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sexta-feira, 3 de abril de 2020

"Eu conheço um País..."


Não é que me tire do sério, mas irrita-me. Quando oiço, o que é recorrente, sobretudo no discurso político, "este país" ou o "rectângulo", confesso que tais verbalizações me deixam com alguma brotoeja pelos evidentes sinais de desconsideração e aviltamento. Porque este, para o bem e para o mal, é o nosso país e quanto ao "rectângulo", todos os outros têm configurações mais ou menos geométricas, facto que me leva a pensar que subsiste um sentido extremamente depreciativo  e provocador quando alguém por aí escreve ou fala.


Todos os países, sem excepção, têm as suas potencialidades a par de muitas fragilidades. Olhe-se para os Estados Unidos, com todo o seu poder, como navega nas águas turvas e agitadas no combate à epidemia. Em contraponto, olhemos para a nossa diáspora e tenhamos presente quantos homens e mulheres foram capazes de construir o sucesso em vários sectores de actividade; para o largo conjunto de jovens cientistas espalhados por centros de investigação de topo; olhemos para as artes em geral e para o desporto, em particular, e que orgulho sentimos ao constatarmos o valor dos desempenhos. Mas olhemos, ainda, para toda a nossa História de quase 900 anos, sobre o que fomos e o que fizemos. Ou então, em 45 anos de democracia, a transformação que operámos no país. Sempre bem? Não. Muitas vezes de forma desesperantemente criticável. Por aqui tempos houve de espezinhamento, obviamente que sim. É a nossa História e que deve ser conhecida. Sem pedras no sapato, sem a sensação do coitadinho, nem como arma de arremesso. O país que somos não merece tais epítetos, nem as regiões autónomas, especificamente, podem ser depreciativamente tratadas como "aqueles dos rochedos". 
Ademais, medíocres existem em todos os lugares, aqui e lá; corruptos, idem; gente sem pensamento, obviamente; riquezas mal explicadas, em todo o lado; poderes obscuros e governos globalmente imbecis, nem se fala; incultos, a cada passo. Repito, aqui e lá. Porém, este é o nosso país e a nossa Língua a Portuguesa! Por mais que muitas situações nos arreliem, não somos superiores a ninguém. Nem inferiores. Temos tantas fragilidades como competências de topo, o que me leva a concluir: no plano autonómico supramos as debilidades e construamos o Portugal que desejamos. Sem mesquinhez. 

Texto do Jornalista
NICOLAU SANTOS
Publicado na Revista UP da TAP

O texto que a seguir publico, da autoria do jornalista Nicolau Santos, é de Março de 2011. De então para cá muitas coisas se alteraram, obviamente. Porém, no plano global, constitui um excelente retrato síntese do nosso Portugal. 

«Eu conheço um país que em 30 anos passou de uma das piores taxas de mortalidade infantil (80 por mil) para a quarta mais baixa taxa a nível mundial (3 por mil)
Que em oito anos construiu o segundo mais importante registo europeu de dadores de medula óssea, indispensável no combate às doenças leucémicas. Que é líder mundial no transplante de fígado e está em segundo lugar no transplante de rins.
Que é líder mundial na aplicação de implantes imediatos e próteses dentárias fixas para desdentados totais.
Eu conheço um país que tem uma empresa que desenvolveu um software para eliminação do papel enquanto suporte do registo clínico nos hospitais (Alert), outra que é uma das maiores empresas ibéricas na informatização de farmácias (Glint) e outra que inventou o primeiro antiepilético de raiz portuguesa (Bial).
Eu conheço um país que é líder mundial no sector da energia renovável e o quarto maior produtor de energia eólica do mundo, que também está a constuir o maior plano de barragens (dez) a nível europeu (EDP).
Eu conheço um país que inventou e desenvolveu o primeiro sistema mundial de pagamentos pré-pagos para telemóveis (PT), que é líder mundial em software de identificação (NDrive), que tem uma empresa que corrige e detecta as falhas do sistema informático da Nasa (Critical)e que tem a melhor
incubadora de empresas do mundo (Instituto Pedro Nunes da Universidade de Coimbra)
Eu conheço um país que calça cem milhões de pessoas em todo o mundo e que produz o segundo calçado mais caro a nível planetário, logo a seguir ao italiano. E que fabrica lençóis inovadores, com diferentes odores e propriedades anti-germes, onde dormem, por exemplo, 30 milhões de americanos.
Eu conheço um país que é o «state of art» nos moldes de plástico e líder mundial de tecnologia de transformadores de energia (Efacec) e que revolucionou o conceito do papel higiénico (Renova).
Eu conheço um país que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial e que desenvolveu um sistema inovador de pagar nas portagens das auto-estradas (Via Verde).
Eu conheço um país que revolucionou o sector da distribuição, que ganha prémios pela construção de centros comerciais noutros países (Sonae Sierra) e que lidera destacadíssimo o sector do «hard-discount» na Polónia (Jerónimo Martins).
Eu conheço um país que fabrica os fatos de banho que pulverizaram recordes nos Jogos Olímpicos de Pequim, que vestiu dez das selecções hípicas que estiveram nesses Jogos, que é o maior produtor mundial de caiaques para desporto, que tem uma das melhores seleções de futebol do mundo, o melhor treinador do planeta (José Mourinho) e um dos melhores jogadores (Cristiano Ronaldo).
Eu conheço um país que tem um Prémio Nobel da Literatura (José Saramago), uma das mais notáveis intérpretes de Mozart (Maria João Pires) e vários pintores e escultores reconhecidos internacionalmente (Paula Rego, Júlio Pomar, Maria Helena Vieira da Silva, João Cutileiro).
O leitor, possivelmente, não reconhece neste país aquele em que vive ou que se prepara para visitar. Este país é Portugal. Tem tudo o que está escrito acima, mais um sol maravilhoso, uma luz deslumbrante, praias fabulosas, ótima gastronomia. Bem-vindo a este país que não conhece: PORTUGAL.»

NOTA
A lista é longa e foi complementada neste blogue:
Ilustração: Google Imagens.

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