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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

RESULTADOS PARA PENSAR E MUITO... (II)


No essencial, que leitura política é possível e que repercussões podem acontecer, a partir de 46.247 votos (39,01%) depositados no candidato José Manuel Coelho. As leituras deste processo não podem ser levianas. Deverão ser, meticulosamente, estudadas, até como pressuposto de tornar esta situação de clara fraqueza da restante oposição, particularmente do PS-Madeira, numa grande oportunidade. E pode constituir uma oportunidade.


A partir da reeleição do Professor Cavaco Silva vários cenários são possíveis. Refiro-me à República, mas também e sobretudo ao contexto político na Região Autónoma da Madeira. Desde logo, um certo azedume no discurso de vitória do Presidente da República, deixa antever doravante uma crispação entre Belém e S. Bento. Penso que será inevitável. O Professor Cavaco convive mal com a crítica, e isso ficou bem patente ao longo da campanha, onde procurou fugir a todas as questões embaraçosas. Ainda esta manhã, o Senhor Bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, produziu, de forma contundente, uma leitura semelhante à que aqui faço, portanto, não estarei longe da realidade se admitir que o Professor Cavaco Silva, de orgulho ferido e pressionado pelos influentes do seu partido de origem, ávidos de poder, conduza todo este processo no sentido da marcação de eleições antecipadas. Muito dificilmente não o fará, aliás, a avaliar pela maré eleitoral que concede ao PSD significativa vantagem. As suas palavras de ontem, pedindo a denúncia daqueles que o confrontaram com diversas situações, prognosticam que alguma coisa irá acontecer. As palavras ditas não são neutras, envolvem um significado e uma tensão que devem ser consideradas.
E a acontecer qualquer decisão, obviamente que se repercutirá na condução política da Região Autónoma da Madeira. Se, porventura, este mandato socialista for interrompido, restará saber, em um tempo tão curto, como reagirão os eleitores em função do seu sentido de voto quer para a República quer para as regionais de Outubro. No essencial, que leitura política é possível e que repercussões podem acontecer, a partir de 46.247 votos (39,01%) depositados no candidato José Manuel Coelho. As leituras deste processo não podem ser levianas. Deverão ser, meticulosamente, estudadas, até como pressuposto de tornar esta situação de clara fraqueza da restante oposição, particularmente do PS-Madeira, numa grande oportunidade. E pode constituir uma oportunidade. Mas, dir-se-á que o tempo corre contra quem tem a obrigação de apresentar um alternativa credível, até porque o quadro, inclusive, sociológico, é extremamente complexo e exigente. Os cenários a delinear são vários, não bastando, de forma apriorística, como ainda ontem aqui fiz, sublinhar que os resultados espelham a consequência de 34 anos de jardinismo. Temos de ir mais longe e traçar três cenários fundamentais que consubstanciem a resposta a três outras perguntas: o que fazer caso o Presidente da República dissolva o Parlamento? O que fazer, caso o resultado do PND, na eventualidade de eleições legislativas nacionais, for expressivo, enquanto continuidade do protesto?  O que fazer, nos próximos seis meses, para romper com 36 anos de governo PSD, independentemente das situações anteriores?
Tratam-se de três cenários (existirão outros ou a reformulação destes) que aqui deixo ao correr do pensamento, apenas para dizer que há uma absoluta necessidade de rever tudo, colocar tudo em causa e partir de forma estruturada e muito reflectida. Não é fácil, sobretudo porque a engrenagem nesta terra embora velha está oleada, mas é possível com inteligência, determinação e através da qualidade dos actores políticos. Espero não ficar desiludido!
Ilustração: Google Imagens.

12 comentários:

Abril Sempre disse...

Oportunidade para o PS-Madeira?
É o fim dessa oportunidade.
O reconhecer dos votantes da incompetência do PS-Madeira.
Se não, votariam Alegre.
Assim, derrotam a oposição regional e avisam Jardim.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Penso que não é bem assim. Os eleitores, até que se prove o contrário, não reconheceram a incompetência do PS-Madeira. Penso que outros aspectos compaginaram-se para este resultado. O futuro o dirá. Neste momento parece-me cedo.

Espaço do João disse...

Meu Caro André.
Eu sou daqueles que não costumo embarcar em cantigas.
No entanto eu tiro daqui uma ilacção:- Esta votação no Sr. Coelho, foi um abanão no ditador das ilhas. Não tenho qualquer dúvida que regressarei à Madeira ( de visita), com outras caras na Quita Vigia. Já é tempo de emalar a trouxa e Zarpar , como dizia o nosso querido José Afonso. Isto como diz o ditado, quem me avisa é meu amigo. No entanto aproveito a oportunidade para comprovar que afinal o povo da Madeira está a mandar o "navoeiro" para trás do palheiro
Um abraço de amizade. João.

Galinhada disse...

Valeu mais uma galinha debaixo do braço num passeio pelo Funchal do que tantas conferências de imprensa dadas por tudo e por nada...
Violante Matos
É o descrédito total da oposição madeirense.

Anónimo disse...

E a oposição (e os governos e o sr. Silva também) passa a vida a culpar a Conmunicação social de falta de pluralismo e isenção.!Será que o Sr Coelho teve mais acesso aos media? Nem mais nem menos. O que se passa é que a politica tem de renovar-se e surpreender com estratégias positivas e credíveis. O Povo já se cansa da partidarite e dos interesses pessoais nos parlamentos, em detrimento das questões de verdadeiro interesse regional e nacional. Não se escondam atrás da crónica desculpa da Comunicação social. Inovem!

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
O meu caro "Anónimo" escreveu: "a política tem de renovar-se e surpreender com estratégias positivas e credíveis". Concordo, totalmente. Mas a verdade é que o PS, como principal partido da Oposição, tem apresentado inúmeras propostas sérias, estudadas, profundas, com qualidade, e a verdade é que o resultado foi este. Estou a falar dos sectores económico, financeiro, da educação, dos assuntos sociais, etc. e o resultado, repito, foi este.
Desculpar-me-á a franqueza, mas sabendo como sei o teor e a importância das propostas, apresentadas, não me parece que o problema seja esse que acaba de apontar. Há outras razões, certamente.

André Escórcio disse...

Ao visitante "Galinhada":
Só publico a sua mensagem apenas porque ela permite-me defender uma AMIGA e uma LUTADORA de muitos anos de causas nobres. A Drª Violante nunca procurou lugares, deste o tempo da perseguição pela PIDE. É de Mulheres como ela, que sabe o que diz porque estuda, que não se verga, que defende princípios e valores que a MADEIRA precisa. Enquanto uns se escondem, Ela aparece, está, defende, não tem medo de represálias, enfrenta, dando a cara e a voz pelos que não têm voz. Conheço-a há muitos anos e não ficaria a bem com a minha consciência se isto não dissesse.

António Trancoso disse...

Caro André Escórcio
Parece haver aqui um equívoco.
Dá a sensação de GALINHADA ser o título de um irónico e mordaz comentário subscrito pela Dra. Violante Matos,e não um despropositado ataque àquela Senhora.
Se assim for,trata-se de uma severa crítica, tanto às opções eleitorais (vazias de substância construtiva)como aos inconsequentes e reticentes apoios ao Candidato Dr. Manuel Alegre.
Há muita coisa a repensar e reformular,sob pena das opções maioritárias da Oposição sofrerem alterações significativas.
Sem acinte, meu Caro Amigo,não posso deixar de reconhecer que os actos ficam com quem os pratica...

Galinhada disse...

Violante Matos disse algo parecido com aquilo na RTPM.
Que mais valia passear no Funchal de galinha debaixo do braço que apresentar propostas.
Esta afirmação confirma o crédito que tem o PS e as suas inúteis conferências de imprensa por tudo e por nada, com propostas deslocalizadas no tempo e no conteúdo.
O eleitorado responde, preferindo dar passeio à galinha. Ou ao coelho, conforme a ocasião.

André Escórcio disse...

Não li o comentário, sinceramente, mas quanto às pessoas, respeito-as.
Relativamente às conferências de imprensa, meu caro, é das poucas hipóteses de transmitir posições actuais e NUNCA deslocalizadas no tempo e no conteúdo. Não é verdade que assim seja.

António Trancoso disse...

Caro André Escórcio

Era previsível acontecer alguma coisa, embora sem a dimensão que assumiu.
Tendo em conta a situação sócio-cultural da maioria da população, José Manuel Coelho é, objectivamente, o contraponto do habitual discurso de Alberto João Jardim.
Daí o êxito, expresso na votação obtida, com relevância para a da Região.
Sem ilibar as fraquezas da Oposição, nomeadamente as ambiguidades, do, até agora, seu maior Partido, não me parece correcta a atitude de "disparar", indiscriminadamente, em todas as direcções.
José Manuel Coelho, tendo razão em muito...não tem toda a razão.
Que se trata de um "fenómeno" de popularidade é um facto a levar em devida ponderação, tanto mais que a História nos revela exemplos de consequências inaceitáveis.
João Jardim, ao estabelecer uma comparação com o sucesso de Hitler, sabe muitíssimo bem do que fala...e custa-lhe, imenso, aceitar uma possível concorrência.
O abanão foi dado e, daí, todo o seu mérito.
Como "projecto", falho de substância na construção de um futuro, espero que o Bom-Senso venha a recuperar o lugar, que o Protesto, circunstancial e legitimamente, ocupou.
Um abraço.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário. Apenas uma palavra: concordo.