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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

UMA ASSEMBLEIA TRANSFORMADA EM BIBELÔ REGIONAL


Dir-se-á que ela existe, mas não existe; funciona para apresentação de cumprimentos e para questões de natureza institucional, mas o seu hemiciclo é mais decorativo do que de debate e audição das várias opiniões que emergem da sociedade. Na República não é assim. Nos Açores não é assim. Mas, na Madeira, nesta sui generis democracia à moda do "vigia da quinta", é assim. A "austeridade", por exemplo, que afeta tudo e todos, que coloca toda a sociedade com o credo na boca, não constitui motivo de debate, de análise, de troca de argumentos, pois isso está entregue nas mãos de um único homem, de um único político.


A Assembleia Legislativa da Madeira afunda-se no labirinto dos interesses partidários. Ela demite-se, e disso a maioria faz gala, da sua vocação primeira, da sua missão primeira, a do debate político e o da fiscalização dos actos do governo. Perguntar-se-á, então, para que serve esta espécie de bibelô regional, construído ao longo de trinta e tal anos pelos artesãos do PSD-Madeira? Como justificar ao povo contribuinte 13, 14 ou 15 milhões de euros de orçamento, se os deputados da maioria parlamentar demitem-se da sua função de acompanhamento e de esgrima dos argumentos de natureza política? Dir-se-á que ela existe, mas não existe; funciona para apresentação de cumprimentos e para questões de natureza institucional, mas o seu hemiciclo é mais decorativo do que de debate e audição das várias opiniões que emergem da sociedade. Reúne para o essencial. Na República não é assim. Nos Açores não é assim. Mas, na Madeira, nesta sui generis democracia à moda do "vigia da quinta", é assim. A "austeridade", por exemplo, que afeta tudo e todos, que coloca toda a sociedade com o credo na boca, não constitui motivo de debate, de análise, de troca de argumentos, pois isso está entregue nas mãos de um único homem, de um único político. Ele é que sabe, ele é que diz que "tem dinheiro" para pagar aos funcionários públicos, falando no singular como se a proveniência desse dinheiro fosse a sua carteira. Para ele é um reles atrevimento outros se imiscuírem nas suas posições. Para ele tudo gira à sua volta, todos têm de ajoelhar-se, todos lhe devem vénia e todos devem depender dos seus bons ou maus humores, desde deputados a empresários passando por todo o movimento sindical.
E assim estamos entregues a um só homem, tendencialmente, a um homem só, porque mesmo aqueles que se subjugam à sua orientação, à "boca pequena" (não estou a falar do JM) começam a ter atitudes que o "chefe" carateriza de "facadas nas costas". Mas, relativamente a esses também há muito lançou o aviso, dizendo que está atento... 
Ora, o momento é de debate e não de silêncios. O momento é de discussão sobre os grande dossiês que estão em cima da mesa. O momento é de encontrar soluções adequadas que conduzam às melhores negociações. O momento não é de escudarem-se nas suas torres de marfim, quando se sabe que o principal negociador não é considerado, não é respeitado, não é aceite como pessoa credível no plano da responsabilidade política. Os silêncios só demonstram perda de poder, o medo que a população descubra que o rei vai nu, o receio de abrir flancos por onde a oposição demonstre a força das suas razões em contraponto com as razões da força. O problema reside aqui, nesta pobre democracia, neste arremedo de democracia que enche o copo das insatisfações. Faltam poucas gotas e extravasará. É uma questão de alguma paciência.
Ilustração: Google Imagens.

1 comentário:

António Trancoso disse...

Meu Caro Amigo
A Democracia faz-se com Democratas e não com canalha oportunista.