Confesso que sinto um enorme desconforto político. Mandam as mais elementares regras da Democracia que se cumprimente os vencedores. Faço-o por dever e respeito até porque aprendi, desde muito cedo, "a ganhar com generosidade e a saber manter o bom humor na derrota". Obviamente, tal não impede uma legítima análise factual e de pendor interno. Raramente a faço. Chegou o momento de dizer basta!
Entendo que um Partido, como decorre da responsabilidade do PS, só tem razão de existir se a sua predisposição for a de ganhar e demonstrar que as suas políticas garantem bem-estar e desenvolvimento em todos os quadrantes. Neste pressuposto, por mais que, pontualmente, nos alegrem as pequenas vitórias, elas não podem esconder o deserto global por ineficácia das políticas seguidas.
Eu sei em que Região vivo, conheço toda a espécie de constrangimentos, sei quanto difícil é discutir um acto eleitoral de igual para igual, mas nem tudo fica a dever-se às particularidades da Região. Podia até o PS ter perdido as onze Câmaras mas deveria, no mínimo, ter ficado a certeza que o caminho estava aberto para a mudança. Ao contrário disso, retrocedeu, fragmentou-se, ficou esfrangalhado por toda a Região. Isto dói a qualquer democrata. Ainda por cima porque não se tratou de uma derrota isolada mas de uma derrota que se sucede a outras tão gravosas quanto esta. Não há que escamotear os resultados, inventar isto e aquilo, apresentar justificações sem sentido que apenas ajudam a enterrar mais o prestígio e respeito que o PS deveria ter no quadro dos eleitores da Madeira e do Porto-Santo.
Que me desculpe o Camarada Dr. João Carlos Gouveia a minha sincera frontalidade, mas depois destes sucessivos terramotos eleitorais, seguidos de devastadores tsunamis, já que os militantes se sentem órfãos e desamparados, esperava eu, ontem à noite, ao contrário das declarações produzidas, que o presidente assumisse que apenas conduziria o Partido até ao próximo acto eleitoral interno. Não foi isso que aconteceu, permitiu que as dúvidas permanecessem sobre a sua continuidade. Isso foi muito mau para o PS e para a credibilidade pública da instituição. Eu sei que as decisões pertencem aos órgãos do partido, mas não é de todo aceitável um posicionamento ambíguo do tipo esperar para ver o que isto dá. Eu não me comportaria assim. Assumia a derrota, lamentava, não voltaria a candidatar-me e, imediatamente, abria o partido a uma solução. Para mim isto é muito claro.
Penso, todavia, que tarde ou cedo tal irá acontecer em função dos superiores interesses políticos da Madeira. O problema está agora em desenhar o futuro. E esse desenho, do meu ponto de vista, não é possível com novas falsas partidas e com candidaturas voluntariosas. O PS precisa de serenidade, necessita que ninguém se coloque em bicos de pés, antes conjugue esforços no sentido de encontrar uma solução duradoura, credível do ponto de vista social e político. O PS precisa de, pacientemente, juntar os cacos, de chamar tanta gente que se afastou ou foi afastada, abrir-se à sociedade, sarar feridas antigas e procurar entendimentos, não os entendimentos possíveis mas os entendimentos geradores de confiança no eleitorado. Há uma grande diferença entre o voluntarismo, a ambição e a realidade. A realidade exige ambição mas rejeita o voluntarismo. A realidade, este sangue que há vários anos brota de muitas feridas internas não estanca, nem estancará, com uma política de penso rápido. Há uma absoluta necessidade de ir às causas, enfrentá-las, removê-las para que das fraquezas emirjam as forças necessárias ao relançamento do Partido. Juízo, muito juízo é o que, humildemente, peço a todos face à delicadeza do momento. Todos são importantes mas, cuidado, cada um tem de saber qual o seu galho. Que ninguém se esqueça que há eleições regionais dentro de vinte e quatro meses e que essa campanha terá de, inteligentemente, começar o mais cedo possível.
Foto: Google imagens.
1 comentário:
Concordo em absoluto!
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