Mais uma vez e na data do Dia Mundial da Alfabetização lá vem a Secretaria da Educação com desculpas esfarrapadas. Há 19.000 analfabetos mas, sublinham, 14.000 têm 60 ou mais anos de idade. Isto é, para a Secretaria da Educação este é um problema que a natureza se encarregará de resolver. Esquece-se que estes que agora têm 60 anos, em 1974 tinham 30 anos de idade, estavam na flor da vida, com trinta anos à sua frente para trabalhar e produzir com qualidade. E a questão é esta: que políticas educativas, de alfabetização, foram implementadas no sentido de esbater este gravíssimo problema? Mais, ainda, quando, politicamente, houve "estabilidade" e apenas seis secretários em 32 anos de Autonomia!
Enquanto docente e político envolvido nas questões do sistema educativo, sinto uma revolta interior contra políticos e contra funcionários a quem lhes entregaram responsabilidades discordantes relativamente às competências académicas e profissionais que têm. Daí as declarações sem fundamento, superficiais, enganadoras e distorcidas. Bastaria que tivessem em consideração e dominassem as opções políticas implementadas em vários países que conseguiram erradicar o analfabetismo há mais de um século. Por aqui, de acordo com os censos de 2001, continuamos a ter a mais elevada taxa de analfabetismo do País que se situa em 12,71%, enquanto nos Açores é de 9,45% e no Continente 8,93%.
E a estes há que juntar os analfabetos funcionais. Analfabetismo que constitui um problema silencioso e perverso que afecta o mundo empresarial. Como refere o Professor Paulo Coelho não se trata de pessoas que nunca foram à escola. Elas sabem ler, escrever e contar mas não conseguem compreender a palavra escrita. É um problema silencioso e perverso que a todos afecta. A queda da produtividade provocada pela deficiência em habilidades básicas resulta em perdas gravíssimas que, aliás, estão aos olhos de todos na nossa sociedade. Saltem dos gabinetes, metam-se por aí fora, conversem com as pessoas e testem as suas capacidades, sigam algumas peças jornalísticas, mormente aquelas em que é pedido para comentar alguma coisa, e facilmente chegarão à conclusão da calamidade e da vergonha que é, 35 anos depois de Abril, apresentar números daquela grandeza numa Região pequena e que tudo teve para resolver esta dramática situação. É obra!
Para que o analfabetismo, o de natureza básica e o funcional se erradiquem só existe uma saída possível: rever as políticas educativas, considerar a Educação a primeira prioridade de investimento e, independentemente da idade, educar para a qualidade. Trata-se de um investimento e não de um gasto. O custo da qualidade é a despesa do trabalho errado, mal feito, incompleto, sem profissionalismo. É o custo do analfabetismo funcional, sublinha, ainda, o académico Paulo Botelho.
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