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quinta-feira, 7 de julho de 2016

ESTE SISTEMA EDUCATIVO BLOQUEIA A CURIOSIDADE, LOGO EMPAREDA A APRENDIZAGEM


“Significará repetir os manuais ou a aprendizagem encerra fenómenos muito mais complexos que estão muito para além da segmentação das disciplinas curriculares?” A questão fica no ar. Significativo, diz, “é o facto de, em função do número de ‘insucessos’ a Região ter deitado ao lixo cerca de 17 milhões de Euros, partindo do pressuposto que cada aluno, em média, custa mais de €4.500,00. Ora, o problema deve ser analisado não pelo lado da percentagem de ‘reprovados’, mas pelo lado do que o sistema deveria ter realizado, a montante e a jusante, no sentido de uma escola que não repita o passado e que seja fermento para o futuro”.


Foram divulgadas as taxas de retenção escolar. A Jornalista do DN-Madeira, Paula Henriques, ouviu vários elementos. Dei o meu contributo para esse trabalho. Aqui fica o texto da jornalista.  

“Nós sabemos que muitas vezes há da parte de algumas direcções de escola pressões para que artificialmente passem os alunos. Isso não quer dizer absolutamente nada em termos de conhecimento”, reage Francisco Oliveira à notícia da redução das Taxas de Retenção e Abandono Escolar referentes a 2014/2015. Segundo o presidente do Sindicato dos Professores da Madeira, “é muito fácil haver menos retenções artificiais”. Comparando com os números do país, diz que a Madeira “não está fora do que é normal”.
Mais do que a leitura superficial das percentagens, interessa questionar as razões mais substantivas do ‘insucesso’”, alerta também André Escórcio, um antigo professor, ex-dirigente socialista e estudioso do tema da educação. Por detrás dos números dos chumbos na Madeira, o autor do blogue comqueentao.blogspot.com identifica causas e coloca a tónica, não nos números, mas nas pessoas. E questiona se os mais de 3.800 alunos que não transitaram de ano não teriam tido sucesso num outro tipo de enquadramento organizacional e pedagógico.
As causas para os alunos não conseguirem bons resultados na escola são múltiplas. A montante identifica as famílias, a pobreza, o desemprego e uma cultura que não é geradora de sucesso. A jusante há as outras, “consequência do próprio Sistema Educativo, absolutamente desadequado do tempo que vivemos”, entende. Fala de “um sistema que se diz inclusivo, mas que favorece a exclusão. O sistema repete o modelo da Sociedade Industrial que não se compagina com as necessidades de uma sociedade da tecnologia e da informação. O desencontro é evidente”.
Defende ainda a necessidade de repensar o que é o sucesso. “Significará repetir os manuais ou a aprendizagem encerra fenómenos muito mais complexos que estão muito para além da segmentação das disciplinas curriculares?” A questão fica no ar. Significativo, diz, “é o facto de, em função do número de ‘insucessos’ a Região ter deitado ao lixo cerca de 17 milhões de Euros, partindo do pressuposto que cada aluno, em média, custa mais de €4.500,00. Ora, o problema deve ser analisado não pelo lado da percentagem de ‘reprovados’, mas pelo lado do que o sistema deveria ter realizado, a montante e a jusante, no sentido de uma escola que não repita o passado e que seja fermento para o futuro”.
A melhoria nos números não é o mesmo que melhoria na aprendizagem, são aspectos diferentes e por detrás dos números, recorda que se escondem muitas e distintas realidades. Define o actual sistema como muito heterónomo, que “assenta em rituais de pressuposta aprendizagem, que ninguém questiona, até por obediência e sobrevivência profissional. A aprendizagem tem uma outra dimensão, pois obriga a pensar e a questionar os porquês”. Este sistema, lamenta, “bloqueia a curiosidade, logo empareda a aprendizagem.”
Olhando para o presente, André Escórcio não encontra um projecto portador de futuro. “A escola que deveria estar na dianteira da sociedade, liderando-a, foi ultrapassada e, hoje, arrasta-se nas respostas às necessidades. Tudo o que a sociedade não resolve, pedem à escola que resolva”. Nas sua opinião, os responsáveis pelo actual sistema deviam questionar as razões das taxas publicadas. “Não é por acaso que muitos jovens dizem que a escola é uma ‘seca’. São múltiplas as razões, mas razão tinha o pedagogo Rubem Alves quando disse que para os ‘burocratas o que interessa é o que vem nos relatórios, não as crianças’”.
André Escórcio acredita que é preciso mudar o sistema educativo. “Resta-nos romper com o passado, não com acertos marginais, mas estruturais que implicam o pensamento acerca do futuro. Estão em causa os currículos, os programas, o paradigma organizacional, o pensamento pedagógico, a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino, a reorganização da sociedade, mormente os tempos laborais, as questões da família, do desemprego e da pobreza, que mais escola não significa melhor escola, enfim, está por desenhar tudo quanto investigadores, pensadores e autores há muito alertam.”
Enquanto isso não acontece, reter ou não reter continua a ser uma questão polémica. O que acontece, explica o Francisco Oliveira, é que porque no 1.º ano as retenções são situações excepcionais, no 2.º aumentam. 
No modelo ideal não haveria retenções, os alunos recuperariam com a ajuda dos professores e de toda a comunidade educativa. “Nós não vivemos num modelo ideal”, lamenta, e o que acontece, revela, é que os alunos, porque sabem que não chumbam, interessam-se ainda menos. Por outro lado, “a própria sociedade exige que a escola seja selectiva”, que as avaliações correspondam aos que os alunos vão aprendendo. 
Os professores só retêm quando os alunos não cumprem os critérios definidos no início do ano nas escolas e comunicados aos pais, assegura. E não são indiferentes ao insucesso, acredita o presidente do Sindicato. “A grande maioria dos professores sofre com as retenções”. Nem tampouco podem as retenções servir para avaliar o trabalho do docente. Francisco Oliveira recorda que há turmas “muito complicadas” com maiores dificuldades, sobretudo em determinadas zonas, em ambientes em que não há valorização da escola. Por vezes, diz, “conseguem autênticos milagres” e muitas vezes, os que têm piores resultados são os professores que se dedicam mais.
NOTA
Todo o texto AQUI 

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