A história é conhecida. Sherlock Holmes e o Dr. Watson vão acampar e armam sua barraca sob as estrelas. Durante a noite, Holmes acorda o seu acompanhante e diz: "Watson, olhe para as estrelas, e diga-me o que pode deduzir."Watson diz: "Vejo milhões de astros, e se alguns poucos daqueles são planetas, é bem provável que haja alguns como a Terra, e se há alguns planetas como a Terra, é bem possível que haja também vida.
Espere. Antes de ler a resposta de Holmes, leia novamente desde o início e adivinhe o que Holmes respondeu.
Já pensou na resposta?
Agora leia:
Holmes responde: "Watson, seu idiota. Alguém roubou nossa barraca..."
CONCLUSÃO:
É sempre mais fácil ver aquilo que está à nossa frente do que perceber aquilo que está a faltar.
Vem isto a propósito do especialista canadiano em tecnologia Don Tapscott apontar para Portugal como um exemplo a seguir na educação, elogiando o investimento em computadores individuais nas salas de aulas. Num artigo de opinião publicado no blogue Huffington Post - onde já escreveu Barack Obama, Tapscott dirige-se directamente ao presidente dos Estados Unidos da América: "Quer resolver os problemas das escolas? Olhe para Portugal!". Na opinião de Tapscott, o "modesto país para lá do Atlântico", que em 2005 via a sua economia "abater-se", está a tornar-se no "líder mundial a repensar a educação para o século XXI". A presença de computadores nas escolas é "só uma parte" dessa "campanha de reinvenção (...)" - Agência LUSA.
Li alguns livros e muitos textos de Dom Tapscott sobretudo na Executiv Digest e Exame aquando do meu Mestrado. Dele e de tantos outros gurus em gestão e administração. Eu compreendo as preocupações de Tapscott. Mas Tapscoot, apesar dos seus treze livros publicados e com grande procura, é um palestrante e consultor especializado em estratégia corporativa e transformação organizacional. Apenas isso. Olhou para Portugal, teve a percepção dos milhares de computadores que andam a ser distribuídos, mas não olhou, certamente, para a sociedade que temos, os níveis de pobreza que temos, a mentalidade que temos, o insucesso e abandono escolar que temos, a iliteracia que temos, o sistema organizacional, curricular e programático que temos, tudo aspectos que a tecnologia, por si só, não resolve, isto é, Portugal e particularmente a Região da Madeira não estão à beira de um clik ou de um "enter" para o sucesso. Não estão.
Daí que não baste criar novos estabelecimentos de ensino, tampouco multiplicar as salas de informática ou substituir o quadro preto e o giz por quadros interactivos e multicolores. Tony Bates é claro sobre esta matéria: “O bom ensino supera uma escolha tecnológica pobre, mas a tecnologia nunca salvará o mau ensino”. Por outras palavras, defende que o desafio da Educação, para já, não é tecnológico. Há uma base que terá de ser construída e essa base é de natureza organizacional, é de conquistas ao nível do desenho curricular e correspondentes programas, trilogia à qual se juntam, de forma indispensável e inquestionável as políticas de família no quadro das políticas sociais. O sucesso, ou melhor, o futuro da nossa Escola depende do rigor, do trabalho que integre todas estas variáveis. Dom Tapscott não conhece o sistema e, portanto, porque não basta comprar computadores e colocá-los nas salas, enquanto o País e a Região não manifestarem coragem para intervir na profundidade dos problemas, esta escola não terá futuro e os problemas agravar-se-ão. Este modelo está condenado e não será a tecnologia a salvá-lo. O sistema precisa que se rompa com as rotinas, precisa de inteligência, necessita de humildade governativa, precisa de coragem para implodir os pilares da velha escola, construindo novos alicerces que sustentem uma educação para o futuro. Se se fizer isso, obviamente, que em simultâneo a tecnologia terá, inevitavelmente, de estar na escola com todo o seu poder. Elementar, meu caro Tapscott!
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