Confesso a minha extrema dificuldade em entender certas pessoas do mundo da política partidária. Parecem denunciar uma característica sofredora, de acomodação às situações, de colocar as eventuais amizades pessoais acima das convicções e, sobretudo, do quadro real que deriva dos actos eleitorais. Confesso, também, a minha perplexidade sobre um mundo de estranhos e tácticos silêncios em claro desrespeito por um Povo que está lá fora, ansioso e desejoso que lhe apresentem dados sobre os quais possa reflectir, refazer posicicionamentos e acreditar na esperança de um novo tempo. Estranho, ou talvez não, que haja pessoas que não admitam que este pântano é o que melhor serve quem há mais de trinta anos governa como quer e entende a Região. Deixa-me prostrado o facto de não se perceber ou de não se querer perceber que o que está em causa é muito mais importante que um efémero lugar ou cargo institucional, remunerado ou não, que o regime democrático exige. Mais. Considero pouco inteligente que pessoas com formação académica e política não entendam que só com profissionalismo, rigor, disciplina, quadros, imagem, credibilidade social e projecto um partido pode almejar o poder. E que só isso, por vezes, não chega face ao poder tentacular que os poderes de longa duração, tipo "duracel", manifestam. Custa-me aceitar que pessoas haja que acreditem que perante um carro de combate blindado e de lagartas trituradoras, munir-se de umas quantas catanas, permitam-me, de passagem, esta imagem bélica, será suficiente para desapear um poder mesmo que velho, corroído e podre, como se ele caísse nas mãos pelo desgaste do próprio tempo! Que acreditem que, por falta "combustível" o carro de combate não passará de uma velha peça de museu mais dia-menos-dia. Há uma grande dose de ingenuidade em tudo isto e isso paga-se (pagou-se) nas urnas, com juros.
Ora, o conflito pessoal, a velha história de uns contra os outros, o olhar atento para quem se move no xadrez político interno, as aparências de paz, um pé aqui e outro ali, as ligações nem sempre transparentes a grupos económicos, o tal olhar para o umbigo que apenas se aplica aos outros, o discurso político pouco afinado, incoerente e nada determinado, parece-me também evidente que não ajuda, não tem ajudado, à necessária e imprescindível credibilização. O afunilamento das questões que se colocam, a fulanização e a ausência de humildade política para reconhecer capacidades, competências e aceitação popular, acabam por constituir a cereja no bolo que tanto agrado proporciona a quem escreve em nome do regime.
No meio de tudo isto, ouço, que o "adversário está lá fora" (é verdade que sim) mas os mesmos que o assumem (e bem), mostram-se incapazes de resolver os jogos dos adversários que estão cá dentro. Para esses, nunca é tempo de falar de coisas sérias e quando alguém fala, pois é, lá está(ão) ele(s), a denegrir(em), a instituição, a deitarem abaixo o que tanto custa construir. Enganam-se os que assim pensam. Eu, pelo menos, parto do princípio que as sociedades movem-se no conflito e na reprodução. As instituições também. Conflitua-se através do debate elevado para reproduzir uma situação melhor. Tome-se, por exemplo, o debate interno do PS, em 2005, onde João Soares, José Sócrates e Manuel Alegre, aos olhos de todos os portugueses, numa complexa fase interna do PS, abriram-se à sociedade com os seus projectos. O conflito reproduziu uma maioria absoluta.
É evidente que há momentos para analisar percursos e discutir projectos. É no final dos mandatos. É este o caso pois até já deveria ter acontecido. Não há mal algum que isso aconteça. A contrária é que me parece preocupante porque corresponde a uma estratégia de interesses pessoais que não são certamente os do Povo, os daquele Povo sofredor, abstencionista e descrente até aquele Povo escolarizado e culto, farto e cheio de tudo isto, que deseja que chegue aquele dia para deitar o voto na esperança. O que significa que, em todo este processo precisamos de mais cérebro do que músculo.
Escrevo e desabafo assim por convicção, por respeito a princípios e valores sociais, económicos e culturais, porque há muitos anos que sirvo a instituição PS mas nunca, nunca, dela me servi para atingir fosse o que fosse. Ocupei lugares de destaque na hierarquia interna mas nunca fui candidato a lugares de prestígio político nacional. Nunca gostei de nadar em meias-águas e, de quando em vez, retornar à superfície para respirar. Nunca andei resguardado na toca só de lá saindo para o ataque. Nunca precisei de andar em bicos-de-pés nem precisei de padrinhos para ser notado. Tenho feito, apenas, o meu trabalho com o rigor necessário, falando olhos nos olhos com as pessoas. Não tenho inimigos, tenho pessoas com as quais discordo. Agora, o que nunca me verão fazer é uma vénia perante aquilo que não acredito. Sou assim e, como diz o povo, "quem dá o que tem a mais não é obrigado!".
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