Adsense

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O DISCURSO DA DECADÊNCIA. NÃO HÁ MEMÓRIA DE UMA COISA ASSIM!


Este foi o NÃO DISCURSO, o discurso vazio, o discurso zero relativamente ao Plano e Orçamento. Um discurso que, à medida que o escutei, mais me parecia uma feijoada com todos. Decadência pura mostrada em uma hora e cinquenta e três minutos. Interrogo-me, como é que há pessoas que suportam isto!


Terminou o "debate", na generalidade, do Plano e Orçamento da Madeira, para 2011. Sem tempo limite, ao jeito de uma qualquer ditadura, o Presidente do Governo Regional da Madeira falou uma hora e cinquenta e três minutos. Sobre o Orçamento da Região NADA de concreto. Pacientemente, anotei a sequência da intervenção iniciada às 10:46 horas, sensivelmente. Vale a pena, julgo eu, seguir esta sequência discursiva, testemunho da decadência do regime.
Começou por falar das obras no edifício da Assembleia. Seguiu-se a leitura de um excerto de um texto para falar de "valores", de cidadania, da intoxicação da comunicação social e da destruição das pequenas e médias empresas. Obviamente, tudo no espaço continental, como se por aqui nada estivesse a acontecer.
Depois, numa escala entre dois horários de avião, divagou sobre as iluminações na cidade de Lisboa, com desenhos estranhos, salientou. Pensei eu que viria para o Funchal. Mas não.
Seis minutos após ter iniciado o discurso, "voou" para a Europa, para falar do laxismo financeiro, do Muro de Berlim, da desregulação dos mercados, blá... blá...!
Por aí andou até os 25 minutos, voltando a "aterrar" em Portugal, para falar de Marcelo Rebelo de Sousa (o comentador) e lá disse qualquer coisa sobre a Autonomia. Cinco minutos depois, lembrou-se de Manuel Alegre e toca a desancar na pobreza, no desemprego, na falta de apoio às famílias, nas políticas de austeridade. Tudo coisas da República.
E já íamos em meia hora de intervenção. Sobre o Plano e Orçamento NADA!
Aos 34 minutos cheguei a pensar que estava a chegar à Madeira, ao falar da bancada do PS na Assembleia. Mas não, voltou a divergir para Lisboa, para falar da vigarice, das figurinhas e do Jornal i. Terminou esta parte com a eloquência desta frase: nós não estamos em democracia, estamos em regime de partido único. Obviamente, lá!
Aos 40', finalmente, meteu-se no avião. Contou uma história qualquer (que não percebi) vivida dentro do avião, mas uma vez mais levantou e regressou a Lisboa, para falar do Orçamento de Estado, da Constituição e do Jorge Sampaio. Como eu estava a apontar estas notas, disse que eu estava a fazer o relatório para Lisboa. Em cheio!
Aos 48' uma passagem por Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros, pelo Ministro das Finanças, pelos mercados internacionais.
Aos 50' uma palavrinha para o CDS/PP Madeira e para um jantar com 30 pessoas. E novo salto para o País e para a descredibilização externa. Seguiu-se uma citação de uma autor italiano e aos 56' falou a verdade, digo eu: quanto mais pobreza intelectual mais facilidade em manter este estado de coisas... No fundo, falou a voz da experiência! E por aí se deteve para falar, outra vez, dos Tribunais, da classe política, dos partidos políticos e da partidocracia.
Aos 58' nova aproximação à pista. A primeira referência concreta à Madeira para falar da solidariedade na sequência do 20 de Fevereiro. Por pouco tempo, já que derivou para uma subtil referência à independência, às posições coloniais e aos cinco séculos de História. Chegou-se, assim, à primeira hora de discurso. Falou, ainda, do referendo, para dizer que a pergunta deve ser feita, se queremos ou não mais Autonomia e outra coisa qualquer que não percebi.
Aos 63' ouviram-se as primeiras palmas. Nem os seus silenciosos e atentos Deputados conseguiram descobrir um momento de exaltação.
Passou pelo Caniçal, pelo Centro Internacional de Negócios para, deselegantemente, falar de "um indíviduo que ali está"... referia-se ao líder do PS que momentos antes tinha discursado.
Divagou e divagou até que, aos 67' de discurso, pareceu-me que iria "aterrar" na Madeira. Mas ficou pelas nuvens, com nova divagação sobre o turismo, o sector terciário, para terminar com uma nova declaração: "a Madeira não está controlada". Mau tempo no aeroporto, afinal, não desceu e novo regresso à Justiça portuguesa, referências à ANA/ANAM e por aí andou até aos 76', altura que surgiu nova divagação sobre a globalização, descentralização, política de liberdade democrática e estado social.
Aos 80' lembrou-se dos médicos. Agradeceu a uns e, a outros, se um dia estiverem de serviço e deles precise, pedirá para chamarem o padre! Risos na sala.
Três minutos depois, tinha de ser, trouxe à baila o Grupo Blandy. Falou sobre a História da Madeira e das tropas inglesas, da Maçonaria e do que se esconde por detrás das organizações. Aproveitou para falar do jornalista do DN (Luís Calisto), do panfleto chamado Diário de Notícias e mostrou a capa da edição de hoje.
Íamos com uma hora e trinta e dois minutos e nova incursão pelas sociedades secretas, pelo Marítimo, pelo "lanche" na Fonte do Bispo (referia-se à festa do PS), os socialistas do continente, o senhor Coelho e pouco mais. Oito minutos depois, uma referência explícita à minha pessoa para dizer que se eu estivesse no governo teríamos "recolher obrigatório". Não percebi.
E chegámos, assim, aos cento e cinco minutos de discurso. Altura para falar dos Açores, do desemprego, do Carlos César e da distribuição social nos Açores. Três minutos depois chegou um aviso: 2011 será um ano difícil. O PS-Madeira vai encontrar manobras de diversão, cuidado com elas e com as eleições regionais. Cuidado com os colaboracionistas.
Uma hora e cinquenta, finalmente, o Orçamento. Sentenciou: ora, o Orçamento é uma peça disto tudo.
Uma hora e cinquenta e três, cai o pano com uma nova referência a Manuel Alegre: "Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!"
Esta a história do NÃO DISCURSO, o discurso vazio, o discurso zero relativamente ao Plano e Orçamento. Um discurso que, à medida que o escutei, mais me parecia uma feijoada com todos. Decadência pura mostrada em uma hora e cinquenta e três minutos. Interrogo-me, como é que há pessoas que suportam isto e APLAUDAM DE PÉ!
Ilustração: Google Imagens.

6 comentários:

Pica-Miolos II disse...

Senhor Professor
Que o medíocre arrazoado produza efeitos na vilhoada,percebe-se...
Agora,que na "elite" dos 33,não haja um,que,digna e indignadamente,se levante e diga,em alto e bom-som,que o "Rei vai nú",deixa-me os miolos super-picados!
Essa gente,como é que encara os seus filhos e que valores lhes transmite?!!!

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
O problema é precisamente esse.

Paulo Barata disse...

Caro André

Este post é genial.

Abraço.

Paulo Barata

André Escórcio disse...

Obrigado meu Caríssimo Amigo.
Continuemos esta luta pela dignificação da nossa Região, com novos actores políticos e novos discursos portadores de um futuro melhor.
Um abraço.

Vilhão Burro disse...

Senhor Professor
A propósito do APLAUDAM DE PÉ estou-me a lembrar da minha ida a Lisboa quando fui mobilizado pela tropa para a guerra na Guiné.
Com outros camaradas, da "carne para canhão",fui a um teatro, no Parque Mayer, ver uma Revista,coisa que nunca tinha visto na vida.
Para além de nós,havia meia dúzia de espectadores dispersos pela sala e,ainda,um grupinho a um canto, que, de vez em quando,como se fosse uma orquestra bem treinada,BATIA PALMAS com todo o entusiasmo do mundo. A gente ia atrás,mesmo não achando que a coisa tinha tanta graça para tanta palma...
Mais tarde,o nosso Alferes,ainda nos gozou e contou-nos que o tal grupinho se chamava CLAQUE e era pago para o efeito...
Veja lá, Senhor Professor, por que carga d`água me fui lembrar de uma coisa tão distante e que só no tempo da "Velha Senhora" acontecia...

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Dir-se-á que é a claque dos interesses.