Toda a gente conhece a situação aflitiva da generalidade dos comerciantes da Região. Ninguém ignora o encerramento de centenas de empresas, o despedimento de cerca de 4000 empregados do comércio tradicional, onde, maioritariamente, os empregos eram estáveis, e as dificuldades que muitos lojistas atravessam para manterem abertos os espaços comerciais e os colaboradores que têm à sua responsabilidade.
É evidente que é salutar para o comércio e para os consumidores a existência de uma economia de mercado que proporcione dinamismo, qualidade e apetência pelo consumo. Só que, manda o bom senso que, quem governa, tenha presente as limitações do espaço territorial, os factores ambientais e competitivos, o comportamento dos consumidores, o número de habitantes e, entre outros, os dados sobre a capacidade económica da população. São aspectos que devem ser considerados na lógica de um mercado assente na dinâmica da oferta e da procura. Se não o forem, por desequilíbrio relativamente à realidade económica, cultural e social das populações, as consequências repercutem-se neles próprios. É que, de uma forma sumária, independentemente de outros importantes factores de análise que constituem as macro-influências do mercado (demográficas, tecnológicas, políticas, alcance e crescimento do mercado, fase do ciclo dos produtos, sensibilidade e tendência para o seu consumo, etc.) torna-se absolutamente necessário assentar os investimentos em três questões simples e profundas: qual o número de consumidores gerais, quais são os consumidores potenciais e quantos são os consumidores reais (?). Grosso modo, apenas como exemplo, podemos ter 253.000 consumidores gerais, os potenciais poderão ser 50.000 e os reais apenas 10.000, distribuídos pelo número de operadores que trabalham num determinado ramo.
Vem isto a propósito da abertura de mais uma grande loja, esta com 3.500 m2, dois mil dos quais, segundo li, de exposição comercial. Trata-se da Moviflor. Ora, isto significa, para quem conhece espaços comerciais desta natureza, vocacionados para produtos sujeitos a uma significativa economia de escala, onde o custo do produto tende a ser menor com o aumento da produção, que a sua excessiva introdução em mercados limitados, é geradora de problemas muito complexos entre os demais operadores. O que acontecerá, certamente, neste mercado regional do mobiliário, onde muitos já andam de corda no pescoço (mesmo antes da crise económica), é que esta marca constituirá mais um aperto de consequências previsíveis. Foi a proliferação (excessiva) de centros comerciais de grandes dimensões (hoje correspondem a dois terços do mercado geral quando, dizem os especialistas, por razões de sustentabilidade, não deveriam ir além de uma proporção de 50% relativamente ao comércio tradicional), foi a instalação de empresas no ramo da construção, bricolage, decorações e jardim, agora é no ramo do mobiliário e aqui vamos. Ora, para estes sobreviverem alguns terão de morrer. E vão morrer, melhor, estão a morrer, com custos sociais muito sérios.
Este é um assunto muito complexo e vasto. Todavia, em síntese, provavelmente os empresários da Madeira não estariam no sufoco em que se encontram, se o governo regional tivesse avançado para um consistente plano de ordenamento do comércio que, embora não subvertendo a lógica do mercado e a liberdade, estabelecesse as regras em função das características deste mesmo mercado geral, potencial e real.
Curiosamente, assalta-me uma pergunta: no ramo alimentar, que razões levam a que a cadeia LIDL, que adquiriu alguns terrenos para competir no espaço regional, continue sem poder operar? Que tipo de pressões existem, num ramo de consumo diário obrigatório, importante para a economia familiar, porque de qualidade e substancialmente mais económico do que outros operadores, para que aquela cadeia não funcione? Interessante, não é?
1 comentário:
Senhor Professor
Para esclarecer as suas dúvidas,talvez não fosse má ideia perguntar ao Sá,ao Modelo e ao Pingo Doce...
Isto de contribuir sem contrapartidas...
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