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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

PORTO SANTO: ANGÚSTIA NUMA CIDADE "FANTASMA" (I)


Tratou-se de uma "estratégia" de fumo que se dissipou com o tempo. Do meu ponto de vista foi, politicamente, "criminoso" o que ali se fez. Se antes sabia-se da sazonalidade em termos turísticos, agora nem sazonalidade existe.


O Porto Santo é, hoje,
"um Deus me acuda"
 
Estou a chegar do Porto Santo. Venho constrangido, de coração apertado. Chega a ser comovente para quem tem alguma sensibilidade económica e social. O Porto Santo vive um momento de angústia colectiva. Não há qualquer exagero nestas palavras. Não há movimento, a economia está paralizada, o desemprego é aflitivo e, naturalmente, a pobreza cresce. Alguns indicadores mais visíveis: hotéis fechados, outros a 10% (se estiverem) de ocupação, 92% das empresas em insolvência técnica, mais de 13% de desemprego, atrasos significativos nos pagamentos fiscais e de segurança social, problemas judiciais em crescendo resultantes de incumprimentos diversos, habitações devolvidas à banca, enfim, um quadro absolutamente catastrófico. O tempo das vacas gordas, das obras e mais obras, sobretudo as da Sociedade de Desenvolvimento que geraram emprego na construção civil, lá se foi, o tempo das promessas do governo regional da Madeira que geraram expectativas de futuro morreu e, hoje, as gentes do Porto Santo, tem os olhos pregados numa profunda crise, ainda muito antes, de lhes cair em cima as medidas de austeridade. 
Os relatos que escutei foram dramáticos e não há, repito, qualquer exagero. São reais e detectáveis aos olhos de quem conjuga os sinais. E o que mais magoa e me entristece é que tudo aquilo que está a acontecer é consequência de uma total ausência de um plano estratégico. O Governo não soube criar e denuncia que não tem um caminho definido, uma estratégia portadora de futuro para aquela ilha. Enquanto o dinheiro circulou, na esteira das obras públicas, a situação real foi esbatida, todavia, hoje é sensível que esse mesmo dinheiro não se reflectiu nas pessoas. Tratou-se de uma "estratégia" de fumo que se dissipou com o tempo.
Do meu ponto de vista foi, politicamente, "criminoso" o que ali se fez. Se antes sabia-se da sazonalidade em termos turísticos, agora nem sazonalidade existe. São as ligações áereas e marítimas que estão por resolver, a vergonhosa política de preços de quem quer ou tem necessidade de sair da ilha, facto que coloca os habitantes do Porto Santo a terem de pagar preços exorbitantes, são os problemas da promoção turística, são os problemas da formação, da revitalização do comércio (e isso é possível), da fixação dos jovens, dos monstros que estão construídos, inacabados ou sem utilização turística, enfim, o Porto Santo é, hoje, um "Deus me acuda". Politicamente, não há perdão para quem permitiu o actual quadro. É indisfaçável a angústia que paira no Porto Santo e, por momentos, senti-me numa cidade "fantasma".
Ilustração: Google Imagens.

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