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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A URGÊNCIA DE RECENTRAR A DEMOCRACIA



Já António de Oliveira Salazar disse, na "longa noite fascista": "As discussões têm revelado o equívoco, mas não esclarecido o problema; já nem mesmo se sabe o que há-de entender-se por Democracia".


Li, no situacionista JM, o órgão de comunicação social pago pelos contribuintes madeirenses para propaganda do governo regional da Madeira, o artigo do presidente do governo. Lá mais para o meio, entre conceitos e posicionamentos constitucionais, revela o autor, do alto das Angústias: "(...) Uma coisa é discordar. Legítimo e democrático. Outra coisa é indisciplina e deslealdade". Parte assim do princípio que, democraticamente, qualquer um, possa (ou deva?), legitimamente, assumir a discordância política, obviamente. Até aí, mesmo que "lapaliceanamente", não lhe belisco a razão. O problema que se coloca é a praxis política, quando se sabe que, por "justa causa", não, melhor dizendo, "por razões atendíveis" como classificou o Dr. Passos Coelho embora em outro contexto, discordar do presidente constitui sempre um acto de indisciplina e deslealdade, pelo que, a prateleira, no mor das vezes, pelas tais "razões atendíveis", constitui o lugar de destino. Uma espécie de apedrejamento iraniano até à morte política. Quantos por aí andam a chorar baixinho!
É por essas e por outras que prolifera, entre nós, uma sociedade com medo. O presidente diz para fora aquilo que não sente por dentro, que não lhe vem da sinceridade mais profunda. Apresenta-se sempre com dois discursos: o da liberdade e da tolerância, porque fica bem no quadro do regime democrático, em confronto com a sua habitual postura de mão de ferro. Já António de Oliveira Salazar tinha dito, na "longa noite fascista": "As discussões têm revelado o equívoco, mas não esclarecido o problema; já nem mesmo se sabe o que há-de entender-se por Democracia". E na reunião da posse dos presidentes das comissões distritais da União Nacional, em 3 de Maio de 1952, na sequência da remodelação das comissões nacionais no Congresso de Coimbra da União Nacional, foi muito claro: "Não há nada mais inútil que discutir política com políticos".
Talvez por isto mesmo, em comunhão com os seus conceitos de democracia, indisciplina e deslealdade, o "chefe" do PSD local não comparece na Assembleia Legislativa para discutir seja lá o que for. Considera, certamente, inútil esse tempo, inútil aquela Casa da Democracia e inúteis os seus membros eleitos. Simplesmente porque, ideologicamente, tal como o outro de Santa Comba, não possui um claro entendimento da Democracia, tem, isso tem, o entendimento apenas, da indisciplina e da deslealdade. Dir-se-á que se cola a Salazar e à respectiva Acção Nacional Popular quando o velho político responsável por décadas de atraso, desferiu uma outra frase que ficou célebre: "Decididamente, decisivamente, pela Nação (Região), por nós (obviamente) e … até por eles". Neste caso, por aproximação, pergunto, "eles" quem? Os amigos, os da teia, os da confraria que repartem entre si as benesses do poder e da lealdade? Os que se submetem à disciplina instituída, que se curvam ao medo, que têm uma visão estrábica da disciplina e da Democracia, os egoístas, os que apenas falam de negócios de milhões? Talvez. Por mim e vendo o que por aqui se passa, as situações que se nos apresentam estão cada vez mais claras e, inequivocamente, mais parecidas.
Nota: Os sublinhados (Região e obviamente) são da minha responsabilidade.
Ilustração: Google Imagens.

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