O que aconteceu é que nenhum dos princípios do desenvolvimento foram considerados, o que conduziu, de forma acéfala e, digo mesmo, ignorante, à estrutura de uma política desportiva como se a Região não fosse pobre, dependente, social e culturalmente assimétrica e com necessidades primárias por resolver. Neste pressuposto, obviamente, que seria uma questão de tempo e o "edifício" implodiria através das cargas que os seus mentores, inconscientemente, se encarregaram de colocar. Todos são culpados por este colapso. Desde logo o UI que é o avalista desta política.
Lembro-me de, repetidamente, desde há muitos anos, dizer que o desporto, quanto muito, pode ser considerado a primeira das segundas necessidades. Não o disse por mera convicção. Assumi na decorrência de muitos autores que li, que se debruçaram sobre esta matéria, bem como a respectiva compaginação com a teoria da "pirâmide das necessidades" de A. Maslow: em primeiro lugar estão as necessidades básicas, depois, as de segurança, às quais se seguem as sociais, as de autoestima e, finalmente, as de autorealização.
Ora, todo sistema desportivo (e não só) deveria ter sido pensado e organizado tendo por base essa hierarquia, conjugada com as limitações da Região a todos os níveis. É óbvio para qualquer estratego do desenvolvimento que há, entre outros, três princípios que devem ser respeitados: o da "prioridade estrutural", o da "transformação graduada" e o da "autosustentação". O que aconteceu é que nenhum (entre outros, repito) destes princípios foi considerado, o que conduziu, de forma acéfala e, digo mesmo, ignorante, à implementação de uma estrutura de política desportiva como se a Região não fosse pobre, dependente, social e culturalmente assimétrica e com necessidades primárias por resolver. Ao não serem considerados estes pressupostos, obviamente que seria uma questão de tempo e o "edifício" implodiria através das cargas que os seus mentores, inconscientemente, se encarregaram de colocar.
Todos são culpados por este colapso. Desde logo o UI que é o avalista desta política suicida. À exceção do Professor Fernando Ferreira, que, infelizmente, já não se encontra entre nós, todos os outros directores regionais e presidentes do IDRAM são os culpados deste desastre. Desempenhei funções técnicas na ex-Delegação da Direcção Geral dos Desportos e estive ligado aos primórdios da regionalização que gerou a Direção Regional dos Desportos. Tenho presente quantos diálogos e preocupações o distinto Professor me transmitia sobre o rumo que não deveria ser tomado. Enquanto foi possível ele conseguiu travar, mas sucumbiu às pressões, no princípio dos anos 80, mormente aquelas originalmente oriundas do futebol profissional. Daí para cá, os que se seguiram na liderança da política desportiva não tiveram a inteligência e capacidade necessárias para repensar o modelo em que assentava a orientação política do desenvolvimento do desporto. Engordaram o sistema e criaram vícios, multiplicaram funções, consentiram uma política de infraestruturas desadequada e insustentável, geraram dívidas incomportáveis e, hoje, mostram-se incapazes para dominar o "monstro" que criaram e alimentaram.
Ora, quando se fala da possibilidade de extinção do IDRAM, por um lado, considero que tal afigura-se-me absolutamente natural e necessário. Aquela casa, nos últimos vinte anos, perdeu o sentido da política desportiva e transformou-se numa caixa de correio que recebe ofícios e emite cheques. Como não há dinheiro, deixou de justificar-se; por outro, sinto pavor, porque há dezenas e dezenas de trabalhadores e técnicos que correm o risco de perda do seu posto de trabalho ou, no caso de muitos técnicos, o regresso aos estabelecimentos de ensino a que pertencem, poderá implicar a saída dos docentes que ocupam os seus lugares. Trata-se de uma situação terrível para muitos, nos planos pessoal e familiar. Imagino.
Estes aspectos, bem como os problemas de todo o associativismo a braços com dívidas, têm de ser geridos com pinças, porque estão pessoas em jogo. Já basta as agruras da vida criadas por um governo tresloucado nas suas opções. Mas, de uma coisa estou certo, a Região terá de caminhar no sentido de uma mudança de paradigma no desporto. Isso mesmo foi apresentado, na Assembleia Legislativa, pelo grupo parlamentar do PS. Decorria o ano de 2007. Nesse extenso documento, foi prevista uma nova reconfiguração da política desportiva com prevalência para o desporto educativo escolar, a alienação das quotas nas sociedades desportivas e um período de transição de quase três anos para eliminar os erros cometidos e adaptação a um novo sistema. O PSD chumbou. Nem discutiu a proposta legislativa em sede de comissão especializada. Portanto, ninguém pode estranhar, por exemplo, a falência da SAD portosantense para o hóquei em patins. Essa estoirou e outras vão a caminho. Todo o sistema, aliás, está em implosão. E não foi por falta de avisos e de documentos apresentados. O que está acontecer deriva da ignorância altifalante.
Ilustração: Google Imagens.
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