O Secretário do Ambiente e dos Recursos Naturais veio célere dizer, aqui estão uns milhões, a "fundo perdido" (repetido duas vezes) para os que perderam culturas, etc. etc., como se os milhões apregoados resolvessem e abafassem a dimensão dos erros cometidos. Peguem lá e calem-se, foi a leitura que fiz. Se isto é governar, bom...
Leio na edição do DN de hoje: "Governo expropriou a 49 cêntimos por m2 e adquiriu terrenos florestais nos montados de Santo António e São Roque. O incêndio chegou primeiro que o pagamento". Esta é a síntese que caracteriza a política ambiental. Também aqui, para o governo, a culpa é sempre dos outros, quando, à lupa, está cheio de telhados de vidro.
Por seu turno, o Doutor Hélder Spínola, dirigente da Quercus, salienta o Diário, não conhece qualquer intervenção na zona do "tampão verde", desde que o projecto teve início, há nove anos. "Sendo algo que o governo chamou a si, é inconcebível que não tenha sido feito nada, bem ou mal, e que a acção se tenha resumido simplesmente a delimitar no mapa a área do tampão verde, sem uma reposição do coberto vegetal autóctone, sem gestão florestal para reduzir a carga de biomassa para assim evitar a propagação de incêndios com grandes proporções, nem vigilância para detectar focos de incêndio de modo a que possa ser atacado de imediato". Ora, tudo isto não foi dito pela oposição política, pelos tais que querem a desgraça, segundo o presidente do governo, mas por um personalidade credível, experiente, independente e que representa uma respeitável instituição de defesa do ambiente. Mas, certamente, será atacada pelos seus posicionamentos nesta matéria. Ao fim e ao cabo, por maior que seja a paciência de uma pessoa, a questão é esta: mas que raio de gente nos governa? Ou será que se governam?
A tragédia de 20 de Fevereiro que bem poderia ter sido ATENUADA, não, a culpa foi toda, mas toda, da pluviosidade excessiva. Ninguém foi responsável pelos edifícios construídos em zonas de risco, ninguém foi responsável pela excessiva canalização das ribeiras, ninguém teve responsabilidades pelos pequenos cursos de água que foram entubados, enfim, a chuva excessiva é que se tornou relevante. E repetiu-se isso até à exaustão. O que poderia ter sido ATENUADO, não foi, por incúria, mas o discurso político passou. Agora, os incêndios, e novamente ninguém tem responsabilidade política. Os postos de vigilância e a atitude preventiva, enfim, isso é conversa. O que sobressaiu foi a existência de uma série de malandros que pegaram fogo ao nosso património florestal. A edição de hoje do Diário explica um pouco o outro lado da tragédia.
Uma vez mais, aquilo que poderia ter sido ATENUADO acabou por se tranformar na segunda tragédia do ano. E ninguém terá, novamente, responsabilidades políticas. O Secretário do Ambiente e dos Recursos Naturais veio célere dizer, aqui estão uns milhões, a "fundo perdido" (repetido duas vezes) para os que perderam culturas, etc. etc., como se os milhões apregoados resolvessem e abafassem a dimensão dos erros políticos cometidos. Peguem lá e calem-se, foi a leitura que fiz. Se isto é governar, bom... fico por aqui!
Ilustração: Google Imagens.
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