Pois é, para se falar de um assunto temos de o estudar, temos de assumir conceitos claros, não podemos ser levianos, até porque, a responsabilidade pela governação implica profundidade no conhecimento e uma definição dos caminhos a trilhar. Falar por falar não constitui uma boa estratégia.
Na Universidade, um dos princípios que aprendi, veiculado por um notável académico, é que "todos têm direito a ter a sua opinião, terão, no entanto, que, cientificamente, justificá-la". Queria ele dizer com isto que nós não viessemos para ali com conversa de treta, com empirismos bacocos, com frases feitas ou baseadas no senso comum. E este aspecto tem-me guiado na vida e, daí, nos assuntos que não são de mesa de café, tento aprofundar o conhecimento e, exclusivamente, nos sectores a que me dedico. Como diz a sabedoria popular, "cada macaco no seu galho".
E a propósito, há tempos, um meu grande Amigo, o Professor Doutor Gustavo Pires, contou-me uma reunião que tinha tido, em uma das áreas do sistema educativo, pela qual era responsável. Ao iniciar o encontro, pediu aos presentes trinta minutos para a clarificação de uma série de conceitos sobre o que ali se iria tratar. Ganhariam, depois, tempo e o trabalho seria mais produtivo. E isto porque, quando não existe um quadro de referências devidamente balizadas, a discussão torna-se estéril pois cada um arroga-se o direito de falar de assuntos sobre os quais os seus conceitos pecam por desconhecimento, ausência de referências e domínio das variáveis. Dizia-me o meu Amigo que os presentes estranharam aqueles trinta minutos iniciais que se prolongaram por quase uma hora mas, no final, um dos participantes tinha sublinhado que o encontro e as respectivas conclusões tinham sido mais céleres do que inicialmente esperava.
Pois é, para se falar de um assunto temos de o estudar, temos de assumir conceitos claros, não podemos ser levianos, até porque, a responsabilidade pela governação implica profundidade no conhecimento e uma definição dos caminhos a trilhar. Falar por falar não constitui uma boa estratégia. É, por isso, que, ainda há dias, aqui escrevia sobre uma atitude que em certos assuntos devemos assumir: ter dois ouvidos e uma boca. Não me tenho dado nada mal e aprendi isso, confesso, com o passar dos anos. Ouvir, estruturar e amadurecer os conceitos, procurar a sua justificação mais profunda e, então, assumir uma opinião, agora, mais fundamentada. Não deixará de ser uma primeira opinião, na esteira de G. Bachelard (primeiro Físico-Químico e, depois, Filósofo), quando sublinhou que "não há verdades primeiras, só existem erros primeiros. E é no reconhecimento desses erros que se recomeça". Quer isto dizer que o conhecimento é dinâmico e é na aceitação, humilde, daquele pressuposto que podemos criar futuro. Mas, para isso, impõe-se, desde logo, a necessidade de conhecer, de aprofundar, de conjugar todas as variáveis e de não quedar-se pelas "verdades primeiras".
Escrevo isto, em jeito de desabafo e ao correr do pensamento, porque sinto que o exercício da política está cheio de frágeis conhecimentos sectoriais, os quais, por exemplo, conduziram ao estado a que a Região chegou. Tenho presente a última sessão legislativa. Não é apenas local, eu sei. Há dias, passei os olhos por um blogue brasileiro (Oásis da Inutilidade) e li um texto interessante: "(...) Algumas das pessoas mais respeitadas no Brasil têm a língua solta (...) a retórica é o nosso forte e até a palavra soa pomposa". Isto é assim, um pouco por toda a parte. Temos de conviver com essa situação.
Ilustração: Google Imagens.
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