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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

TROLOLÓS PARA ADORMECER


O deputado conseguiu, em vinte e tal minutos, qual apagador de escola, limpar a responsabilidade que advém de 36 anos de órgãos de governo próprio. Aqui nada existiu, aqui nada existe, aqui a irresponsabilidade não pode ser penalizada porque não houve eleições e ninguém tomou posse!

A Assembleia é muito mais
que uma cadeira.
Segui, hoje, com óbvia atenção, na Assembleia Legislativa, uma intervenção de um deputado do PSD-M. A canção foi a de sempre: afastar para longe as questões que deveriam ser equacionadas no âmbito da Região e da sua Autonomia. Foram vinte e tal minutos a falar da República e não me apercebi que, nem uma única palavra de louvor, na sua óptica, tivesse sido feita às políticas do governo regional. Se não falou é porque, certamente, não encontrou aspectos para enaltecer. Voltou-se para o Continente, sede e origem de todos os males, segundo deduzi. Porque, digo eu, com alguma ironia, é lá que se encontra o governador da Madeira e é lá que estão sediados os órgãos de decisão dos interesses da Madeira. Senti-me, por isso, nos anos 60 até os primórdios da década de 70. O período da dependência total, o período do discurso bajulador para conseguir umas tantas benesses e senti-me muito próximo daquela luta que justificou a "Carta ao Governador".
O deputado conseguiu, em vinte e tal minutos, qual apagador de escola, limpar a responsabilidade que advém de 36 anos de órgãos de governo próprio. Aqui nada existiu, aqui nada existe, aqui a irresponsabilidade não pode ser penalizada porque não houve eleições e ninguém tomou posse! Um espanto. Tratou-se de uma intervenção surreal baseada no ataque, segundo escutei, ao bando de irresponsáveis e de aldrabões que governam o País. Admito, porque sou democrata, que na Assembleia da República, os quatro deputados madeirenses do PSD assumam, de forma politicamente contundente, uma posição de grande frontalidade às políticas nacionais. Estão no seu direito. Aqui, na Assembleia, até porque o deputado em causa foi eleito na Região e para defesa do Povo da Região, esqueça o seu círculo eleitoral, esqueça que é deputado na Assembleia Legislativa da Madeira e fuja a sete pés do natural equacionamento dos problemas que a todos afligem. Até para dizer o melhor possível do governo que apoia. Se não conseguiu uma única palavra de apreço pelo governo regional, então, poder-se-á dizer, agora sem ironia, que o deputado terá feito, hoje, a maior crítica porque disse não dizendo.
Eu reconheço o desconforto, sei quanto difícil é argumentar com elementos que escorregam mão fora tipo peixe acabado de apanhar, sei que é complicado falar do tecido empresarial a braços com uma gravíssima crise que vem de há muitos anos, dos novos pobres, da escola que não funciona e que muito antes das medidas de austeridade e dos condicionamentos ao abono de família já aqui tinham colocado os alunos a pagar as refeições e outras coisas, sei que não é fácil uma abordagem aos 15.000 desempregados, sei que fica um nó na garganta quando se aborda a munumental dívida da Região que nos vai asfixiar por muitos anos, mas é aqui, é nestes contextos, que se vê a postura do eleito pelo povo. Se o deputado tem uma canção própria ou se apenas cantarola os registos que convém aos outros. O problema reside aí.
"Remar para terra" é preciso, porque se assim não for esse será o caminho da falência e da perda da Autonomia. Ademais, politicamente, e não só na política, precisamos de duas coisas: atitudes de assunção de responsabilidades e qualidade na intervenção que dispensa trololós sem significado.
Ilustração: Google Imagens. 

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