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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

INQUIETANTE


Nessa história das mudanças políticas afigura-se-me inquietante uma mera substituição do vidro de refugo por um aparente vidro de primeira. Não deixa de ser vidro, frágil e quebrável. A questão é exatamente essa, não basta substituir o copo por outro de melhor design. Interessa, sobretudo, conhecer a casta, se o processo de fabricação foi ou não diferente e se o conteúdo está ou não passado.
 
 
Está a arder!
Só nas ditaduras a alternativa é complexa. Ainda assim são derrubáveis. Muito mais esta assente em uma “máfia boazinha”. A História está repleta de políticos que se consideraram insubstituíveis, que criaram monstros tentaculares unidos a uma só cabeça, que geraram cumplicidades sem fim, que deram de comer a um corpo subserviente e que, por isso, cobraram o dízimo político. Porém, mais cedo que tarde, as tropas, alegadamente fiéis, caíram ou desertaram pelas circunstâncias, pelo cansaço e pela visão estrábica e sectária do desenvolvimento. Tudo começa por uma fase de desconfiança, depois, pelos dados conjunturais, que levam o seu tempo a alastrar mas, qual onda, tornando-se gigante, acaba por chegar a uma maioria que os derruba, implacavelmente, mesmo quando, política e culturalmente sejam significativos os défices de conhecimento estruturado. Muitas vezes basta que os furos do cinto encolham, que aos filhos falte o básico, que a emigração seja a alternativa e que, sem terem contribuído para isso, se sintam espoliados na carteira e nos direitos sociais. Aí, tenham a certeza os senhores do poder e os senhores do "deus" mercado, não há volta a dar, melhor, há revolta a dar contra quem os enganou durante muito tempo.
E nessa história das mudanças políticas afigura-se-me inquietante uma mera substituição do vidro de refugo por um aparente vidro de primeira. Não deixa de ser vidro, frágil e quebrável. A questão é exatamente essa, não basta substituir o copo por outro de melhor design. Interessa, sobretudo, conhecer a casta, se o processo de fabricação foi ou não diferente e se o conteúdo está ou não passado. A metáfora serve de aproximação ao plano da análise política. O problema não está, sequer, no papel de celofane e no laço do embrulho, mas no conteúdo, na casta portadora de um aroma frutado que se prolongue no futuro. Quem disse que não há alternativa?
Ilustração: Google Imagens
NOTA
Opinião, da minha autoria, publicada na edição de hoje do DN-Madeira.

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