O "País de loucos que vota em Sócrates", há três anos e meio no poder, é a Região de loucos que vota em Jardim há quase 33 anos. Qualquer pessoa pode estabelecer a mesma caracterização apenas substituindo os visados. Ora, afirmações daquela natureza, produzidas num alargado jantar de amigos do partido, valem zero, quando não se contextualiza e traduz por miúdos os respectivos fundamentos do que é dito, ou então, quando, cronicamente, se ataca e não se apresenta qualquer proposta que indicie um caminho porventura de sucesso. Ah, lembro-me de uma proposta, a revisão da Constituição da República. Como se uma revisão, só por si, pudesse alterar e resolver comportamentos, culturas, prioridades, pobrezas, famílias, economias, ordenamento dos territórios, enfim, um lato número de sectores e áreas directa ou indirectamente ligados ao desenvolvimento.
Ele ataca por atacar, levianamente, sem sentido de responsabilidade, mesmo quando sabe o que por aqui fez durante os seus anos de governo e que traduzem, à escala, o monumental erro estratégico que desejaria multiplicar do Minho ao Algarve. Só que eles, por lá, não são loucos. Eles conhecem os indicadores da pobreza na Madeira, conhecem os números da dívida pública, conhecem as obras das sociedades de desenvolvimento, conhecem os compadrios e os interesses que se movem na sociedade madeirense (portos, por exemplo), conhecem os domínios do offshore, conhecem os milhões dados a um desporto falido, conhecem os milhões para a implementação de novos templos, conhecem a lógica dos avales, conhecem os números do desemprego, enfim, eles conhecem a táctica de varrer tudo para debaixo do tapete, de banir a palavra crise no discurso político e de secar tudo à volta para que emerja apenas uma figura. Eles conhecem isso tudo, por isso, deixam-no falar, falar e falar, mas lá, no meio do Atlântico, enquanto ave rara que se visita e se acha graça. No subconsciente, enquanto síntese de um pensamento orientado, dirão que compete aos madeirenses e portosantenses resolverem esse assunto.
Só que este é um círculo vicioso, pois a incultura, a incapacidade para cruzar a informação, as ligações de interesse, o medo, o caciquismo local, impedem que uma população inteira se revolte e diga, nas urnas, um claro BASTA. Depois, à mesa, no meio de uns copos e de uma refeição, nunca se faz um bom negócio. Mas as pessoas vão, enchem os espaços, ouvem e não podem questionar o "evangelho" segundo Jardim, portanto, permanecem anestesiadas, como convém ao poder. Até um dia que acordarão para a realidade!
1 comentário:
O eleitor médio madeirense acaba ao fim ao cabo por sentir uma enorme gratidão para com AJJ (não tanto com o partido), pessoa a quem associa todos os ganhos obtidos nestes últimos 30 e tal anos, isto sem reflectir nas consequências insustentáveis a médio-longo prazo do modelo de desenvolvimento (betão, betão e betão) entretanto seguido. O estilo popular do líder do PSD-M, a assunção do papel de paladino defensor dos direitos dos madeirenses e o uso da costante retórica do "nós" contra os "outros" dos rectângulo, acaba por estabelecer uma ligação e simpatia para com o eleitor comum, que tem apenas uma visão muito curta e centrada nos seus imediatos interesses (emprego, família, clube de futebol, etc.), ao invés de possuir uma visão mais ampla e de alcance, que lhe permita pensar sobre o rumo que a região está a tomar, as consequências da governação ou os custos da mesma para as gerações vindouras.
Todos sabemos o contexto da Madeira pré-autonomia e as razões que levaram o PSD-M ao poder e a consequente perpetuação por 33 anos. E o facto de termos a mais alta taxa de reprovações na escola, uma grande taxa de desistências no ensino básico e secundário, não são meras coincidências.
Olhando que temos uma sociedade com uma baixa confiança, muito passiva a nível cívico, creio que a reacção (por muito passiva que uma sociedade seja, há sempre escapes que acabam por acontecer) apenas acontecerá quando o eleitor comum começar a sentir realmente as consequências dos erros efectuados. Espero que não venha a ser muito tarde!
Enviar um comentário