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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O KIT E UMA MÃO CHEIA DE NADA


Os Açores, por exemplo, não ficaram à espera da Segurança Social Nacional que define as regras e atribui o que País pode. Não ficaram por aí e inscreveram 24 milhões de euros para os complementos de pensão, para o apoio medicamentoso e para o abono de família. É o que eu digo, a Autonomia só tem sentido se souber marcar a diferença.


Tenho presente o ar embevecido com que o Secretário Regional dos Recursos Humanos apareceu, junto dos Escoteiros, a propósito do lançamento de um kit de actividades para o "combate à exclusão social, nomeadamente dos idosos".
Nada, rigorosamente nada, tenho de reserva relativamente aos Escoteiros. Antes pelo contrário, entendo que se trata de uma organização de relevante importância e pena tenho de não ver maior número de jovens e adultos envolvidos e de maior apoio prestado pela entidades públicas. Mas essa é outra questão. O problema aqui, no âmbito do tal kit, tem natureza política e parece compaginar-se com uma nociva presença do poder junto da organização. Há dias, ouvi um responsável, por ocasião do Jamboree, tecer considerações e elogios ao presidente do governo regional. Não lhe ficou bem e aqui comentei essa situação. Agora, é o tal kit com a presença do secretário regional e do director regional de Juventude. Parece-me evidente, quando se compagina esta iniciativa com um largo conjunto de outras que, tudo isto, envolve uma descarada e interessada aproximação política à juventude.
Clarificando melhor, eu diria que o que me choca não é bem a iniciativa ou a presença do secretário, neste caso na apresentação do citado kit. O que me choca é o vazio das palavras ditas e a camuflagem de um problema gravíssimo, o da pobreza, da exclusão social e o dos idosos, que não se resolve, obviamente, com um kit dinamizador e sensibilizador de atenções para com a população mais envelhecida e mais esquecida. O problema resolve-se com medidas políticas sérias de protecção à família, com uma melhor e mais consistente estabilidade no trabalho, com medidas de política económica e cultural e, mais ainda, com um contributo do Orçamento Regional no quadro das políticas de apoio social. Os Açores, por exemplo, não ficaram à espera da Segurança Social Nacional que define as regras e atribui o que País pode. Não ficaram por aí e inscreveram 24 milhões de euros para os complementos de pensão, para o apoio medicamentoso e para o abono de família. É o que eu digo, a Autonomia só tem sentido se souber marcar a diferença. Eles marcaram e, por isso, apesar de haver pobres, esses apresentam-se um pouco mais protegidos.
E não me venham alguns com aquela treta de que os Açores recebe mais do Estado. Pois, têm nove ilhas e uma população mais dispersa, o que implica encargos acrescidos. Apesar disso, o Orçamento é inferior e conseguem ter um melhor desenvolvimento, porque sustentável. Não estou a falar de crescimento mas sim dos indicadores de desenvolvimento.
Ora, o kit não resolve os verdadeiros problemas por melhores que sejam as intenções. O kit não chega a ser de sobrevivência. É mais uma daquelas coisas tipo timex, que não adianta nem atrasa. Fica, apenas, muito bem enquanto interesse da organização. O que, porém, o secretário deveria ter feito e não fez, era ali apresentar-se com qualquer coisa (medida) que, ao lado do entusiasmo dos escoteiros, fizesse acreditar que havia uma luz ao fundo do túnel, isto é, um futuro melhor para a população idosa. Esteve lá, mas com uma mão cheia de nada!
Ilustração: Google Imagens.

4 comentários:

LeiFinancasSocialista disse...

Com mais 200 milhões/ano recebidos do Orçamento Estado através da LFR, podem fazer este tipo de acções benificientes e de propaganda socialista...

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Olhe que isso não é assim. Esses valores não são verdadeiros, para além do mais convém ler os Relatórios do Tribunal de Contas e, mais ainda, ter em consideração (trata-se de um problema de honestidade intelectual) uma Região de nove ilhas com um povo disperso, relativamente a outra com duas ilhas. São quadros totalmente diferentes.
Mas, ainda mais, se há falta de dinheiro (existe, claro) respeitem-se as prioridades e essas não ~se compaginam com as megalomanias que por aí andam. Justificar-se-á mais um Estádio? Comecemos por aí...

LeiFinancasSocialista disse...

Os valores são verdadeiros. Sabe bem. O que é usual é o PS defender essa diferença com base no número de ilhas...
O que é uma posição desonesta. Se haverá a necessidade de mais investimento (em mais portos?) isso não se aplica aos custos correntes que são os que são visados pela LFR. Por haver mais ilhas haverá mais escolas? Claro que não...
Como tanto defende, se uma escola tiver 200 alunos, são cinco escolas em cinco ilhas com 200 alunos e cinco escolas (na mesma) numa ilha com 1000 alunos...
Sejamos honestos: a LFR é, realmente, o que permite que os Açores possam dar mais do que pode dar a Madeira e, curiosamente, muito mais do que dá o Continente...
São esses complementos sociais, menor IRS, etc, etc...
Podem, com a receita vinda do OE (via LFR) prescindir doutra receita e acrescentar (para os seus) o que os outros portugueses não podem ter.
Apesar dos socialistas acharem que os recursos públicos cairem do céu, a verdade é que (pelo mesnos nos últimos 15 anos) vêm de empréstimos do exterior. E esses credores acham, agora, que têm esses empréstimos, nas mãos socialistas portuguesas, em risco.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu novo comentário.
Qualquer pessoa sensata e julgo que o meu Caro é, se conseguir despir a farda partidária, com responsabilidades políticas ou não, reconhece que a dispersão constitui um factor de agravamento da despesa. Estaria aqui uma tarde inteira a dar exemplos. Mas penso que não preciso.
O que lhe quero simplesmente dizer é que se o Presidente do Governo e o Secretário das Finanças da Madeira, governassem as suas vidas como governam a Região, no mínimo, em uma empresa estavam despedidos e, no plano pessoal estariam sob a alçada da Justiça. Mesmo com os atrasos da Justiça, penso que já estavam presos.
O problema não é da LFR mas de uma política de desenvolvimento sustentável. Se não posso andar de Ferrari nem tenho uma tia rica, contento-me a andar de Renault Modus. E já andei de Fiat 600 e de Renault 4. Aos poucos melhorei. Neste pressuposto, olhe à sua volta, com os olhos do cidadão e não com os olhos do partido e verá, certamente, tanto gasto (não investimento) feitos e que tornam, hoje, impossível continuar com a mesma postura. Por exemplo, o que se gasta na prática desportiva profissional e não só... na tal marina e em tantos "berbicachos" por resolver.
O problema está nas políticas e não na LFR. Mas eu sei, ora se sei, o que deve ser a angústia de se terem metido em um beco sem saída, de precisarem de dinheiro fresco e não oo terem... O problema é esse.