Adsense

quarta-feira, 3 de junho de 2009

"ELE DÁ-ME TUDO... A COMIDA, A CASA E O TRABALHO!"

Mais um túnel foi inaugurado. Com fanfarra, comidinha para todos, discursos e uma caminhada a pé com muita gente a aplaudir. Na frente, o chefe, pelas imagens da reportagem, a marcar o ritmo da banda. O Povo é assim, cheio de problemas até ao pescoço mas não consegue ler, perceber e compreender a encenação e tudo o que se passa em seu redor. Dizem-se que há pessoas, até, que chegam a levar um saquito de plástico para levar alguma comida para casa.
Ora bem, não discuto a "obra" porque isso levaria-me também a ter de estudar e perceber as suas razões na interligação com toda a restante rede viária. Deixo esse aspecto para os analistas do ordenamento do território e para os economistas que sabem determinar a relação custo-benefício. O que para mim é espantoso é ver o povo mais humilde, ali, prostrado aos pés de Sua Excelência. Fez-me lembrar uma situação que vivi em Casablanca (Marrocos) aquando de um passeio numa desengonçada carripana. A páginas tantas, aproximei-me do motorista, tão velho de aspecto quanto o autocarro, mal vestido, e o questionei sobre o Rei. No essencial o que pensava ele de Sua Majestade! E a resposta veio célere: "ele é tudo para mim... dá-me a comida, a casa, o trabalho...". Bom, para quem conhece o nível de vida por aquelas paragens, as imagens de ontem fizeram-me lembrar este episódio. Apenas isso.
O que me constrange é sentir que este nosso Povo não tenha noção da engrenagem em que se encontra envolvido e de quem lucra com tudo isto. Constrange-me ter a percepção que ele não tem capacidade para analisar as causas do sofrimento, que engole as palavras ditas como as de ontem relativamente à obra inaugurada: "(...) é um castigo do céu para quem pensou que nos ia fazer mal" (...) olhem para este povo. Não tentem nos fazer mal, porque a nossa resposta é trabalho, trabalho e só trabalho".
Mas qual trabalho, pergunto eu? Doze mil desempregados, 80.000 pobres segundo vários estudos de campo, empresas a falir, droga, prostituição, roubos e a própria Igreja a chamar à atenção que a situação está negra?
Tanto que me apetecia dizer sobre este redemoinho em que nos encontramos. Sobre os túneis que estão a fazer na cabeça das pessoas. Fico por aqui.

1 comentário:

il _messaggero disse...

Há factores histórico-culturais que ajudam a explicar este endémica dependência de um paternalismo superior.

Creio que o pior é verificar que não há ainda suficeinte massa crítica na Madeira. Ou seja, a capacidade de questionar não é posta muito exercitada na educação. O que aliado às históricas deficiências da ilha neste campo, redundam numa espécie de ciclo vicioso, a que se associam o laxismo e apetência pela cultura de festa.

No entanto, isso leva-me à segunda parte do comentário. Mesmo sem essa devida capacidade de auto-crítica ou o devido empowerment político (e quando falo no mesmo, refiro-me ao entendimento de conceitos como a necessidade de alternância ou o poder fiscalizador do voto), note-se que nas sociedades existem sempre os chamados escapes, quando a situação atinge constrangimentos de vária ordem (sejam de livre expressão, económicos, sociais, etc.). Estes escapes poderão ir desde uma activa blogosfera (o que é o caso) até situações limite como as chamadas revoltas ou situações de anomia.

Infelizmente, sabendo que esta é uma terra algo conservadora (por medo do desconhecido), creio que uma transição demorará,pelo menos até AJJ sair do poder. O carisma deste (a bem ou a mal) é o garante de todo o status quo existente. Aliás, numa pequena ilha ou território, só com a saída de líderes carismáticos do poder é que há hipóteses para uma devida alternãncia no poder. Nos Açores foi assim com Mota Amaral e Carlos César.

Vai um pouco de encontro à ideia (bem válida e comprovada) que em Portugal eleições não se ganham, mas sim perdem-se. E isso em territórios pequenos, onde o sector público assume grande preponderância e destaque, é um factor deveras importante a ter em conta.

Retornando ao tema, indicar apenas que enquanto este clima de festa e arraial for cultivado, sem que a crítica e a participação sejam estimuladas, que enquanto o eleitor médio (que normalmente tem uma visão mais limitada e centrada numa perpsctiva imediata que afecta a si e aos que o rodeiam) não vislumbrar as dificuldades, certamente a sua necessidade de mudança ou de exigência não irá mudar/subir - seja para o poder, seja para a oposição.

E olhando aos indicadores, olhando aos relatos, essa situação já esteve mais longe de acontecer...