As instabilidades são normais nos partidos políticos. Receio tenho dos partidos a uma só voz. Eles podem esconder e escondem certamente, tensões muito mais graves do que aquelas que outros apresentam aos olhos de todos. O PS ao nível nacional, ainda há três anos e meio, teve três linhas de pensamento estratégico, debatidas publicamente e verificou-se, no final, que se tornaram importantes no que diz respeito à capacidade de governação do País. Não veio nenhum mal por isso. Os partidos a uma só voz, parecendo que o são, acabam por demonstrar, claramente, que os grupos existem e, subrepticiamente, digladiam-se. Tome-se em consideração o PSD da Madeira onde, porventura entre outras, é público e notório que há grupos em fila no assalto ao poder. Ninguém ignora que entre o Dr. Albuquerque e o Dr. Cunha e Silva existem acentuadas divergências e interesses de poder. Que no meio disto está o Dr. Jardim e que não foi um mero "fait-divers" a questão de mandar o presidente da Câmara do Funchal para Bruxelas. Atrás destas figuras estão "exércitos" prontos para o combate. Estou convicto que poucos duvidarão que assim é. É uma constatação da realidade. Mas isto passa-se no PSD da Madeira que é poder e passa-se no PSD nacional onde é oposição.
Quando se trata dos partidos da oposição madeirenses, particularmente no que diz respeito ao PS, coitados, cai o "carmo e a trindade", porque estão desunidos, são sempre os mesmos, não se entendem, enfim, aproveita-se o momento para descarregar e esmagar, potenciando e reforçando o poder de quem lidera esta terra há 33 anos. Não se olha para o importante, para as propostas alternativas, se elas têm ou não credibilidade política, se existem ou não pessoas capazes de substituir os actuais secretários, tudo é esquecido e, facilmente, alguns caiem na ratoeira da facilidade onde apenas vêem o óbvio. O trabalho que é feito na Assembleia, repito, o valor dos projectos apresentados, a defesa de uma linha de pensamento estratégico, as fugas do poder ao debate aos olhos de todos, o condicionamento no uso da palavra, tudo é esquecido ou menorizado e o que é trazido à superfície são as questões internas partidárias. Não deveria ser assim, mas é. Esquecem-se de um aspecto importante que pertence aos manuais da gestão dos recursos humanos, que nos dizem que onde existem pessoas existem conflitos de ideias, de valores, de convicções, de estilos e de padrões. E que isto não pode ser evitado sob pena de anular as ideias e a própria criatividade. Evitar pode significar gerar uma atmosfera falsa e sobretudo de insegurança. Portanto, só resta saber gerir os conflitos, transformando os desacordos em oportunidades visando a melhoria do desempenho.
1 comentário:
Tal como o senhor, tenho grande receio em unamismo dentro de partidos políticos - algo que por exemplo, não é compartilhado pelo dr. Alberto João Jardim, segundo frase do próprio na pseudo-entrevista conduzida por Mário Crespo.
A discussão interna dentro do partido serve, mais que passar uma simples imagem de diversidade e aglutinação, é um poderoso instrumento de auto-crítica servindo quer para limar aresta, quer para englobar factos novos a debate.
Um partido enquanto agrupamento de pessoas, deve saber lidar com a diversidade de opiniões, posturas ou ambições que cada militante possui, gerindo tudo isto em prol do partido em detrimento do salvaguardar político individual dos elementos que o compõem. Os partidos, mais que montras de autopromoção, são veículos privilegiados no nosso sistema político, da vontade do eleitorado e da sociedade, agrupando cada um deles, tendências e visões comuns de franjas da sociedade, estando ligadas por aquilo que se convencionou designar por ideologia [uns mais que outros compreenda-se].
Daí que, há que ter em conta que a imagem externa é deveras importante, ainda para mais num ano com três actos eleitorais.
Os portugueses por norma, gostam de políticos e partidos que passem uma imagem de robustez e autoridade. Pode ser pelo passado corporativo do país, pode dever-se a uma matriz cultural muito homogénea em termos de definição de nação, mas o certo é que por norma, os portugueses dão imenso crédito a estas características.
Os madeirenses não são excepção, ainda para mais numa terra que é governada com mão férrea há mais de 30 anos e com a herança histórica que possui.
Já escrevi em muitos outros espaços, que o eleitor comum tende a reduzir o seu enfoque a questões que tocam directamente no seu dia-a-dia. Ou seja, não tem interesse [por vezes capacidade] em expressar uma visão a médio-longo prazo, nem a reflectir nas consequências de certos actos. Associando-se isto às deficientes capacidades capacidades educacionais e à ausência de estímulos à capacitação e desenvolvimento de análise crítica, é fácil verificar o porquê da política de Betão dar tão bons resultados. É aquilo que gera imediatos ganhos eleitorais, dado que os resultados estão à vista e são facilmente mensuráveis. Todas as outras iniciativas e medidas propostas para reverter o estado do actual paradigma falharão, enquanto esta premissa não for entendida. A mensagem tem de chegar ao destinatário - o eleitor-comum - e por uma multiplicidade de factores [sejam externos ou sejam internos ao partidos na oposição] esta não tem acontecido.
O poder não é eterno. O poder desgasta. Por norma em Portugal, não são os partidos da oposição que ganham eleições. São os que estão no poder que os perdem. E com 33 anos de poder, o PSD-M já evidencia muitos sinais de desgaste, que a oposição [incluíndo o PS-M] tem e bem aproveitado.
Retorno assim ao motivo que me fez escrever estas linhas. Esta autêntica "chicotada" provoca na minha opinião alguns danos na boa imagem que o PS-M vinha produzido [face ao deserto de ideias evidenciado pelo governo regional]. E passa para o exterior a imagem de um partido desunido, dando uma arma de arremesso eleitoral ao PSD-M [podendo o líder do PS-M tido razão ou não].
Daí que, visto de fora, considere que o "timming" não tenha sido o ideal.
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