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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

"BULLYING" É "FOLHETIM" PARA O DIRECTOR REGIONAL DE EDUCAÇÃO!

Não se passaram muitos anos, na Escola onde sou docente efectivo (Gonçalves Zarco), na qualidade de Orientador de Estágio Pedagógico de cinco jovens Licenciados pela Universidade da Madeira, numa acção de carácter científico-pedagógica, um desses candidatos a professor, desenvolveu e bem o tema "bullying" pela importância que ele vinha assumindo no quadro das relações entre os alunos. E já num outro momento, a Escola tinha dedicado um dia inteiro ao debate, turma a turma, sobre este assunto, com uma sessão final no pavilhão desportivo onde foram equacionadas as conclusões. Esses dois momentos demonstraram que a Gonçalves Zarco era um estabelecimento de ensino preocupado com esse fenómeno.
É que o "bullying" não é uma brincadeira dos pátios e própria das idades mais jovens. O "bullying" tem outros contornos, é agressivo, reveste-se de uma atitude repetitiva e perpetrada, normalmente, por aqueles que se apresentam "mais fortes" em relação aos demais. Não é só a violência, a agressão física que pode estar em causa, mas também, por razões várias, a violência social, geradora de uma forma de "apartheid" que isola a vítima causando-lhe danos psicológicos e de inadaptação.
Este fenómeno dos nossos dias está espalhado por todos os estabelecimentos de ensino. Há Dissertações de Mestrado e Teses de Doutoramento sobre esta matéria. É um fenómeno que não se circunscreve, apenas, à escolaridade obrigatória, mas é transversal a todos os graus de ensino, inclusive, universitário, no sector do trabalho e até entre pessoas que habitam o mesmo edifício. Sendo assim, não sendo um fenómeno novo, trata-se, no entanto, de um assunto que exige atenção e preocupação no sentido de reconhecer a fronteira entre o que é zanga momentânea e aquilo que assume um carácter permanente e negativo, reflectido no silêncio dos ofendidos e na sua incapacidade de resposta. É essa luta desigual e marcadamente negativa que os responsávesis devem estar atentos.
Ora, muito grave é um Director Regional de Educação, perante qualquer que seja a verdade dos factos, assumir, publicamente que "(...) isso não existe. Eu acho que isto não é nada. É um folhetim. Briga entre pequenos sempre houve e resolvem-se com o tempo". Quando li estas declarações não quis acreditar. Voltei atrás e reli. É por estas e por muitas outras que a Escola está como está. Quando um político não sabe e não consegue perceber a dimensão de um fenómeno o melhor é estar calado.
É evidente que não sei nem estou interessado em conhecer os contornos da situação descrita. Isso diz respeito, em primeiríssimo lugar aos órgãos do estabelecimento de ensino e aos pais do aluno. Aquilo que aqui comento é a atitude do Director Regional que deveria mostrar-se conhecedor desde fenómeno, mostrar-se atento e preocupado, depositando toda a confiança na Direcção da Escola para resolver situações desta natureza. Mais do que olhar para um caso deveria olhar para o universo dos casos, sobretudo quando se sabe que há, por ano, uma média de 100 alegados crimes cometidos no espaço escolar na Madeira. Os comportamentos associados ao "bulliyng", salienta o DN, "são infligidos cada vez mais sobre alunos mais novos: 63 das vítimas (a maioria) tinham idade compreendida entre os 6 e os 15 anos. Neste grupo etário, a violência aumentou 24%, revelam os dados do programa da Escola Segura, reportando-se a factos ocorridos no ano lectivo 2006/07". Quando os dados são estes e quando os investigadores aconselham atenção sobre os mesmos, não pode um Director Regional de Educação vir falar de um "folhetim". É de mau gosto e revelador de falta de conhecimento.

1 comentário:

Anónimo disse...

Senhor Professor
Andava eu a dar tratos ao miolo, para,o mais sucintamente possível,classificar, as agressões antidemocráticas que, o caudilho e a sua maioria par(a)lamentar, fazem à legítima Oposição.
Muito obrigado,Senhor Professor!
Agora já sei!
É isso mesmo! É "bullyng"!
De uma matriz marginal mais pura e dura!