Num espaço de 24 horas segui dois trabalhos que me chocaram. Eu sei que é assim mas, quando se ouve o relato, os pormenores e a voz dos que testemunham os factos, é evidente que isso bole com os nossos sentimentos. Ontem, foi uma declaração do Senhor Cónego da Sé do Funchal que, desassombradamente, chamando a atenção de quem de direito, falou dos que, diariamente, batem à porta narrando os seus dramas e pedindo o necessário apoio. Não falou de cor. Falou de casos concretos. De jovens e menos jovens, de desempregados, de gente que não consegue sobreviver nesta selva regional. A Sé é uma das portas, mas há muitas portas por essa Madeira-Nova fora!
Esta manhã, na RDP-M, num contacto com a Casa da Madeira de Coimbra, fiquei a saber que há estudantes madeirenses a regressarem à Região porque não conseguem fazer face aos encargos dos cursos que frequentam. O presidente da Casa da Madeira foi clarinho: há alunos que passam muitas dificuldades, que esticam ao máximo as magras receitas e, por vergonha, remetem-se a um mundo de silêncios acabando por desistir do sonho que alimentaram vários anos. Durante aquela peça jornalística tive tempo para colocar-me na pele de pai e na pele de filho (aluno). De pai impossibilitado de responder à necessidade sentida; de filho (aluno) que olha para o pai com um compreensivo aceno de simpatia, mas também para a vida, na qualidade de governado que se interroga: que raio de governo este que não deita um pingo de sentimento pelo drama e pelo direito que todos têm à Educação.
Mais pasmado fiquei quando o presidente daquela instituição referiu que tinha dirigido uma carta à Secretaria Regional de Educação, solicitando um apoio (não quantificado) que ajudasse a resolver entre outros, problemas desta natureza, e que a resposta tinha sido negativa. Nem um cêntimo. Um governo que assim se comporta, social apenas em teoria, distante de valores humanistas, que não responde às necessidades, que, neste caso, permite que os que menos ou nada têm, envergonhados, tenham de regressar à sua terra, não merecem governar. Porque a questão que se coloca é apenas esta: se os filhos deles puderam singrar, se as minhas filhas atingiram o objectivo, porque razão aos outros da longa lista de desprotegidos não lhes são garantidas possibilidades de atingirem o sucesso?
É óbvio que isto não se resolve com uns dinheirinhos de umas Fundações que por aí andam, com objectivos bem claros, sublinho, que distribuem uns milhares euros mas olhando para as contrapartidas. Não perdem nada. Ademais, aqueles dois ou três minutos na televisão por onde passam as concentrações de estudantes e onde falam dos cheques emitidos, valem ouro do ponto de vista partidário e das instituições envolvidas. Ora bem, o problema não se resolve por aí. Resolve-se com medidas de governo, com apoios directos (na formação) e indirectos (nas famílias), resolve-se acabando com essa tretazinha dos "jovens em formação" (antiga Juventude e Trabalho) e aplicando em situações prioritárias, resolve-se não desbarando os dinheiros públicos e aplicando-os com rigor. Porque os pais, os economicamente mais desfavorecidos, muitos já fazem das tripas coração. Conheço muitos casos na designada classe média, que sobrevivem aqui para que os filhos possam estudar lá. Mas esta é a nossa terra onde há mais direitos do que justiça social. Não me digam que esta é também uma responsabilidade do Engº Sócrates!
1 comentário:
Senhor Professor
Culpas,aqui e além,todos terão!
Mas,fundamentalmente,a verdadeira culpa...é minha, que sempre votei e continuarei a deixar-me levar pelos cantos de sereia dessa gente sem Princípios nem Escrúpulos.
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