A eternização no poder conduz às rotinas, à cristalização do pensamento e sobretudo à criação de profundas raízes com nós de incalculáveis interesses. As pessoas deixam de ser conduzidas pela sua vontade, mas pela vontade dos outros. É neste quadro que 2011 pode ser determinante. Todos, desde há 500 anos, os que se diziam imprescindíveis, desapareceram e a Madeira continuou! Portanto, no dia que novos actores políticos forem chamados pelo Povo a governar, a Madeira continuará e esses nós, esses interesses, essas raízes, desfazer-se-ão em nome da construção de um novo ciclo.
Está nas mãos do Povo! |
2011 será, como todos sabemos, um ano particularmente difícil para muitos madeirenses e porto-santenses. Calcula-se que metade da população passará privações, e mais de 20% privações muito graves. Não se trata de uma apreciação sem fundamento. Trata-se da realidade, consubstanciada em números, isto é, no somatório dos que dependem do Rendimento Social de Inserção, das aposentações e pensões abaixo do salário mínimo nacional e dos números do desemprego. Aliás, o Doutor Alfredo Bruto da Costa quando aqui esteve, há cerca de um mês e pouco, mostrou um interessante quadro o qual referia que, num intervalo de estudo de seis anos, mais de 80% dos madeirenses tinham passado, no mínimo, por duas situações de pobreza. E disse mais, que a pobreza permanente rondava os 30% e que 15% da população vivia num quadro de pobreza persistense. Ora bem, isto significa que cerca de 80.000 pessoas (em 253.000) são pobres e que 40.000 dos oitenta mil encontram-se nessa situação de dependência total.
A estes números juntar-se-ão os novos pobres, os da designada classe média que, por via das medidas de austeridade (que o Governo Regional da Madeira, ao contrário dos Açores, não apresenta uma medida para os defender), entrarão no grupo dos que experimentam desequilíbrios entre as receitas e as despesas mensais. Com o desemprego a crescer, provados com os 15.737 referentes a Novembro (mais 1.179 que em Agosto), é evidente que a situação tenderá para um substancial agravamento. E nestes números não estão contabilizados os que se encontram em acções de formação e muitos, muitos mesmo, que começam a partir porque não encontram futuro na Região. E perante isto, vejo um Governo Regional, aparentemente sereno, sem uma ideia e todos os dias a fugir dos problemas. A único aspecto que emerge do discurso oficial é o cumprimento do programa de governo (o de 2004), com mais umas obras aqui e ali. Nada mais. Não existe um pensamento acerca do futuro, nos planos económico, financeiro e educativo. Não existe uma ideia sobre as formas de revitalização da economia e aquelas que se conhecem, são frágeis, aliás, a avaliar pelo comportamento das empresas nos últimos dois anos.
2011 será difícil, eu sei, mas poderá constituir o ano da oportunidade. Esta colossal fraqueza pode ser transformada em uma oportunidade. Desde logo, através do acto eleitoral do próximo mês de Outrubro. As Legislativas Regionais podem e devem constituir uma oportunidade para alterar o quadro político. Não é entendível que o Povo mantenha o mesmo partido a governar, 35 anos depois. Uma vitória do PSD nessas eleições significará, no final do mandato, 39 anos consecutivos de governação, em 2015, com um septuagenário à frente do governo. Não faz sentido. Trata-se de uma presença que mata, num primeiro momento e de forma paulatina, a criatividade e a inovação, depois, a própria Democracia. Já sentimos isso.
Defendo que, em defesa do Povo, um partido deve governar quatro anos, se a resposta for consistente, deve permanecer mais quatro e por aí ficar. Só em casos muito excepcionais, admito um terceiro mandato. As curas de oposição são importantes. É na oposição que se estruturam novos pensamentos e se descobrem novos caminhos para enfrentar os problemas. A eternização no poder conduz às rotinas, à cristalização do pensamento e sobretudo à criação de profundas raízes com nós de incalculáveis interesses. As pessoas deixam de ser conduzidas pela sua vontade, mas pela vontade dos outros. É neste quadro que 2011 pode ser determinante. Todos, desde há 500 anos, os que se diziam imprescindíveis, desapareceram e a Madeira continuou! Portanto, no dia que novos actores políticos forem chamados pelo Povo a governar, a Madeira continuará e esses nós, esses interesses, essas raízes, desfazer-se-ão em nome da construção de um novo ciclo. Acredito que 2011 poderá constituir o ano da MUDANÇA.
Ilustração: Google Imagens.
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