de um governo.
A situação é de pavor. Angustiante, por um lado, chocante, por outro. Todos os dias tomamos conhecimento de mais uma ou outra situação aflitiva. Já não se trata sequer daquele trabalhador despedido porque a empresa entrou em processo de insolvência ou de falência. Esses casos, infelizmente, com maior ou menor intensidade vão acontecendo. No mínimo e durante algum tempo, ainda podem contar com um subsídio. O drama, agora, esse mesmo, é que se alastra, pois está a atingir, em força, muitos que tinham a sua vida organizada, o seu negócio bem gerido com as naturais dificuldades de permeio, uma vida estável, sem luxos, filhos a estudar fora sem apoios do Estado e zás, de um momento para o outro, vêem esse pequeno mundo construído com dificuldades desmoronar-se ao ponto de terem de entregar a habitação ao banco, regressarem a casa dos pais e caírem em um inimaginável quadro de necessidades e dependências. Ontem tomei conhecimento de alguns casos mais. Pessoas que, inclusive, estão a desenhar os próximos anos fora da Madeira. À medida que a conversa se desenvolvia cruzavam-se na minha cabeça as múltiplas causas deste desastre social. As causas e os causadores. A aposta no cimento, a aposta no esburacar da Região para chegar mais rápido, mas matando, por ausência de planeamento integrado, todo o comércio entre dois pontos, o sentido inauguracionista, com fanfarra e discursos, apenas por motivos eleitoralistas, o fartar vilanagem de "geitinhos" que configuraram dependentes apoios a este e àquele até ao associativismo inconsequente, enfim, a construção de toda esta mentira política durante muitos anos está na origem do colapso. Sofrem agora os que nada têm, aqueles a quem não souberam dar e exigir melhor formação, mas sofrem também os outros, aqueles que, serenamente, foram construindo a sua vida empreendedora e que, de um momento para o outro, num lapso de dois anos, se encontram arruinados, material e psicologicamente. Eles(as), o agregado familiar onde se encontram os filhos que não percebem os motivos da desagregação. E sem direito a subsídio de desemprego. Porque eram empreendedores!
É uma angústia escutar o caso deste e daquele. Um certo vexame pessoal ter de regressar à casa dos pais pela entrega da habitação ao banco. Gente que, estou certo, não viveu acima das suas possibilidades, antes viveu no meio das dificuldades de um sistema empresarial cuja oferta, desde há muito, é superior à procura. Quem a esta situação os conduziu, quem levou meia população à pobreza, alguma degradante, deveria estar a contas com a Justiça. Deveriam todos ser investigados pela irresponsabilidade política e por tudo o que a política esconde. Não basta os juízes do Tribunal de Contas meterem-se num avião e aqui virem cumprir um momento formal de entrega do documento que analisa as contas da região. Não basta assumir que a omissão da dívida "foi consciente", que a Conta de 2010 regista um aumento exponencial dos encargos assumidos e não pagos, atingindo praticamente 1,5 mil milhões de euros (1.455,7 milhões). Mais 1,2 do em 2009 e que os 1,5 mil milhões ainda deverão ser corrigidos em alta, devido a compromissos não reportados, como do IASaúde e do (extinto) IDRAM. Não basta isso, estes resultados devem ser esmiuçados política e criminalmente, sobretudo porque há uma população que sofre pelo sistemático desvario de um governo.
Na edição de hoje do DN pode-se ler uma frase do escritor Baptista-Bastos: "Alguém tem de sacudir esta inércia que nos está a liquidar como povo e a destruir, visivelmente, a nossa democracia (...)". Sou da mesma opinião, que não há mais tempo a perder, simplesmente porque, cada dia que se passe, tendencialmente, o drama se agravará. Estou cada vez mais certo que o povo não pode contar nem com o Presidente da República, nem com o governo de coligação PSD/CDS. Andam ambos a assobiar para o lado, assiste-se a um silêncio cúmplice, os dois a esconderem-se atrás de biombos, cada qual com as suas egoístas razões. E o povo, por aqui, que se amanhe. É tempo de acordar, porque as maldades já são muitas.
Ilustração: Google Imagens.
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