É claro que o lóbi do cimento, a fúria inauguracionista, a ambição da medalha ou do título toldaram muitas consciências que deveriam, até por conhecimento e dever profissional, se posicionar contra a loucura dos decisores desta política partidária. Avançaram porque o "chefe manda", colocaram a venda nos olhos e toca a andar no trapézio sem rede. Conclusão: estatelaram-se, caíram do alto, escorregaram nas pedras soltas que foram deixando enquanto subiam. Estão, hoje, embrulhados ao jeito de múmias, sem capacidade de decisão e sem um cêntimo no cofre que alimentou, durante muitos anos, a vida inebriante que levaram.
E os outros é que são loucos. Bastaria um dedo de bom senso! |
A questão IDRAM (Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira), enquanto instituição concretizadora da política desportiva do PSD-M, começa a ter a resposta que há muito se adivinhava. Bastaria dois dedos de bom senso, talvez melhor, apenas um dedo de bom senso para que a situação não chegasse ao ponto a que chegou. Leio no DN que as dívidas ascendem a mais de 52 milhões de euros, o que significa, face ao quadro de outros constrangimentos financeiros que reclamam prioridade no plano de pagamentos, a falência de todo o sistema desportivo de base associativa. O que me choca, e disso tenho dado testemunho das minhas preocupações, sublinho, ao longo de muitos anos, é a leviandade com que os responsáveis políticos sempre atuaram. Eu e mais algumas pessoas, saliento, alertámos. Choca-me ter falado do erro de percurso, inclusive, em espaço próprio, como é o caso da Assembleia Legislativa da Madeira (foram chumbados vários diplomas sobre esta matéria), ter sido combatido de uma forma feroz e quase alienada pelos responsáveis que lideraram o IDRAM, e, hoje, olhar para este dantesco quadro de falência, que arrastará consigo muitas dezenas de instituições. Choca-me verificar que esta gente tem passado incólume perante a justiça do voto e a outra Justiça.
Um dedo de bom senso, um dedo de inteligência, um mínimo de visão periférica (conjugação de todos os sistemas), um mínimo de estratégia política que definisse a prioridade entre o desporto educativo escolar e o desporto associativo, numa terra pobre, assimétrica e dependente, um dedo de tudo isto bastaria para que outra fosse a orientação política. Certamente, hoje, não teríamos piscinas encerradas (diz o IDRAM que não estão fechadas, não há é dinheiro para pagar o combustível!), certamente que não teríamos tantos estádios de futebol entre outras dispendiosas infraestruturas de reduzida utilização, certamente que não teríamos 16.000 (dizem) praticantes federados, porque os clubes visam a qualidade nunca a quantidade, não teríamos tantas equipas em um vaivém semanal, não teríamos mais clubes e associações que freguesias, mas teríamos mais educação desportiva nas escolas, melhor e mais qualificada preparação da juventude, melhor taxa de participação desportiva portadora de futuro e, com toda a certeza, menores encargos ao nível do movimento associativo e com resultados qualitativos idênticos aos registados. Mas isso implicava que o governo e os seus agentes políticos não sofressem de uma gravíssima surdez, implicaria que estivessem disponíveis para ouvir, debater, gerar consensos e investir no caminho mais seguro e adequado às características de uma região com prioridades que estão muito antes do desporto.
É claro que o lóbi do cimento, a fúria inauguracionista, a ambição da medalha ou do título toldaram muitas consciências que deveriam, até por conhecimento e dever profissional, se posicionar contra a loucura dos decisores desta política partidária. Avançaram porque o "chefe manda", colocaram a venda nos olhos e toca a andar no trapézio sem rede. Conclusão: estatelaram-se, caíram do alto, escorregaram nas pedras soltas que foram deixando enquanto subiam. Estão, hoje, embrulhados ao jeito de múmias, sem capacidade de decisão e sem um cêntimo no cofre que alimentou, durante muitos anos, a vida inebriante que levaram.
Quando leio as peças jornalísticas que nos dão conta do estado a que isto chegou, o meu pensamento dirige-se, imediatamente, para as largas de dezenas de técnicos que regressarão às suas escolas de origem, colocando muitos que lá se encontram, por substituição, no desemprego, para as largas centenas de dirigentes desportivos que acreditaram na honestidade do governo e que, agora, estão a braços com monumentais dívidas, o pensamento dirige-se para as muitas infraestruturas que precisam de obras de manutenção sob pena de uma progressiva degradação, para os muitos funcionários por aí distribuídos e que começam a ver a instabilidade no seu posto de trabalho, finalmente, para os praticantes desportivos, agora em situação delicada.
Tudo isto foi equacionado e tudo isto foi chumbado por uma maioria acéfala, uma maioria política que fez ouvidos de mercador, que ofendeu e maltratou quem se atreveu a dizer que o rei ia nu. E agora? Então esta gente não tem de ser posta a andar?
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
O meu apreço por esta manifestação de lucidez e bom senso
Obrigado pelo seu comentário.
Sabe bem quando encontramos pessoas que demonstram, no essencial, amor a esta terra. Muito obrigado.
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