Concordo com o comentário do Dr. Augusto Santos Silva relativamente à apresentação do programa eleitoral do PSD por parte da sua presidente, Drª Manuela Ferreira Leite. Disse o porta-voz socialista: o objectivo do programa "é tentar federar descontentamentos sectoriais, prometendo tudo a todos os descontentes".
De facto, ao ouvi-la, fiquei com essa ideia. No essencial, não trouxe nada de novo, apesar do seu ar grave e circunspecto. Por exemplo, falar da necessidade de um novo "paradigma económico" parece-me muito vago, pois a expressão ao querer dizer tudo acaba por não dizer nada. E o povo não quer saber de vacuidades, quer antes conhecer processos concretos que o façam decidir entre os vários projectos em causa. Mas este sector, porque não sou especialista em economia e finanças, deixo-o para quem o domina. Porém, sublinho que a Drª Manuela Ferreira Leite foi Ministra de Estado e das Finanças do XV Governo, entre 2002 e 2004, tendo deixado as finanças públicas com um défice superior a 6,5%. Todos nos recordamos disso. E mais, que foi uma ministra que não desencadeou processos na raiz dos problemas, antes tentou colmatar o défice à custa de receitas extraordinárias, fundamentalmente com a venda de património. Não tem, por isso, pelo menos do meu ponto de vista, muita credibilidade política nesse campo.
Já no sector da Educação li as propostas apresentadas e não poderei dizer que, ali e acolá, não concorde com algumas medidas. Mas quando fala do Estatuto da Carreira Docente e, na sequência deste, no processo de avaliação de desempenho dos docentes, aí, a líder do PSD evidencia, como sublinha o Dr. Augusto Santos Silva, apenas uma preocupação em prometer tudo junto do descontentamento existente. E digo isto porque se a situação no sector educativo não não é agradável, a Drª Ferreira Leite tem enormes responsabilidades históricas nesse processo. É que ela foi também Ministra da Educação entre 7 de Dezembro de 1993 a 28 de Outubro de 1995, num período de maioria absoluta do PSD. Aliás, o Professor Cavaco Silva foi Primeiro-Ministro durante dez anos nos quais se incluem duas maiorias absolutas. Só nesses dez anos o Professor Cavaco nomeou cinco Ministros da Educação: João de Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, Diamantino Durão, Couto dos Santos e Manuela Ferreira Leite. Isto é, num período crucial da governação do País, nenhum deles soube estruturar a Educação em termos de futuro. Se tivessem tido visão, indiscutivelmente, catorze anos depois, poderíamos agora estar a colher os investimentos feitos. Nem os quatro que a precederam nem a Drª Ferreira Leite demonstrou capacidade para tocar no âmago dos problemas, enfrentá-los e, consequentemente, lançar as linhas orientadoras do futuro. Portanto, é fácil agora tentar, políticamente, conquistar algum descontentamento. Só que o problema da Educação não se esgota no Estatuto e na Avaliação de Desempenho. É muito mais complexo do que isso e, sobre as múltiplas matérias, há naquele programa um profundíssimo vazio conceptual.
Mas não há como aguardar pelos debates. Aí se descobrirão as verdades de cada um.
2 comentários:
Li algures que o PS propõe no seu programa a obrigatoriedade do 12º ano.
Não acreditei e fui confirmar.
Não é que está lá mesmo isso escrito?
Claro que é um erro de palmatória. Mas, não o sendo, como pretendem implementar esse absurdo?
Recentemente (e bem) passou-se a obrigar todos a ficar 12 anos no sistema (dos 6 aos 18 anos). Assegurar que todos terão sucesso garantido, ano após ano, sem qualquer retenção até ao 12º ano é de uma impossibilidade total.
Só mesmo quem não saiba o que é uma escola e não conheça os nossos alunos...
O ridículo está instalado no Programa do PS, através desta medida. Quem não conseguir (só quem não conhece o assunto é poderá dizer que todos são - hoje - capazes) e quem não quiser continuar a estudar após alguns insucessos ficará eternamente obrigado a ficar na Escola até concluir o 12º ano?
Esta medida só pode ser um equívoco. Mas como? Não há responsaveis conhecedores na execução do vosso programa?
Obrigado pelo seu comentário.
Por discordar do que escreve e por se tratar de um assunto muito importante, tratarei deste tema um dia destes.
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