Não sei por quanto tempo os madeirenses vão continuar a tolerar a falta de respeito do Senhor Presidente do Governo Regional. Já não falo, por exemplo, da forma como fala do País, dos vários actores políticos, inclusive, dos que pertencem ao seu próprio partido. Há muito que ouvi-lo discursar é enfadonho, porque repetitivo, e irritante pelos conceitos que desenvolve. A credibilização do exercício da política passa, inevitavelmente, por posturas sérias e firmes, geradoras de confiança, mas, simultaneamente, de respeito. Espezinhar, maltratar e ofender não é, certamente, a melhor forma de exercer a política e até de educar a população. Ainda ontem, segui as suas declarações, no meio de comes e bebes proporcionada pela inauguração da saída leste do Funchal.
É evidente que não estranhei, sobretudo porque sei o que a casa gasta, mas não aceito que o presidente do governo sublinhe que “(...) há gente aqui na Madeira que ainda não percebeu o mundo em que está a viver”, e que os madeirenses vivem com o progresso e “se alguém quer viver como no tempo dos índios tem a Amazónia que ainda tem muito espaço e não tentem contrariar o que é a evolução da história e o seu desenvolvimento”. E não aceito porque a um líder político (enquanto se mantiver em funções) exige-se dignidade discursiva e, no presente contexto, não manipule as consciências. Por um lado, não se pode, mesmo em sentido figurado, despachar as pessoas que se lhe opõem para a Amazónia; por outro, confunda evolução histórica, progresso e desenvolvimento. É que o conceito de desenvolvimento encerra três dimensões inter-relacionadas:
A dimensão económica ligada à produção e distribuição dos bens;
A dimensão social que tem a ver com as condições de vida e com as desigualdades;
E a dimensão cultural que se prende com o património de cada um num sentido lato, enquanto conjunto de capitais (social, económico, cultural e simbólico).
Isto implica que a palavra desenvolvimento, associada ao progresso, deva ser enquadrada no sentido endógeno e integrado, como resultado de considerações de ordem filosófica, ideológica e metodológica. São estes factores que conduzem ao desenho e à contextualização do desenvolvimento, quando compaginados com os direitos de cidadania. Portanto, quando aquelas três dimensões, está aos olhos de todos, são muito negativas na Madeira, que atrevimento é este de despachar para bem longe aqueles que ousam ter uma opinião diferente e sustentada naquelas três dimensões do desenvolvimento? Quando se sabe, pelos indicadores disponíveis, que a Madeira está, hoje, a pagar os erros de uma concepção de "evolução histórica", que a própria História do conhecimento há muito definiu como erro estratégico grosseiro.
O problema é que, mais grave do que as expropriações dos terrenos para as obras do regime, muitas delas que pouco ou nada têm a ver com o desenvolvimento, está a expropriação das consciências, a expropriação da vida democrática e a expropriação dos direitos de cidadania. Para além dos túneis da obra pública tentam e têm conseguido fazer túneis na cabeça das pessoas. Ontem foi dado mais um passo com comes-e-bebes à mistura! Ou terá sido com bebes e comes de seguida? Lamento.
Nota: Para alguns políticos, com algum humor, um gato a beber coca-cola ou mesmo Johnny Walker é um sinal de desenvolvimento.
1 comentário:
Há quem diga que ele já lá tem a sua fazenda! Ele lá sabe!
Enviar um comentário