Obviamente que fiquei feliz com a vitória portuguesa no Europeu de futebol. Diria mais, fiquei muito feliz. Confesso, porém, que não sou daqueles que vão para as praças para viver, colectivamente, estes momentos. Sou assim, nada a fazer. O que não significa que, por exemplo, não me comova quando oiço o nosso hino nacional ou a bandeira que sobe o mastro quando alguém atinge o mais alto lugar do pódio. Simplesmente porque os atletas são as extensões do nosso orgulho pátrio. Todavia, há um mas, há sempre um mas...
Milhares e milhares em praças, milhares no aeroporto para saudarem os campeões, televisões e rádios em directo para outros milhões, eu próprio estou aqui a escrever com os olhos colados à televisão, enfim, compreendo tudo isto, compreendo a força do futebol que é universal, compreendo, no que a Portugal diz respeito, perante tanta desilusão na vida de tanta gente, uma alegria faça explodir sentimentos profundos. Compreendo o entusiasmo de todos os emigrantes porque aquela vitória acaba por ajudar a mitigar a distância e, muitas vezes, os olhares distantes nos países onde trabalham. Mas há um aspecto que me encheu de felicidade: a bofetada de luva branca de um povo a todos quantos andam a brincar com a nossa infindável paciência, considerando-nos uns pobres coitados onde a austeridade tem de ser exemplo para os demais. A Alemanha e a França, entre outros, Juncker, Shäuble, Lagarde e quejandos que nos deixem da mão e que nos respeitem.
Por outro que lado, agora no plano interno, que felicidade também sentiria se este nosso povo, que se movimenta pletórico de energia, de entusiasmo e de felicidade, também soubesse sair à rua aos milhares, com superior disciplina, para dizer não a esta Europa que espezinha, maltrata, impõe regras vergonhosas conducentes à pobreza. O povo não vive de futebóis e de ídolos, vive do seu emprego, dos direitos ao trabalho, à educação, à saúde e à segurança social. E todos esses direitos estão cada vez mais ameaçados por essa gentinha política que, rigorosamente, nada tem de estadistas, antes de políticos oportunistas ao serviço de interesses que a esmagadora maioria da população não descortina.
Parabéns Portugal, mas não fiquemos por um dia histórico. Há mais vida para além do futebol.
Ilustração: Arquivo próprio e Google Imagens.
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