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domingo, 3 de abril de 2016

OS VAMPIROS ESTÃO DE VOLTA


O Fundo Monetário Internacional, depois de, por diversas vezes, ter assumido que a austeridade foi longe demais, vem agora, através de Christine Lagarde, duvidar da capacidade de Portugal cumprir metas. Défice inferior a 2,9% só com Plano B, diz o FMI. E o que tal plano b) significa é, apenas, mais austeridade, mais constrangimento para as famílias e continuidade do empobrecimento. O resto é conversa fiada em que se especializaram as instituições porta-vozes dos grandes interesses financeiros. Montaram, paciente e obstinadamente, uma complexa engrenagem onde necessário se torna uma inteligência capaz de poder escapar ao redemoinho. Há quanto tempo a direita política fala de um plano b)? No essencial, estão todos umbilicalmente interligados, FMI, União Europeia, agências de rating e seus sequazes.



Christine Lagarde, leio, "não acredita nas metas orçamentais que António Costa traçou para Portugal e pede mais esforço e menos generosidade. Adiar a reposição integral dos salários dos funcionários públicos, manter a sobretaxa do IRS e preparar um plano B que permita cumprir as metas do défice são algumas das recomendações do FMI". Ora, esbater a pobreza, dinamizar a economia assente em um outro paradigma é coisa que não lhes interessa. A receita que definiram é a que se ajusta ao pensamento dominante. Austeridade, privatizações a eito, emprego precário, substancial redução dos apoios sociais, tudo para defesa dos "investidores" e nada em defesa do bem-estar mínimo das populações. Nem se coíbem de "invadir" os países, remetendo, de longe, o discurso desestabilizador de qualquer dinâmica alternativa. Uma vergonha! Tenhamos presente quando o grego Varoufakis quis, na UE, discutir economia, teve como resposta: "você até tem razão mas vamos esmagar-vos mesma". A UE discute Tratados (porquê e com que interesse!) os povos querem que se discuta Economia. Li em uma entrevista a Varoufakis: "O Eurogrupo toma decisões quase de vida ou morte e nenhum membro tem de prestar contas a ninguém” (...) "Afinal o que temos é um grupo inexistente que tem o maior poder para determinar as vidas dos europeus. Não presta contas a ninguém, dado que não existe na lei; não há minutas das reuniões; e é confidencial. Por isso nenhum cidadão sabe o que lá é dito… São decisões quase de vida ou morte e nenhum membro tem de prestar contas a ninguém" (...) "Quando falava nas reuniões, com argumentos económicos preparados, "as pessoas ficavam a olhar para mim, como se não tivesse falado (…) Bem podia estar ali a cantar o hino da Suécia que ia receber a mesma resposta (…) Nem sequer havia mal-estar, era como se ninguém tivesse dito nada", revelou Varoufakis. (...) O que mais impressionou Varoufakis nas reuniões a que assistiu foi a "completa ausência de qualquer escrúpulo democrático por parte dos supostos defensores da democracia". O ex-ministro da Grécia dá um exemplo: "Ter várias figuras muito poderosas a olharem-me nos olhos e dizerem ‘Você até tem razão no que está a dizer, mas vamos esmagar-vos à mesma".
É esta Europa que temos e é neste mundo que o FMI funciona. Entretanto, porque tudo tem um limite começam a surgir alguns movimentos contra esta lógica própria de sanguessugas. "Mário Centeno, ministro das Finanças de Portugal, faz parte de um grupo de oito ministros das Finanças europeus que escreveram uma carta à Comissão Europeia a contestar a fórmula de cálculo do défice estrutural, que serve de base à definição do esforço orçamental que os países têm de fazer todos os anos, para cumprir os tratados europeus. A carta está ser avançada pelo jornal espanhol Expansión, numa notícia sobre um movimento de “rebelião” liderado por Espanha e por Itália. Além destes dois países e de Portugal, assinam a carta Luxemburgo, Lituânia, Letónia, Eslovénia e Eslováquia. A carta é dirigida ao vice-presidente da Comissão, Valdis Dombrovskis e ao comissário Pierre Moscovici, com conhecimento do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem. Os governantes apontam para "incoerência" no atual sistema. O principal argumento é que o défice estrutural é calculado em função do PIB potencial – um indicador "desconhecido” e que portanto gera estimativas com “um elevado grau de incerteza”. A utilização do défice estrutural produz assim "diferenças significativas" entre diferentes Estados membros quando se avalia se há ou não cumprimento dos objectivos do défice estabelecidos pela União Europeia. Mário Centeno assina a carta depois de um Orçamento do Estado para 2016 marcado por intensas discussões com a Comissão Europeia sobre o esforço de ajustamento orçamental necessário para este ano. Bruxelas impôs mil milhões de euros de medidas adicionais, face às intenções iniciais do Governo, precisamente com o argumento de que seria necessário reduzir o défice estrutural em linha com as regras europeias" (ionline).
E assim andamos nós nesta embrulhada!
Ilustração: Google Imagens.

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