Não leva tempo, talvez no areal, se ouça a frase de Salazar: "Pois é preciso que gritemos tão alto a verdade, que demos tal relevo à verdade que os surdos a ouçam e os próprios cegos a vejam".
Na política nada é feito por acaso e, então, nos partidos de poder hegemónico e de longos anos, obviamente que todos os pormenores são pensados e estruturados com esse sentido de manutenção do poder. Dispõem de mais gente no funcionamento da máquina partidária e, quando se combinam a pequena dimensão do espaço territorial com o baixo índice económico-social e cultural, a situação tende a agravar-se até porque a liberdade, no seu sentido mais lato, fica, naturalmente, condicionada.
Daí que não seja de estranhar certas "sementeiras ideológicas", pensadas com o rigor e a disciplina partidárias, logo nos primeiros anos de formação dos nossos jovens. Tomo, como exemplo:
1º O presidente do PSD-M e presidente do governo regional, há dias, foi à Escola Profissional Atlântico, "explicar" a Autonomia. Foi lá vender o seu "produto", isto é, semear a sua doutrina. Os alunos foram "obrigados" a ouvir uma parte da história quando existem outros lados merecedores de séria e profunda reflexão. O palestrante criticou "tanta mediocridade" sensível na classe política, de Lisboa, claro, mas não falou, nem era expectável que falasse, de tanta medicocridade existente no seu governo e tanta medicocridade na estratégia política do governo pelo qual é primeiro responsável. Os alunos, escutaram a voz oficial, como se tudo se esgotasse na palavra de quem lidera este processo político há 36 anos.
2º A mesma figura regional compareceu na Fundação Berardo que apoia largas centenas de estudantes com bolsas de estudo. Aí, uma vez mais pregou, a solo, diante a "multidão" de jovens.
3º Depois, aceitou ser "Membro Honorário Exterior à Universidade da Madeira" (julgo que foi nessa qualidade), onde, ridiculamente, o líder da Associação considerou aquela instituição "apartidária" e uma "escola de pensamento livre". E repito, ridiculamente, porque qualquer cidadão da Região Autónoma da Madeira nunca assistiu a qualquer movimento de livres-pensadores, oriundo do interior da Universidade, sobre as mais cadentes questões que se colocam nos vários domínios da actividade política, económica, social e cultural.
4º Finalmente, nesta "viagem" paroquial antes de férias, o "arquitecto", Dr. Jardim, visitou o "Jamboree", onde o madeirense, Chefe do Corpo Nacional de Escutas, assumiu, frente a 1750 jovens, que os escuteiros estão rendidos ao "Jardineiro". Jardim agradeceu, obviamente. E cantaram, em uníssono, "Jesus Cristo está em toda a parte". Refrão que me trouxe à memória a frase do falecido Padre Geraldo que disse mais ou menos isto: "Deus no Céu e Alberto na Terra".
Devagar, sem que ninguém se aperceba, a sementeira vai sendo concretizada. E não leva tempo, talvez no areal, se ouça a frase de Salazar: "Pois é preciso que gritemos tão alto a verdade, que demos tal relevo à verdade que os surdos a ouçam e os próprios cegos a vejam".
2 comentários:
Caro André Escórcio,
Confesso que fiquei chocado ao ler as palavras do CHefe Nacional do CNE, na abertura do Jamboree.
De facto as palavras não foram medidas e ajustadas a ocasião. Também como escuteiro não gostei.
Abraço
Roberto
Obrigado pelo seu comentário.
Meu Caro, nós que não vendemos a consciência, reconhecemos os excessos, mas também sabemos que tudo isto faz parte de um processo. Falta coluna a muita gente, apesar do trabalho importante que fazem, neste caso no escutismo. Como dizia o outro, não havia necessidade.
Um abraço.
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