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segunda-feira, 8 de junho de 2009

PERANTE UMA SITUAÇÃO MUITO GRAVE PEDE-SE HUMILDADE E SENTIDO DE RESPONSABILIDADE

O resultado do PS-M no acto eleitoral de ontem merece uma séria reflexão no interior dos órgãos do partido. Digo mais, não apenas nos órgãos mas junto das bases do partido para que tenham consciência do suicídio colectivo. Este resultado é extremamente preocupante e não prognostica um futuro de curto prazo promissor em função dos actos eleitorais que se avizinham. Fundamentalmente porque não se pode, levianamente, atribuí-lo apenas à conjuntura nacional, isto é, de um povo eleitor zangado com PS por um conjunto de políticas, ditas reformistas (!), porque a verdade é que, por aqui, a história não pode ser analisada apenas por esse ângulo: essencialmente porque esta é uma região autónoma, onde se transpira política ao segundo, porque há pobreza aos montes, há gente a passar mal, há 12.000 desempregados, há empresários aflitos, há falências porque a economia está visivelmente estagnada, porque há um governo há 32 anos consecutivos no poder e com uma montanha de fragilidades. Factos que, por si só, justificariam um resultado, no mínimo, para o PS-M, acima dos 30%, aliás, como já teve na sua fase de crescente credibilidade política e social. Se é válida a leitura de um cartão amarelo ao governo da república também é válida a mesma postura do povo da Madeira relativamente ao governo regional. Até porque, o quadro genérico da complexa situação da Madeira não tem nada a ver com a Lei das Finanças Regionais. O drama vem de longe e em crescendo. E tanto assim é que, ainda há cinco anos, nestas mesmas eleições, o PS-M obteve 30,6% da vontade dos eleitores e 29,03% há dez anos. Dez anos depois, baixar para uns ridículos e preocupantes 14,69% que constitui metade da sua base eleitoral tem, obviamente, que ser bem explicadinho, sem subterfúgios e com total assunção de responsabilidades políticas.
Ademais, o Dr. Emanuel Jardim Fernandes foi um excelente candidato, não só por aquilo que ele representa na história do PS e pela sua credibilidade social, como pelo excelente mandato que fez no Parlamento Europeu nos últimos cinco anos. Não foi, portanto, o candidato que deitou por terra a esperança de um rápido regresso do PS-M (após o "peblescito" de 2007) aos patamares que lhe permitissem acalentar a esperança de ganhar autarquias, eleger o mesmo número de deputados à República e bater-se de igual para igual nas eleições regionais de 2011. O meu Amigo Emanuel é vítima e não culpado.
Ora, aquele resultado (14,69%), repito, é muito preocupante porque pode tornar, por muitos anos, a expressão eleitoral do partido socialista meramente residual no espectro político regional. É por isso que entendo que estando em causa a Madeira e o Porto Santo e a própria Democracia, esta não é hora de egoísmos nem de teimosias porque o PS-Madeira, enquanto instituição política, é preciso que as pessoas tomem consciência disto, é muito mais que meia-dúzia de dirigentes circunstancialmente eleitos. O PS tem uma missão a cumprir, tem uma responsabilidade política e um desígnio que se enquadram na construção de uma resposta alternativa de poder. Essa resposta não se compadece perante leituras amadoras do processo político. Nem leituras nem posturas.
Daí que, do meu ponto de vista, se imponha clarividência relativamente ao que se está a passar e, neste pressuposto, aconselhe uma agenda composta por cinco determinantes pontos a cumprir de forma imediata:

1. A convocação de um encontro (audição seleccionada) de dois dias, que reúna um conjunto de personalidades da história do PS (que se afastaram ou foram afastados), deputados (europeu, nacional e regional), direcção do PS, direcção da JS e independentes convidados, visando o debate sereno das possíveis saídas para a crise e de onde resulte a cicatrização das feridas abertas. Um conclave não de catarse mas de estudo e definição de políticas.
2. Rápida definição das candidaturas às autarquias locais, sobretudo à Cidade do Funchal (há figuras que não se podem colocar à margem porque o seu patamar de intervenção é outro) e concelhos onde é possível recuperar os ganhos anteriores, só possível com personalidades de reconhecida idoneidade política e social, o que implica, uma vez mais, ultrapassar clivagens que são públicas e notórias.
3. Definição de uma estratégia política baseada na audição entretanto realizada que implica olhar também para o terceiro acto eleitoral deste ciclo: legislativas nacionais.
4. Clara assunção perante toda a Região que a actual Direcção do PS não se recandidata no próximo acto eleitoral interno, aliás, como foi primeira preocupação dos seus membros. Na prática, esta Direcção mais do que política seria gestionária do processo político.
5. Rápida indicação de uma candidatura de unidade, técnica e politicamente credível, para o próximo acto eleitoral interno visando as eleições regionais de 2011.

Face à proximidade dos actos eleitorais não encontro outra saída possível. Trata-se de, paciente e rapidamente juntar e colar os cacos dando para o exterior um claro sinal de um partido que merece apoio popular e que esse apoio é determinante para o futuro da Madeira e do Porto Santo.
O PS-M tem, portanto, de operacionalizar um grande esforço nos meses que faltam para os próximos actos eleitorais sob pena de uma descredibilização total. É preciso ter presente que o PS-M está fragilizado na maioria dos concelhos, por lutas internas, por falta de tacto no relacionamento e solução dos problemas que foram surgindo, embora não parecendo no discurso político está a braços com uma gravíssima crise no seio do seu grupo parlamentar, a comissão política tem muitas vozes discordantes e, no meio de tudo isto, uma direcção olhada de esguelha pelas estruturas nacionais, o que me leva a dizer que nem nos momentos mais conturbados da história do PS a situação foi tão frágil e dramática. Esta é a realidade, infelizmente caracterizo-a, mas não há que escondê-la, em nome do futuro. Até porque é preciso respeitar os eleitores e é preciso respeitar tantos homens e mulheres, militantes e independentes, que ao longo de muitos anos, com prejuízo nas suas vidas, ofereceram a cara e o trabalho voluntário na defesa de uma política.
E que fique claro que nada do que aqui escrevo tem a ver com pessoas mas com as suas políticas. As pessoas merecem-me a melhor consideração. E tenho por elas, confesso, consideração e respeito pessoal. O problema é, do meu ponto de vista, mais profundo e ultrapassa o voluntarismo e, muitas vezes, a chamada gestão do metro quadrado que é quanto mede a mesa de trabalho de um Deputado na Assembleia. Temos de ter coragem para estancar a trapalhada e a ausência de rumo ou de um rumo difuso que não é entendível pelo comum dos cidadãos. Isto parece-me absolutamente determinante.
Aliás, quando esta direcção se propôs liderar os destinos do PS de uma forma “institucional e de transição” eu fui um dos que, publicamente, no Diário de Notícias, assumiu que esse Congresso deveria ser adiado pelo menos quatro meses para que o Partido encontrasse uma solução estável, duradoura e socialmente credível. Não quiseram e embarcaram na aventura. O resultado está aí.
Ora, manter o mesmo quadro significa que os resultados serão, nas próximas eleições, os mesmos ou piores. Parece-me óbvio. Para mim e para muitos que acreditam em princípios e valores e que centram no Ser Humano a primeira finalidade do exercício da política, obviamente que constituirá um rude golpe se tal vier a acontecer.
Nota:
Quanto ao resultado do PS Nacional, tal como referiu Manuel Alegre, o governo terá de repensar as suas políticas de confronto sistemático com vários sectores profissionais. Há muito que venho a dizer isso com particular preocupação no sector da Educação. O PS tem uma matriz de esquerda e é nessa esquerda que se deve situar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Boas ideias para ultrapassar o actual impasse... a caminho do abismo.
Participarei na condição de um processo de reflexão aberto, sério e com consequências estratégicas e práticas.
Proponho que o forum de reflexão do item 1 do Escórcio deveria ser organizado por um sexteto, a saber: Presidente Honorário EJF, a presidir; presidente do PS-M; dois deputados da AR; dois deputados da ALM, sendo os deputados da AR e ALM escolhidos pelos próprios.
Maximiano Martiins