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quarta-feira, 20 de julho de 2011

CONTROLO TOTAL... ATÉ NO ENSINO PRIVADO


Quem, mas quem andará pela Secretaria Regional da Educação a fabricar documentos destes sem um mínimo de respeito pelas direcções e pelos ambientes de natureza privada? Andam a brincar à legislação? Terão um mínimo de consciência do que andam a fazer? E o Senhor Secretário, subscreve um documento desta natureza ou assinou sem ler? Afinal, o que pretendem com isto?

Esta manhã discutiu-se, no Parlamento, um projecto de Decreto Legislativo Regional que "Aprovou o Estatuto de Educação e Ensino Privado na Região Autónoma da Madeira. O PSD-M requereu o "processo de urgência", pelo que os tempos destinados ao debate foram, regimentalmente, reduzidos, para além de que todos os pareceres das várias instituições foram deitados ao "lixo". Nem uma proposta ou reflexão foi aproveitada. Pergunto, então, para que serviram os pareceres? E que falta de respeito pelas instituições (tempo e trabalho perdido) quando nem lidos foram?
Na oportunidade produzi duas declarações. A primeira sobre o pedido de urgência, a segunda sobre o diploma apresentado. Aqui ficam os dois textos.

Um projecto elaborado em cima do joelho, ou talvez não!

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,
Começamos por sublinhar que este projecto não é urgente. Não é que aqui estejamos a negar a sua importância. Não é isso que está em causa. O que está em causa é a sua complexidade e os pareceres que nos chegaram, cheios de referências que denunciam, claramente, que este é um projecto feito em cima do joelho.
Desde grosseiros erros por inadequação de conceitos até à abusiva intromissão num sector que é privado e que tem regras próprias, este projecto tem um pouco de tudo.
As escolas, os seus legítimos representantes e parceiros sociais colocam neste documento reticências que nunca as registámos em outros pareceres. Há frases arrasadoras que chegam ao ponto de considerar uma falta de respeito do governo pela orgânica e organização interna dos estabelecimentos de ensino. Não é desta forma que se defende o ensino privado.
Este projecto constitui um ataque ao ensino privado ou, melhor dizendo, um assalto do poder político e público ao ensino privado.
Está lançada mais uma confusão, agora no ensino privado. O melhor que V. Exas. poderiam e deveriam fazer era retirar este documento para uma melhor reflexão, em função dos pareceres que chegaram à Comissão.

E neste contexto, perguntamos… e as posições dos professores que trabalham nesses estabelecimentos de educação e ensino? As posições dos empresários que lideram essas instituições? Não só aquelas que responderam, mas todas as outras? Então tudo isto pode ser realizado nas suas costas, sem a sua opinião, sem serem ouvidos? O que é que o governo pretende com isto? Controlar as instituições, controlar as suas direcções, controlar os professores que lá trabalham?


Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,
O governo teve quatro anos para elaborar este projecto, mas entregou-o na Assembleia nos últimos dias de funcionamento do plenário. Estranho, não é, senhor presidente. É lógica em que se funda este governo e esta maioria. A lógica do quero, posso e mando, o que conduz a que o governo faça desta Assembleia o que quer e entende.
Um diploma desta natureza, despachado para os grupos parlamentares no dia 28 de Junho, que contou com poucos dias para uma cuidada apreciação dos parceiros sociais, que regressou à comissão apenas para dizer que “se encontra em condições de subir a plenário”, um diploma desta natureza, com este enquadramento à velocidade da luz, todos perceberão que trás consigo qualquer coisa ou muita coisa menos clara. Não apenas leviandade. É por isso que não o vamos discutir, porque não estão reunidas as condições mínimas para um debate sério.
Senhoras e Senhores dDeputados, chegaram-nos às mãos, num primeiro momento, dois lacónicos pareceres. Anteontem, ao fim da tarde, alguns outros. Esta manhã mais um. Todos, no entanto, exceptuando o Sindicato Democrático de Professores, lamentam o tempo exíguo para formular uma fundamentada opinião. E neste contexto, perguntamos, e as posições dos professores que trabalham nesses estabelecimentos de educação e ensino? As posições dos empresários que lideram essas instituições? Não só aquelas que responderam, mas todas as outras? Então tudo isto pode ser realizado nas suas costas, sem a sua opinião, sem serem ouvidos? O que é que o governo pretende com isto? Controlar as instituições, controlar as suas direcções, controlar os professores que lá trabalham?
Há um texto, Senhoras e Senhores Deputados, subscrito por cinco escolas que diz o seguinte: “(…) é com alguma perplexidade e até mesmo tristeza que verificamos que as escolas particulares e cooperativas, não foram tidas nem achadas nem foram auscultadas para a elaboração do estatuto em questão”.
Pergunta-se: para quê esta pressa, quando na gaveta estão outros diplomas muito mais importantes do que este? Concretamente, o Estatuto da Carreira Docente, adiado para Setembro, que contempla a avaliação de desempenho dos educadores e professores? O que é que se esconde por detrás disto? O que move o governo e esta maioria em deixar para trás diplomas importantes, quando tem aqui, na agenda, uma proposta do PS sobre o Estatuto da Carreira Docente, entregue nesta Assembleia há quatro meses e que pelo andar da carruagem vai cair com o fim da legislatura?
Então não seria do mais elementar bom senso, a Comissão reunir os pareceres, abrir o debate convidando para sucessivas audições vários directores dos estabelecimentos de ensino particular, ouvir e registar em relatórios circunstanciados, para então, depois, formular um debate fundamentado? Para quê esta urgência?
Na vossa bancada têm, neste momento, a Senhora Deputada Vânia de Jesus, recentemente regressada da Assembleia da República. Perguntem-lhe como é que isto acontece por aquelas bandas. Perguntem-lhe se isto seria possível na Assembleia da República? Se seria possível um debate sem relatório?
Nós não embarcamos nesta tramóia. O ensino particular é demasiado importante, enquanto oferta privada, para estar sujeito a uma brincadeira destas. É que, senhor presidente, o que aqui se está a passar é uma brincadeira, de mau gosto para o sistema educativo. O melhor que a maioria poderia fazer era suspender este debate e retirar o diploma.
Nós dissemos que não iríamos comentar o diploma na generalidade do seu articulado. E não vamos fazê-lo. Mas há aqui uma situação que não queremos deixar passar, simplesmente porque ilustra bem a concepção estrutural deste diploma. Aliás, os vários pareceres, em múltiplos aspectos, condenam as opções tomadas e interrogam-se sobre a legitimidade do poder político em interferir na esfera do privado. E têm total razão.
O ensino particular tem raiz privada. Deve responder a um princípio que é o do paralelismo pedagógico, se assim o entenderem, para que desta feita possam certificar as habilitações. Já não faz qualquer sentido, porque é privado, um diploma do governo intrometer-se nos órgãos consultivos, no conselho pedagógico, nas competências do conselho pedagógico, nas reuniões do conselho pedagógico, no controlo da assiduidade, no processo de avaliação e na avaliação de desempenho dos docentes.
Isto significa o público a meter o pé e a mão num sector que é privado. Talvez, mal comparadamente, Senhoras e Senhores Deputados, é o mesmo que o governo dizer às padarias da Região como é que se devem organizar para fabricar pão e, já agora, os tipos de pão a partir dos tipos de farinha que lá chegam. Isto não faz sentido. É meter-se num ambiente em que se deixará de perceber onde termina o público e começa o privado, ou vice-versa. É assim que defendem a oferta privada?
E questionamos: quem, mas quem andará pela Secretaria Regional da Educação a "fabricar" documentos destes sem um mínimo de respeito pelas direcções e pelos ambientes de natureza privada? Andam a brincar à legislação? Terão um mínimo de consciência do que andam a fazer? E o Senhor Secretário, subscreve um documento desta natureza ou assinou sem ler? Afinal, o que pretendem com isto?
Sabemos, então não sabemos, que quem paga manda. Sabemos que são muitos milhões anuais atribuídos ao sector privado para despesas de funcionamento. Sabemos que isso gera contrapartidas, até o espartilho na contratualização do corpo docente. E sabemos que o governo gosta de estar lá e de controlar as instituições. Não é essa, porém, a concepção que temos da sociedade, muito menos do funcionamento dos estabelecimentos de educação e ensino privados.
Evidentemente que há necessidade de estabelecer regras e que têm de existir, sobretudo, o acto inspectivo. É óbvio. Mas, não é isso que sobressai deste projecto. Por isso, votaremos contra.
Ilustração: Google Imagens.

14 comentários:

José Luís disse...

Srº Professor.
A Vânia de Jesus que decerteza teve uma experiência enriquecedora na Assembleia da República, respirou e viveu o que é realmente um parlamento democrático,onde o direito à diferença é respeitado,onde a oposição é tratada e ouvida com o devido respeito e equidade de direitos.Infelizmente esta mesma Vânia até deve sentir "arrepios de frio na espinha" logo que põem os pés nesta famigerada assembleia regional.Era bom que esta fizesse juz da sua justiça e dissesse aos madeirenses o que fora a sua experiência na Assembleia da República.Mas ... a experiência diz-nos que não tem a coragem de enfrentar os tubarões do seu partido,começando pelo UI. Cumprimentos.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Concordo: deve sentir "arrepios de frio na espinha".

Lisbonense disse...

Tanta conversa, só falou da forma. E o conteúdo? Discordou de quê?
Não sabe que os apoios financeiros têm de ser regulamentados? E que as novas normas aplicadas no Continente (pelo "seu" Sócrates) não servem estão a matar as Escolas privadas no Continente? AInda não ouviu falar do êxodo que está este ano a ocorrer por lá?
Daí que é preciso regulamentação regional para fugir a esses erros?
Não era você que defendia opções regionais diferenciados?
E não sabe que o que é apoiado por dinheiros públicos obrigam a transparência? Não é isso que defende sempre?
Mais uma vez: discordou de quê?
Da forma? Não é suficiente.

António Trancoso disse...

Meus Amigos
"Sentir arrepios na espinha"!?!
Creio que estão profundamente enganados. "Quem cala,consente."
E,consente,tanto mais, quando, no arremedo de assembleia"democrática" desta Região - contrariamente à norma da Outra - se sente "dona da quinta"...

André Escórcio disse...

Senhor ou Senhora "Lisbonense",
Tenho a impressão que não leu o meu texto ou, então eu não fui muito claro. Mas sempre lhe digo que o que está em causa não é bem o texto, mas aquilo que o governo apresentou e que mereceu um claro repúdio dos estabelecimentos de ensino particular. O problema é esse. O problema é que a Madeira disporá de um diploma face ao qual as escolas privadas não se revêem.
Talvez, se ouvissem as pessoas certas e não cozinhassem um diploma nas costas delas, teríamos um diploma bem elaborado e respeitador da entidade privada.

Anónimo disse...

Gostei das ideias do Senhor Deputado André Escórcio.Urge de facto perceber o que está em causa, quando se fala de escolas públicas e de escolas particulares.Sobretudo, se estas últimas recebem verbas do erário público, para prestarem um serviço público de educação e são - lembro aqui a Lei de Bases do Sistema Educativo - parte integrante da rede escolar.E, acrescento ainda, para permitirem o direito constitucional da liberdade de aprender e de ensinar.Claro que, onde há dinheiro dos contribuintes tem de haver prestação de contas e fiscalização.A LBSE também fala nisso.Inspecção sim, às escolas públicas e às particulares.Mas, respeito pelos respectivos regimes jurídicos, pelas autonomias,pela legislação específica do sector.Milhões para o ensino particular?Para quantos alunos e escolas?E quantos milhões para o público?Para quantos alunos e escolas?Qual o custo benefícios dos milhões em causa?Importa, de facto,discutir conceitos e perceber o que está em causa.E esperar que a educação e o ensino-quer sejam por escolas públicas ou por particulares-sejam de qualidade para todos.Em respeito pelas opções de cada um e pela gestão adequada dos recursos financeiros.

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Com este diploma, lamento, porque poderia ter existido um debate e uma auscultação séria, acabaremos por ter um documento que não satisfaz os legítimos interesses do sector privado. A escola privada constitui uma opção (LEGÍTIMA) das famílias e justifica-se pelo facto de ter uma oferta diferente a vários níveis. Assim, o que fica claro é que o poder político público quer dominar um sector que se rege por normas PRIVADAS. Lamento.

Lisbonense disse...

Sr.Deputado. Você anda às avessas. Onde o PS implementou as suas políticas as escolas privadas estão a fechar e os alunos a fugir para as escolas públicas. Como queriam que acontecesse.
Não vale a pena desconversar.
O modelo regional que dava 120 passou a dar 100. Claro que as escolas preferiam os 120 anteriores. Bem como as famílias que terão de pagar a diferença.
A insatisfação das escolas privadas só estará aí. Mas a diferença é que assim, abanam, com o PS, morrem.
É ver o que se passa no Continente.

André Escórcio disse...

Sabe, Caro(a) Lisbonense, uma coisa que me aborrece é uma certa forma de debater os assuntos. Eu quero ser muito correcto consigo e espero que o seja comigo. Penso pela minha cabeça e respeito a opinião dos outros. A sua, por exemplo.
Eu "não ando às avessas". O que se está a passar ao nível da passagem das escolas privadas para as públicas, constitui um sinal dos tempos que estamos a passar. Os cortes são muitos e as pessoas não conseguem aguentar as despesas. E, portanto, têm que encontrar solução. E essa é no sistema público, obviamente.
Eu respeito o ensino privado e apoio-o no quadro da liberdade das famílias de optarem por aquilo que desejam para os filhos. Mas tenho de dizer que defendo o sistema público, porque esse é para todos, para os que têm meios e para os que não os têm. E quero que saiba que há qualidade no sistema público, embora, muita coisa tenha de ser revista.
Mas o privado tem um quadro distinto, simplesmente porque é PRIVADO. E o privado paga-se, ou melhor, deve ser auto-sustentável, financeiramente. E por isso mesmo, deve ser gerido de acordo com as suas normas internas, de rigor e de excelência. Não deve ser o poder público a querer entrar num "mundo" que não é o seu, impondo as suas regras aos outros. Se não houver diferença, pergunto, onde termina o público e começa o privado?

Lisbonense disse...

Começo pelo fim:
O financiamento público às familias (e não às escolas), termina exactamente no que estiver definido como serviço público.
Tudo o resto, sim: paga-se e deve ser auto-suficiente.
Na primeira componente (é o serviço público que está na berlinda) o poder público intervém. Ou, se não intervém, não paga. A opção é de cada Escola e assim, da opção de cada familia.
Naquilo que o poder público paga, intervém...
No resto, não.
É assim tão difícil?
E voltando ao início, os sinais dos tempos são os inversos do que refere. O sector público não é o refúgio certo. Esse é a mãe de todos os enganos.
O sector público está esgotado e essa é a razão de todos os nossos problemas.
Criar leis (como fez o PS) que rebentam com a opção privada é um erro de palmatória.
Ali, na opção privada, as familias pagavam. Aqui, agora, no pós políticas socialistas, vêm todas (sim, as que poderiam pagar, também) para as Escolas públicas, consumir mais recursos públicos o que coloca a simples questão: mais despesas públicas num quadro em que as receitas estão - MUITO - mitigadas?
Não é por aqui que se vai a algum lado. É no sentido inverso. Financiando o serviço público educativo usufruido por qualquer familia, prestado por qualquer escola privada. E assim, reduzindo as despesas públicas com esses alunos.

André Escórcio disse...

Meu caro Lisbonense, vejo que tem uma tendência para um certo grau de ofensa, quando diz "É assim tão difícil?". Eu quero que saiba que eu bem o entendo, e entendo-o quando fala de políticas socialistas e não vai ao cerne da questão, isto é, o que pertence ao sector público (princípio constitucional) e o que pertence ao sector privado.
Não há que confundir os dois campos. O público é de oferta universal; o privado, tem regras próprias e constitui uma opção, um direito das famílias à educação que pretendem para os seus filhos.
Não há ninguém que defenda mais do que eu o ensino privado. Mas compete-me defender o sector público (por convicção)onde deve imperar o rigor e a excelência. Tão simples e tão profundo quanto isto. Ademais, vale a pena ler os múltiplos trabalhos que estão à disposição de qualquer pessoa.

Lisbonense disse...

O que pertence?
O serviço público é o que é devido por direito (constitucional).
Não pertence a ninguém, senão aos contribuintes. Que têm o direito de lhe aceder por conta dos impostos que pagam.
E são esses impostos que pagam os serviços públicos (os devidos ao público) quer sejam prestados por entidades públicas quer sejam prestados por entidades particulares.
Já todos entenderam que a opção socialista de todos os serviços públicos serem prestados por entidades públicas faliu.
Daí que se vai por outra direcção. Não socialista.
A inversa está testada e não nos levou a lugar nenhum.

André Escórcio disse...

Respondo-lhe da seguinte maneira: as parcerias público-privadas foram tidas como uma grande solução. Afinal, os relatórios, para além dos relatórios portugueses, vieram provar que sairam mais caras.
Depois, repito: a política educativa não é socialista, centrista ou social-democrata. É POLÍTICA E NÃO DEVE SER PARTIDÁRIA.
Temos um desígnio nacional e temos um dever constitucional de garantir a Educação a todos. O Privado tem de existir como mais uma oferta à disposição dos cidadãos. E esse ensino não é para todos... é para quem opta. Ninguém é obrigado a ter os filhos no sector público! Digo-lhe mais, considero um escândalo, inclusive no sector público, os pais pagarem as creches, jardins, etc. ao preço que estão a pagar. A Educação é um direito, não é uma dádiva. E a justiça social faz-se em sede de IRS. Ninguém deve pagar duas vezes.

Lisbonense disse...

Ora bem, estamos a chegar lá.
A justiça social faz-se em sede de IRS (e de IVA se quiser acrescentar). Claro que não tem sentido que quem opta pelo particular tenha que voltar a pagar pelo que já pagou.
Daí que esse serviço, a esses contribuintes, tenha que ser pago com verbas públicas.
A sua opinião é que esse valor não deve ser pago (zero apoios aos privados) pelo que quem opta pagaria mesmo duas vezes.
A politica educativa não é partidária, mas também não é pública ou privada.
É de todos.
O Ministro da Saúde já se explicou: não é o responsável do SNS. É o responsável pelo serviço público de saúde.
Aquele que é prestado ao público, quer seja pelo SNS quer seja pelo privado.
Faça a extrapolação e lá chegará.