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quinta-feira, 14 de julho de 2016

POLÍTICA EDUCATIVA - TAL COMO NAS CEREJAS, ESTE ANO, DEU O BICHO!


A Jornalista Paula Henriques, do DN-Madeira, sobre os exames de 9.º ano, atribuiu o título: "Médias em queda, reprovações a subir" (...) "O barco não está a chegar a bom porto. Os alunos da Madeira tiveram piores resultados do que os nacionais nas provas finais do Ensino Básico referentes ao 3.º Ciclo realizadas na Região pelos mais de 2.500 estudantes de 9.º ano, revelam os dados divulgados ontem pelo Ministério da Educação e pela Secretaria Regional de Educação. 56,3% chumbaram na prova de Matemática e 27,4% reprovaram a Português, o que quer dizer que mais de 1.400 não teve sucesso na prova de Matemática e que mais de 680 não conseguiram chegar à meta em Português.(...)". Do meu ponto de vista, constituem resultados absolutamente normais. Em uns anos é sensível o entusiasmo dos governantes ao jeito de "estamos a melhorar" (...) "foi melhor que no ano anterior"; em outros anos apresentam-se de cabisbaixo. Não percebem ou não querem perceber que existem múltiplas variáveis que determinam que assim seja, aliás, já bastas vezes equacionados. De uma coisa estou absolutamente convicto, é que se não mudarem o paradigma do sistema educativo, não só os resultados não serão proporcionais ao investimento, como se manterá esta oscilação entre a esperança e o desânimo.


Pergunto, e agora senhores governantes? Tal como tem sido apanágio vão aumentar o número de horas semanais de Matemática e de Português, convencidos que, se não entra a bem entrará a mal? Ou irão aproveitar para reflectir, profundamente, sobre o sistema na sua globalidade? Li, no DN, que "a Secretaria Regional de Educação vai divulgar em breve a análise detalhada dos resultados das Provas do 3.º Ciclo, nomeadamente a distribuição por escolas e concelhos". Mas para quê essa maçada? Para, eventualmente, expor e agredir as escolas e os professores pelos "maus resultados", atirando para os outros responsabilidades que são próprias? Para, subtilmente, "avaliar" os professores? Quando deveriam saber que não existem dois estabelecimentos iguais e dois públicos iguais? Que o problema assenta, fundamentalmente, em preocupações de natureza organizacional, curricular, programática, pedagógica e, a montante, de natureza social? Para quê perder tempo, quando deveriam estar a estudar, para implementar, as bases de uma nova escola e, consequentemente, as bases de uma nova aprendizagem? 
Sou, como tantas vezes aqui tenho escrito, contrário à realização de exames em todo o Ensino Básico. Não é pela via dos exames que se acrescenta seja lá o que for. Há estudos e pensamento sobre esta matéria. Consultem. Sou pela avaliação de natureza contínua (muito mais complexa que um exame), de base formativa inteligente e rigorosa, inclusiva, não punitiva e de exclusão, mais, ainda, por uma aprendizagem baseada na complexidade dos fenómenos. A vida real não se divide em disciplinas. Não se deve, por isso mesmo, "aprender" a esquecer, mas a ganhar o gosto em aprender a desaprender para voltar a aprender. A complexidade da vida e a necessidade de adaptações sistemáticas à multiplicidade de situações, inclusive a profissional, necessitam de uma aprendizagem que não se confine aos manuais e aos rígidos programas, ao jeito de um pronto-a-vestir. A uns o fatinho serve, a outros não! O Professor Sérgio Niza deixou claro nas páginas do Diário, tem já algum tempo: a Escola actual "não serve... é do tempo dos nossos avós".
Por outro lado, disse e bem o Primeiro-ministro, Dr. António Costa, quando determinou o fim dos exames no 1º ciclo: "tal como um raio x não cura um doente também um exame não faz a aprendizagem dos alunos". Certo. Por paradoxal que possa parecer, Hélder de Sousa, director do organismo responsável pelos exames nacionais (IAVE), penso que ainda é o mesmo, em entrevista ao Público, em Junho de 2015, assumiu que os exames não estão a gerar melhorias das aprendizagens. Então, pergunta-se, por que insistem?
Dizia-me um colega que, este ano, tal como nas cerejas, deu o bicho. Talvez para o ano não dê. Certo é que a "produção" será, como sempre foi, escassa. Pensem nisso. Pensem, tal como escreveu a jornalista: "Médias em queda, reprovações a subir" (...) "O barco não está a chegar a bom porto (...). Por este caminho jamais chegará. Há muito que está encalhado. Só desmantelando-o!
Ilustração: Google Imagens.

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