Agora, julgo eu, que a euforia amainou, talvez seja tempo de uma outra reflexão. As praças encheram-se de pessoas, crianças, jovens, adultos, até com os de idade muito avançada, quase todos trajados com as cores nacionais, elevaram cascóis, sofreram e explodiram de alegria, beberam e, fraternalmente, abraçaram-se e os foguetes estalejaram. No dia 11, no regresso, quase foi feriado nacional. Parafraseando a canção, o povo voltou a sair à rua, cantando se o rei (futebol) faz anos, que venha à praça, para nos conhecer! Foram 48 horas de êxtase, antes e depois daqueles 120 minutos na martirizada França e, depois, tudo regressou à normalidade. O fumo desapareceu no céu e as bandeiras e cascóis regressaram ao armário! Ficaram os novos "Comendadores". Mas isso é história para um outro comentário.
É tão fácil quanto difícil explicar que, sendo dois aspectos diferentes, eu sei, paradoxalmente, somos um dos povos com pior taxa de participação desportiva na Europa. Só nos superam pela negativa a Bulgária e Malta. Em Portugal não chega aos 30% os que assumem manter esse hábito com alguma regularidade. Não tem muitos anos, em estudos comparados e sujeitos ao mesmo protocolo, a taxa de participação dos portugueses não ia além dos 23%. Salienta a investigadora Salomé Marivoet: "(...) Sabia que apenas 57 por cento dos portugueses (dos 15 aos 74 anos) têm ou tiveram uma experiência desportiva, sendo que os restantes 43 por cento nunca praticaram desporto ao longo da sua vida? Esta é apenas uma das conclusões de um estudo elaborado pelo Centro de Estudos e Formação Desportiva, que reuniu todos os resultados num livro intitulado "Hábitos Desportivos da População Portuguesa". Mas fixemo-nos nos 30%, com muito boa vontade, e tenhamos presente que o intervalo 15/74 anos abrange milhares que estão na escola. Independentemente de outras e mais profundas considerações, podemos concluir da disparidade entre o comportamento exteriorizado pelo povo durante o europeu e uma prática desportiva assumida como bem cultural. As razões são múltiplas, aliás, há muito que aqui tenho deixado a minha opinião. Deixo, apenas, estes dados para reflexão. Pessoalmente, gostaria que a manifestação de amor à Pátria e o orgulho naqueles que nos representaram fossem mais coincidentes com uma prática regular da actividade física ou desportiva.
Ilustração: Google Imagens.
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