Não disponho de valores actualizados mas lembro-me que, em finais de 1993, quando fui candidato à presidência da Câmara Municipal do Funchal, a baixa funchalense consumia 15% dos combustíveis da Região distribuídos da seguinte forma: 78% através dos automóveis ligeiros, 16% nos transportes públicos e 6% de outros. O transporte público representava na altura 0,3% da taxa de poluição. E lembro-me que a equipa que integrei defendia que o problema do trânsito teria de ser considerado como uma prioridade para os dez anos seguintes de governação. Na altura, com 250 viaturas por mês a entrar no porto do Funchal e com as limitações do espaço territorial, era nossa convicção que teríamos de partir para um novo conceito baseado no pressuposto que "o automóvel mata a cidade, lenta mas seguramente".
E para isso tornava-se necessário colocar todos em diálogo: população, associações de táxis, transportadores de mercadorias, transportes públicos, comerciantes, governo, polícias, etc. no sentido de gerar uma política integrada e de consenso que viesse trazer à cidade uma nova filosofia de trânsito e de estacionamento. Indiscutivelmente havia necessidade de implementar e aprender novos hábitos na relação com a cidade.
Nessa interessante campanha eleitoral defendemos o park & ride, uma rede de transportes rápidos e não poluentes ao centro, a reconquista do espaço social da baixa, a criação de ciclovias, limitações no trânsito abaixo da cota 40, um novo conceito de transporte escolar, enfim, um alargado número de propostas que acabaram por cair em saco roto. O voto da população foi determinante.
Nessa altura nós já sabíamos que a velocidade média comercial dos autocarros situava-se nos desesperantes 17 km/hora, que eram transportados 102.000 passageiros/dia através de 120 autocarros (2593 viagens/dia) mas, o empastelamento do trânsito, sobretudo nas horas de ponta, não garantia a satisfação plena dos cidadãos.O que se fez de então para cá foi um desastre. Aumentaram a oferta de parques de estacionamento no centro, o número de táxis que, em 1993, era de 471 licenças aumentou significativamente (na altura já se considerava que o Funchal não comportava mais de 350 licenças), passaram ao lado das ciclovias, mataram o park & ride, não libertaram a cidade no que diz respeito ao ordenamento do território (tome-se em consideração, por exemplo, o que se está a passar em toda a zona do "Dolce Vita" até S. João), permitiram a maximização construtiva, excederam-se índices de construção e não reservaram 30% para áreas verdes, não evoluíram para uma ligação rápida e não poluente aos designados dormitórios da cidade (Caniço, Santa Cruz e Câmara de Lobos) através do "metro de superfície" e hoje, óbvia e inevitavelmente, a União Europeia, vem colocar o Funchal como uma das cidades que excede os limites diários de poluição atmosférica. Nada que não fosse previsível. E aqui vamos, numa continuada cosmética da cidade que não resolve os seus problemas de fundo.
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