O Senhor Presidente da Câmara do Funchal sublinhou ontem que a experiência do Park & Ride foi um projecto falhado. Não estou nem minimamente de acordo. O problema é que o Funchal nunca dispôs, em parceria com os concelhos limítrofes de uma correcta política integrada de transportes. Todas as propostas que foram feitas pela oposição, mormente pelos Vereadores do PS foram desvalorizadas e até certo ponto ridicularizadas e, hoje, a Câmara e o Governo vêem-se em palpos de aranha para solucionar as situações. Há dezasseis anos que tudo o que está a acontecer foi previsto e proposto. Seguiram o caminho mais fácil, o de criar soluções pontuais de escoamento do trânsito, quando já nessa altura vários responsáveis falavam da imperiosa necessidade de olhar para o futuro e desenhar uma nova concepção de vivência da cidade. Aliás, tome-se em consideração quantos anos levaram para promover o "estudo de mobilidade", o qual, hoje, parece estar no fundo de uma qualquer gaveta. Um estudo que, valha a verdade, não trouxe nada que já não se soubesse! Só que implementar uma nova política implicaria coragem face à necessidade de gerar novos hábitos. E isso nunca houve. Por isso, aqui repesco um texto que publiquei sobre esta matéria.
"Não disponho de valores actualizados mas lembro-me que, em finais de 1993, quando fui candidato à presidência da Câmara Municipal do Funchal, a baixa funchalense consumia 15% dos combustíveis da Região distribuídos da seguinte forma: 78% através dos automóveis ligeiros, 16% nos transportes públicos e 6% de outros. O transporte público representava na altura 0,3% da taxa de poluição. E lembro-me que a equipa que integrei defendia que o problema do trânsito teria de ser considerado como uma prioridade para os dez anos seguintes de governação. Na altura, com 250 viaturas por mês a entrar no porto do Funchal e com as limitações do espaço territorial, era nossa convicção que teríamos de partir para um novo conceito baseado no pressuposto que "o automóvel mata a cidade, lenta mas seguramente".
E para isso tornava-se necessário colocar todos em diálogo: população, associações de táxis, transportadores de mercadorias, transportes públicos, comerciantes, governo, polícias, etc. no sentido de gerar uma política integrada e de consenso que viesse trazer à cidade uma nova filosofia de trânsito e de estacionamento. Indiscutivelmente havia necessidade de implementar e aprender novos hábitos na relação com a cidade.
Nessa interessante campanha eleitoral defendemos o park & ride, uma rede de transportes rápidos e não poluentes ao centro, a reconquista do espaço social da baixa, a criação de ciclovias, limitações no trânsito abaixo da cota 40, um novo conceito de transporte escolar, enfim, um alargado número de propostas que acabaram por cair em saco roto. O voto da população foi determinante.
Nessa altura nós já sabíamos que a velocidade média comercial dos autocarros situava-se nos desesperantes 17 km/hora, que eram transportados 102.000 passageiros/dia através de 120 autocarros (2593 viagens/dia) mas, o empastelamento do trânsito, sobretudo nas horas de ponta, não garantia a satisfação plena dos cidadãos.O que se fez de então para cá foi um desastre. Aumentaram a oferta de parques de estacionamento no centro, o número de táxis que, em 1993, era de 471 licenças aumentou significativamente (na altura já se considerava que o Funchal não comportava mais de 350 licenças), passaram ao lado das ciclovias, mataram o park & ride, não libertaram a cidade no que diz respeito ao ordenamento do território (tome-se em consideração, por exemplo, o que se está a passar em toda a zona do "Dolce Vita" até S. João), permitiram a maximização construtiva, excederam-se índices de construção e não reservaram 30% para áreas verdes, não evoluíram para uma ligação rápida e não poluente aos designados dormitórios da cidade (Caniço, Santa Cruz e Câmara de Lobos) através do "metro de superfície" e hoje, óbvia e inevitavelmente, a União Europeia, vem colocar o Funchal como uma das cidades que excede os limites diários de poluição atmosférica. Nada que não fosse previsível. E aqui vamos, numa continuada cosmética da cidade que não resolve os seus problemas de fundo".
E para isso tornava-se necessário colocar todos em diálogo: população, associações de táxis, transportadores de mercadorias, transportes públicos, comerciantes, governo, polícias, etc. no sentido de gerar uma política integrada e de consenso que viesse trazer à cidade uma nova filosofia de trânsito e de estacionamento. Indiscutivelmente havia necessidade de implementar e aprender novos hábitos na relação com a cidade.
Nessa interessante campanha eleitoral defendemos o park & ride, uma rede de transportes rápidos e não poluentes ao centro, a reconquista do espaço social da baixa, a criação de ciclovias, limitações no trânsito abaixo da cota 40, um novo conceito de transporte escolar, enfim, um alargado número de propostas que acabaram por cair em saco roto. O voto da população foi determinante.
Nessa altura nós já sabíamos que a velocidade média comercial dos autocarros situava-se nos desesperantes 17 km/hora, que eram transportados 102.000 passageiros/dia através de 120 autocarros (2593 viagens/dia) mas, o empastelamento do trânsito, sobretudo nas horas de ponta, não garantia a satisfação plena dos cidadãos.O que se fez de então para cá foi um desastre. Aumentaram a oferta de parques de estacionamento no centro, o número de táxis que, em 1993, era de 471 licenças aumentou significativamente (na altura já se considerava que o Funchal não comportava mais de 350 licenças), passaram ao lado das ciclovias, mataram o park & ride, não libertaram a cidade no que diz respeito ao ordenamento do território (tome-se em consideração, por exemplo, o que se está a passar em toda a zona do "Dolce Vita" até S. João), permitiram a maximização construtiva, excederam-se índices de construção e não reservaram 30% para áreas verdes, não evoluíram para uma ligação rápida e não poluente aos designados dormitórios da cidade (Caniço, Santa Cruz e Câmara de Lobos) através do "metro de superfície" e hoje, óbvia e inevitavelmente, a União Europeia, vem colocar o Funchal como uma das cidades que excede os limites diários de poluição atmosférica. Nada que não fosse previsível. E aqui vamos, numa continuada cosmética da cidade que não resolve os seus problemas de fundo".
Como se depreende, muito trabalho para quem vier a liderar uma candidatura à Presidência da Câmara Municipal do Funchal.
1 comentário:
O crescimento desmedido, encosta fora, que a cidade do Funchal teve nas décadas de 70 e 80, faz com que os custo e a cobertura de uma adequada rede de transportes seja deficiente olhando obviamente à orografia.
Depois, como bem vinca, não houve a preocupação de prever o crescimento exponencial que os concelhos limítrofes do Funchal (em especial aqueles servidos pela Via Litoral) ou preocupação em gizar uma política articulada de transportes públicos entre esses mesmos concelhos.
O sistema existente apenas ajuda a fortalecer o estigma cultural anti-transporte público.
Aliás fugindo um pouco ao comentário, há um ou dois anos (talvez mais), achei caricata uma situação, quando observei na rtp-madeira um quadro do GR (não me recordo o nome) que apelava ao uso de transportes públicos, mas que quando foi confrontado pelo jornalista se usava os mesmos, engoliu em seco e lá respondeu que a sua zona não era bem servida, enfim...
A própria forma como o sistema está estruturado, leva á perpetuação do hábito de trazer o carro para o Funchal (sabendo-se que nesta cidade trabalham muito mais de metade da população activa da ilha).
Creio que em vez da perpétua aposta em betão e alcatrão (cujos resultados mais imediatista servem propósitos eleitoralistas), porventura uma devida aposta em soluções integradas surtissem mais efeito. E creio que ideias como a existência de metro de superfície não eram descabidas de todo, se bem que devidamente planeadas e ponderadas (tomando igualmente por base estudos fiáveis de previsão sobre as futuras dinâmicas demográficas no território).
Olhe-se aos exemplos do metro de Lisboa e de Porto. A primeira mais antiga, expandiu-se durante muito tempo ao sabor dos interesses especulativos (linha azul e vermelha demonstram claramente isto). A segunda seguiu uma lógica mais funcional e serviu para descongestionar imenso a cidade do Porto, estabelecendo a devida ligação com zonas periféricas.
Creio que no Funchal teríamos de olhar o metro não apenas na cidade, mas sim como elemento de ligação com concelhos limítrofres. Estou ciente que as dificuldades técnicas do terreno poderiam ser grandes, mas a rede de transporte rodoviário poderia então complementar esta(s) linha(s). Obviamente teria de haver muita interacção entre as diferentes empresas, teria de haver verdadeiros passes ou títulos multimodais entre os diferentes transportes, e claro, teria de haver um órgão que coordenasse tudo isto, sentando à mesma mesa presidentes das câmaras afectadas, GR, empresas, membos da sociedade civil, etc...
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